São Paulo, quarta-feira, 06 de dezembro de 2000

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PERSONALIDADES

Sociedade carioca faz festa para ilustres

Roberto Marinho, Boni e Simão Isaac Benjó comemoram seus aniversários no Rio

MARIO SERGIO CONTI
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Daqui a muitos anos, quando tiver passado a moda das granadas militares que ora estouram em delegacias policiais, ainda estarão vivas nas rodas de fofocas três formidáveis festas cariocas da semana passada. Bicheiros e intelectuais, juízes e cantores, empresários e humoristas confraternizaram em salões da Gávea, do Rio Comprido e do Cosme Velho.

No Cosme Velho
No domingo, o poder formou uma longa fila de automóveis na rua do Cosme Velho, se identificou para os seguranças no portão de uma casa, deu a volta numa pracinha com uma fonte iluminada, desembarcou, percorreu o corredor da entrada, passou por quadros de Guignard, Pancetti, Di e Portinari. O poder então viu um homem sorridente, de terno escuro, e uma mulher elegante, de vestido verde. Era Roberto Marinho, que completava 96 anos, acompanhado de sua mulher, Lili.
O presidenciável Tasso Jereissati conversou com Antonio Carlos Magalhães sobre a disputa pela mesa do Senado. Paulo Maluf falou com o deputado Inocêncio Oliveira sobre a briga pela presidência da Câmara. Lázaro Brandão, do Bradesco, discutiu economia com Antônio Ermírio de Morais, da Votorantim. Paulo Henrique Cardoso, o filho do presidente, trocou amenidades com o empresário Olavo Monteiro de Carvalho, ex-genro de Fernando Collor. Jô Soares fez graça para Fernanda Montenegro.
Foram 240 os convidados para o jantar. O decorador Hélio Fraga cobriu o jardim da mansão, no sopé do Morro da Carioca, com um toldo de plástico transparente. No jardim, iluminado por Hans Donner, passeiam flamingos da África do Sul.
Todos jantaram sentados, em mesas para oito pessoas, no interior da casa, no terraço e no gramado. Não houve discursos. Depois do café, Roberto Marinho chamou seu velho amigo Jorge Serpa para uma conversa a sós numa saleta.
Era 1h quando saíram os últimos convidados. "Foi uma festa muito bonita", disse Roberto Marinho. "Vamos ver se a repetimos ano que vem."

Na Gávea
Cerca de 300 pessoas compareceram ao Gávea Golf Clube, na noite da última quinta-feira, para participar da festa surpresa em comemoração do 65º aniversário de José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, consultor especial e ex-vice-presidente da Rede Globo.
A festa foi organizada secretamente por Lou de Oliveira, mulher de Boni. O aniversariante chegou ao clube crente que iria jantar com uma dúzia de amigos. Em vez de 12 apóstolos, deparou-se com 285 amigos e amigas com modelos "esporte bonitinho", conforme estava estipulado no convite.
Numa mesa no terraço, estava o prefeito eleito do Rio, César Maia. Na mesa ao lado, Anísio Abraão e o capitão Guimarães, figurões da zootecnia que chefia escolas de samba e outros bichos, faziam-se acompanhar por senhoritas loiras que lhes tinham um terço da idade, metade do peso e o dobro da altura.
"A festa dá um bom painel da sociedade carioca", disse Boni, olhando em torno. "Parece uma escola de samba, com várias alas."
Como o aniversariante é hipocondríaco militante, a ala dos médicos era a mais numerosa. Havia mais de uma dezena deles. De cardiologistas a obstetras, todas as especialidades estavam representadas, frequentemente por mais de um nome. Até a bancada vienense se fez presente: o psicanalista Alberto Goldin pôde encontrar socialmente dezenas de seus clientes.
Em seguida, vinha a ala da gente de televisão: os atores Tony Ramos, Ney Latorraca, Dercy Gonçalves, Isadora Ribeiro e Glória Pires, os diretores Carlos Manga e Daniel Filho, o noveleiro Silvio de Abreu, o cômico Chico Anysio e os apresentadores Faustão e Glória Maria.
Boni é gourmet e enólogo, o que fez com que a ala dos donos de restaurantes estivesse bem fornida. José Hugo Celidônio, Claude Troisgros e Ricardo Amaral honravam as cores fluminenses. Os donos do Fasano, do Jardim de Napoli e do Cardinale saíram de São Paulo só para a festa.
Depois, vinha a ala dos músicos e afins: Sergio Mendes, Simone, Joana, Caetano Veloso, Miéle, Marcos Lázaro, Guilherme Araújo. Não esteve presente nenhum integrante da família Marinho nem tampouco Marluce Dias da Silva, a sucessora de Boni no cargo de manda-chuva da Globo. O aniversariante, no entanto, recebeu uma carta de cumprimento, escrita à mão, de Roberto Marinho.

No Rio Comprido
Choveu forte na sexta-feira. O túnel Rebouças foi interrompido, mas os congestionamentos não impediram mil pessoas de chegar ao Le Buffet, no Rio Comprido. Talvez porque o grosso dos convidados more na zona norte e nos subúrbios, e não nos bairros ricos da zona sul.
"Mil é um número mágico, e eu quis fazer uma festa para meus mil amigos", explicou o professor Simão Isaac Benjó, advogado e professor de direito.
O Le Buffet é um casarão encravado na encosta de um morro. A festa foi no primeiro andar, em quatro salões tomados por dezenas de mesas. Garçons serviam uísque, refrigerantes e salgadinhos. Para percorrer os quatro salões, gastava-se no mínimo meia hora, tal a quantidade de gente.
O barulho -um ruído incessante de mil pessoas falando alto, cantores que se esgoelavam num palco e dezenas de alto-falantes dessincronizados- era infernal. Não havia roupas de grife, aspirantes a celebridades, papos intelectuais nem colunistas sociais.
Pouco depois da meia-noite, entraram em cena alguns dos melhores técnicos de som do Rio. Trocaram microfones, caixas de retorno e alguns alto-falantes. Um dos amigos do professor resolvera cantar em sua homenagem.
Com palmas e gritos, os amigos de Benjó saudaram o artista João Gilberto, quando ele entrou no palco. O inventor da bossa nova fez brincadeiras, atendeu a pedidos para interpretar determinadas músicas e cantou "Parabéns" para o advogado. De graça. No horário em que combinara. Sem reclamar do som, mesmo porque ele estava direito.
Benjó representa o artista no processo contra a gravadora EMI por ter adulterado os seus três primeiros LPs. Mas a relação entre eles está longe de ser a comum entre advogado e cliente. João Gilberto considera o professor um sábio. "João é o Brasil, é a nossa arte, defendê-lo é defender o que o nosso povo tem de melhor", diz.



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