São Paulo, quarta-feira, 06 de dezembro de 2000

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Movimento faz ato na Câmara de São Paulo e inspira ação em outras capitais do país

ARTE contra a barbárie
Lenise Pinheiro-26.jun.2000/Folha Imagem
Ato do movimento Arte contra a Barbárie, em junho deste ano, no teatro Oficina, em São Paulo



VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O nome é estrepitoso: Arte contra a Barbárie. Quando surgiu, em abril de 1999, muitos torceram o nariz para o movimento lançado por sete companhias de teatro de São Paulo.
Pois aquele primeiro manifesto, que picha a atual política cultural nas instâncias municipal, estadual e federal, "que mercantilizam a cultura", ressuscitou o espírito mobilizador da chamada classe teatral como não se via desde os anos 60 e início dos 70, quando a militância política dominava os palcos.
Em defesa da revisão das políticas culturais (ou ausência delas) voltadas para o teatro, o Arte contra a Barbárie superou divergências estéticas e ideológicas, vinculou-se a outras áreas (cinema, dança) e atraiu intelectuais como o geógrafo Milton Santos, o filósofo Paulo Arantes e a psicanalista Maria Rita Kehl.
Inspirou ainda outros movimentos em capitais como Belo Horizonte, Salvador, Rio de Janeiro e Florianópolis (veja quadro nesta página).
Hoje à tarde, o Arte contra a Barbárie protagoniza um ato público para protocolar, na Câmara Municipal, o Programa Municipal de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo.
É uma proposta de projeto de lei que resultou das reuniões quinzenais que começaram no teatro Aliança Francesa, ocupado pelo grupo Tapa, e depois foram transferidas para o teatro Oficina, do diretor José Celso Martinez Corrêa. O documento será apresentado por intermédio do vereador Vicente Cândido (PT).
Um dos pontos principais da proposta é a necessidade de uma ação cultural continuada para os núcleos estáveis de teatro. Ou seja, a chave é investir em projetos de pesquisas dramatúrgicas ou cênicas, e não somente na produção final (a montagem), como prega boa parte das leis de incentivo em vigor.
O primeiro dos três manifestos lançados pelo Arte contra a Barbárie critica a "visão mercadológica que transforma a obra de arte em produção cultural". "A maior das ilusões é supor a existência de um mercado", diz o documento (leia trechos abaixo).
Há alguns aspectos comuns entre os movimentos que estão surgindo no país. Eles se autodenominam suprapartidários, não têm uma liderança, procuram diálogo com outras áreas e se articulam para criar leis municipais. Todos ficaram atentos nas últimas eleições para conseguir apoio dos vencedores a suas propostas.
O ator e diretor Luiz Carlos Moreira, do grupo paulista Engenho Teatral, credita a onda de movimentos ao reflexo dos protestos de organizações não-governamentais ocorridos recentemente em encontros econômicos mundiais em Davos (Suíça) e Seattle (EUA). "De repente, as respostas ao discurso neoliberal começam a estourar por aqui", diz Moreira, 51, que estava afastado da militância há uma década e retorna motivado pelo Arte contra a Barbárie.
"Para onde vamos não sei, mas não estamos mais naquela letargia", diz o diretor. Estrepitoso.


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