São Paulo, quinta-feira, 06 de dezembro de 2001

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TEATRO

Companhia que consagrou atores como Matheus Nachtergaele e Mariana Lima agora quer ter uma sede própria

Depois da trilogia bíblica, grupo pode focar budismo

DA REPORTAGEM LOCAL

A rigor, os dez anos do Teatro da Vertigem deveriam ser comemorados agora em dezembro. Afinal, foi nesse mês, em 1991, que um grupo de ex-alunos recém-formados da Escola de Comunicações e Artes da USP aglutinava-se com um duplo foco: "realizar um estudo do movimento por meio da mecânica clássica e pesquisar o sagrado", lembra Antônio Araújo, diretor e um dos fundadores da companhia. Do grupo faziam parte o iluminador Guilherme Bonfanti e os atores Vanderlei Bernardino, Lucienne Guedes e Joana Albuquerque.
Outro dos motivos da criação da Vertigem foi justamente a decisão pelo trabalho comunitário e com continuidade. "Na época isso soava como coisa de hippies, hoje o trabalho em grupo voltou a ser comum", diz o diretor à Folha.
Outra vertente importante que reuniu os ex-estudantes foi a necessidade de criar um grupo de estudos. "Isso explica porque, em dez anos, criamos só três espetáculos: foram longos processos de pesquisa, naturalmente lentos."
Nessa questão, outro fator é determinante para que, apesar do prestígio, apenas três espetáculos tenham sido produzidos: a opção pela apresentação em espaços inusitados. "A busca pelos locais requer sempre uma longa negociação", afirma Bonfanti.
Assim, para a primeira peça, o "Paraíso Perdido", inspirado no livro do Gênesis, foram nove meses de ensaio. Já na segunda peça, "O Livro de Jó" (1995), que consagrou o ator Matheus Nachtergaele e a atriz Mariana Lima, o processo foi mais lento, durou 13 meses. Finalmente, "Apocalipse 1,11" (2000) teve o mais longo processo, durou 19 meses. "Nossa opção é por uma utopia e buscamos não fazer concessões; o tempo é indiferente", diz o ator Sérgio Siviero, um dos membros do núcleo atual.
Agora, como presente de dez anos do grupo, a expectativa é a conquista de uma sede. "Um espaço permanente coroaria nossa trajetória", afirma Araújo.
A companhia tem visitado locais e aguarda resposta sobre alguns projetos. Recentemente, o grupo foi convidado a ocupar um dos teatros municipais de São Paulo, mas recusou a proposta. "Não queremos utilizar espaços tradicionais", diz o diretor.
Para o novo espaço, as ambições são outras. "Além de um local para ensaios e pesquisas, pretendemos também realizar um trabalho social com uma escola técnica regular para a formação de profissionais nas áreas de iluminação e som", conta Bonfanti.
Só então um novo processo de criação deve ter início. Após a trilogia bíblica, não há ainda um tema definido. "Acho que agora será sobre o budismo, já que com a Bíblia não nos salvamos", despista Siviero. (FABIO CYPRIANO)


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