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TEATRO
Companhia que consagrou atores como Matheus Nachtergaele e Mariana Lima agora quer ter uma sede própria
Depois da trilogia bíblica, grupo pode focar budismo
DA REPORTAGEM LOCAL
A rigor, os dez anos do Teatro
da Vertigem deveriam ser comemorados agora em dezembro.
Afinal, foi nesse mês, em 1991, que
um grupo de ex-alunos recém-formados da Escola de Comunicações e Artes da USP aglutinava-se com um duplo foco: "realizar
um estudo do movimento por
meio da mecânica clássica e pesquisar o sagrado", lembra Antônio Araújo, diretor e um dos fundadores da companhia. Do grupo
faziam parte o iluminador Guilherme Bonfanti e os atores Vanderlei Bernardino, Lucienne Guedes e Joana Albuquerque.
Outro dos motivos da criação
da Vertigem foi justamente a decisão pelo trabalho comunitário e
com continuidade. "Na época isso
soava como coisa de hippies, hoje
o trabalho em grupo voltou a ser
comum", diz o diretor à Folha.
Outra vertente importante que
reuniu os ex-estudantes foi a necessidade de criar um grupo de
estudos. "Isso explica porque, em
dez anos, criamos só três espetáculos: foram longos processos de
pesquisa, naturalmente lentos."
Nessa questão, outro fator é determinante para que, apesar do
prestígio, apenas três espetáculos
tenham sido produzidos: a opção
pela apresentação em espaços
inusitados. "A busca pelos locais
requer sempre uma longa negociação", afirma Bonfanti.
Assim, para a primeira peça, o
"Paraíso Perdido", inspirado no
livro do Gênesis, foram nove meses de ensaio. Já na segunda peça,
"O Livro de Jó" (1995), que consagrou o ator Matheus Nachtergaele
e a atriz Mariana Lima, o processo
foi mais lento, durou 13 meses. Finalmente, "Apocalipse 1,11"
(2000) teve o mais longo processo, durou 19 meses. "Nossa opção
é por uma utopia e buscamos não
fazer concessões; o tempo é indiferente", diz o ator Sérgio Siviero,
um dos membros do núcleo atual.
Agora, como presente de dez
anos do grupo, a expectativa é a
conquista de uma sede. "Um espaço permanente coroaria nossa
trajetória", afirma Araújo.
A companhia tem visitado locais e aguarda resposta sobre alguns projetos. Recentemente, o
grupo foi convidado a ocupar um
dos teatros municipais de São
Paulo, mas recusou a proposta.
"Não queremos utilizar espaços
tradicionais", diz o diretor.
Para o novo espaço, as ambições são outras. "Além de um local para ensaios e pesquisas, pretendemos também realizar um
trabalho social com uma escola
técnica regular para a formação
de profissionais nas áreas de iluminação e som", conta Bonfanti.
Só então um novo processo de
criação deve ter início. Após a trilogia bíblica, não há ainda um tema definido. "Acho que agora será sobre o budismo, já que com a
Bíblia não nos salvamos", despista Siviero.
(FABIO CYPRIANO)
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