|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Música conduz conturbadas relações de família
da Reportagem Local
Filmes ingleses
têm, tradicionalmente, uma grande
facilidade para retratar o patético e a
crueldade inseridos
nas relações familiares. "Laura, a
Voz de uma Estrela", de Mark
Herman, e "Hilary e Jackie", de
Anand Tucker, seguem a tradição
e compartilham, com brilho, o
uso da música como fio condutor.
"Laura" narra o fugaz brilho de
uma menina tímida que desperta
a curiosidade de um caça-talentos
do show business com sua ilimitada capacidade de imitar o canto
de divas como Marilyn Monroe,
Shirley Bassey e Judy Garland.
"Hilary e Jackie" enfoca a tempestuosa relação entre a violoncelista Jacqueline Du Pré, estrela da
música clássica morta em 1987,
aos 42 anos, vítima de esclerose
múltipla, e sua irmã, Hilary.
Enquanto "Laura" pinta com
tons fortes o retrato da opressão
que a garota sofre da mãe alcoólatra, "Hilary e Jackie" desnuda o
triângulo amoroso de Jackie com
a irmã e o cunhado. Os roteiros
não suavizam. Cada discussão é
marcada por agressões cruéis, palavras desferidas como golpes.
"Laura" tem muito mais chance
de cair no gosto popular. Há um
tom de fábula na luta para que o
talento da garota seja reconhecido, feito o patinho feio do conto
infantil. Já o confronto das irmãs
Du Pré vai da competição franca à
dependência doentia, num desfile
de personalidades angustiadas,
sôfregas e complementares. Na
incapacidade de uma viver sem a
outra, dividem o mesmo homem.
O maior destaque de "Laura" é
o magnífico trabalho dos atores.
Michael Caine brilha em sua composição do empresário falastrão e
decadente que vê em Laura sua
última chance de sucesso. Brenda
Blethyn (de "Segredos e Mentiras") representa a patética mãe da
cantora em mais um desempenho
empolgante. Mas é Jane Horrocks
que rouba a cena, usando sua técnica assombrosa de imitação para
reproduzir as vozes das grandes
estrelas. Só ela já vale o filme.
"Hilary e Jackie" traz atuações
magistrais de Emily Watson (J) e
Rachel Griffiths (H), mas foram
ofuscadas pela forte polêmica detonada pelo filme. Os músicos
que trabalharam com Du Pré revoltaram-se com o perfil do roteiro, supervisionado por Hilary.
A reclamação é compreensível,
mas "Hilary e Jackie" tem qualidades para justificar sua apreciação. Afinal, é mais uma prova de
como o cinema inglês sabe escancarar o lado sombrio da vida.
(THALES DE MENEZES)
Avaliação:
>Vídeo: Laura, a Voz de uma Estrela
Título original: Little Voice
Produção: Inglaterra, 1998
Distribuição: Paris
Avaliação:
Vídeo: Hilary e Jackie
Título original: Hilary and Jackie
Produção: Inglaterra, 1998
Distribuição: Buena Vista
Texto Anterior: A freira de sapatos altos Próximo Texto: Fernando Gabeira: Um olhar sobre o Brasil que anda em duas rodas Índice
|