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DISCO/LANÇAMENTO
Banda santista chega ao quinto CD, "Bocas Ordinárias"
Charlie Brown Jr. volta com peso e sem papas na língua
DA REPORTAGEM LOCAL
Haja sabão. Nem os prêmios e
homenagens que recebeu, o visual cada vez mais produzido, o
"mini-ramp" construído no quintal de casa e a popularidade que já
cruza o Atlântico conseguiram
amansar a fala dos skatistas do
Charlie Brown Jr., que despejam
nesta semana nas lojas o seu quinto CD, "Bocas Ordinárias".
"Tipo assim out side, tipo assim
meio pop / Eu tô cagando pra essa
porra de Ibope / Sou quem eu sou,
não sou quem você quer que eu
seja." Deu para ter uma idéia?
"Não tenho que ficar agradando
grupos anti-sexismo, antiviolência. Batalhei muito para chegar
aonde estou e não devo isso ao
apoio de nenhum grupo desse tipo", desabafa Chorão, 32, vocalista da banda, formada em 1997 na
baixada santista.
Produzido por Tadeu Patola,
que já havia trabalhado com a
banda em "Preço Curto... Prazo
Longo" (1999), o novo Charlie
Brown é fiel às raízes. Skate, hardcore e malandragem. Consciente,
mas nada politizado: "Eu não
quero ganhar pelo discurso forte.
Acho que rola muita hipocrisia
nessas bandas que se dizem engajadas. É fácil capitalizar em cima
da miséria dos outros".
O recado vem acompanhado
das guitarras cada vez mais pesadas de Marcão e da cozinha funkeada de Pelado e Champignon.
"Esse disco está mais parecido
com o que é o nosso show. Sempre tivemos uma sonoridade forte
de guitarra, mas nos primeiros
discos deixamos mais na mão do
produtor", analisa o vocalista,
que, desta vez, preferiu trabalhar
lado a lado com Patola.
Depois de cinco anos incitando
a doideira (no bom sentido?) da
molecada , em "Com a Boca
Amargando", Chorão canta agora
só procurar a sua paz: "O poço da
loucura é muito fundo / O jardim
da insanidade, cabe eu, você e todo mundo / Quando você não
mais servir, eles vão te esquecer /
Mas aí ganha quem sabe perder".
"Com Minha Loucura Faço
Meu Dinheiro, com Meu Dinheiro Faço Minhas Loucuras" segue
a mesma linha. Depois de tocar
tanto em "bocadas" quanto em
megafestivais, chegou a hora do
grupo enxergar a luz e -por que
não?- capitalizar os ganhos.
"O momento é bom, mas não
dá para falar que o território é
meu. O mercado da música é
muito instável, a pirataria está
fortíssima e as bandas de rock dos
anos 90, como o Charlie Brown, o
Planet Hemp e o Raimundos, ainda são discriminadas pelos meios
de comunicação", afirma Chorão.
Embora compreensível, a reclamação carrega uma certa parcela
de culpa. Mexendo na ferida da
classe média conservadora, a dos
mesmos pais cujos filhos compram os discos do CBJ, abusando
de discursos beirando o sexismo e
a molecagem, Charlie Brown e
cia. parecem pouco preocupados
em resolver o suposto paradoxo.
"O sexo está muito mais na dança da bundinha, na sexualidade
precoce que a televisão propõe,
do que num clipe escrachado em
que aparece uma mulher com os
peitos de fora", defende Chorão.
O videoclipe em questão é o novo "Papo Reto (Prazer É Sexo, o
Resto É Negócio)", dirigido pelo
"Hermes e Renato" Gus e que já
está na programação da MTV.
Num boteco tosco bem anos 80,
ouvem-se gemidos de um casal,
não enquadrado pela câmera. Ao
final da música, focalizados, os
dois estão de roupa, e a mulher escancara os seios para a audiência.
Assim mesmo, sem papas na
língua, de boca ordinária. "Essa é
uma expressão que um crítico
português usou para se referir ao
nosso show no Festival Sudoeste,
em Portugal. Ele usou isso para
dizer que no palco, além de muita
energia, havia "bocas ordinárias",
ou seja, muito palavrão, gírias e
um discurso contundente."
(DIEGO ASSIS)
BOCAS ORDINÁRIAS. Artista: Charlie
Brown Jr. Lançamento: EMI. Quanto: R$
27, em média.
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