São Paulo, sexta-feira, 06 de dezembro de 2002

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DISCO/LANÇAMENTO

Banda santista chega ao quinto CD, "Bocas Ordinárias"

Charlie Brown Jr. volta com peso e sem papas na língua

DA REPORTAGEM LOCAL

Haja sabão. Nem os prêmios e homenagens que recebeu, o visual cada vez mais produzido, o "mini-ramp" construído no quintal de casa e a popularidade que já cruza o Atlântico conseguiram amansar a fala dos skatistas do Charlie Brown Jr., que despejam nesta semana nas lojas o seu quinto CD, "Bocas Ordinárias".
"Tipo assim out side, tipo assim meio pop / Eu tô cagando pra essa porra de Ibope / Sou quem eu sou, não sou quem você quer que eu seja." Deu para ter uma idéia?
"Não tenho que ficar agradando grupos anti-sexismo, antiviolência. Batalhei muito para chegar aonde estou e não devo isso ao apoio de nenhum grupo desse tipo", desabafa Chorão, 32, vocalista da banda, formada em 1997 na baixada santista.
Produzido por Tadeu Patola, que já havia trabalhado com a banda em "Preço Curto... Prazo Longo" (1999), o novo Charlie Brown é fiel às raízes. Skate, hardcore e malandragem. Consciente, mas nada politizado: "Eu não quero ganhar pelo discurso forte. Acho que rola muita hipocrisia nessas bandas que se dizem engajadas. É fácil capitalizar em cima da miséria dos outros".
O recado vem acompanhado das guitarras cada vez mais pesadas de Marcão e da cozinha funkeada de Pelado e Champignon.
"Esse disco está mais parecido com o que é o nosso show. Sempre tivemos uma sonoridade forte de guitarra, mas nos primeiros discos deixamos mais na mão do produtor", analisa o vocalista, que, desta vez, preferiu trabalhar lado a lado com Patola.
Depois de cinco anos incitando a doideira (no bom sentido?) da molecada , em "Com a Boca Amargando", Chorão canta agora só procurar a sua paz: "O poço da loucura é muito fundo / O jardim da insanidade, cabe eu, você e todo mundo / Quando você não mais servir, eles vão te esquecer / Mas aí ganha quem sabe perder".
"Com Minha Loucura Faço Meu Dinheiro, com Meu Dinheiro Faço Minhas Loucuras" segue a mesma linha. Depois de tocar tanto em "bocadas" quanto em megafestivais, chegou a hora do grupo enxergar a luz e -por que não?- capitalizar os ganhos.
"O momento é bom, mas não dá para falar que o território é meu. O mercado da música é muito instável, a pirataria está fortíssima e as bandas de rock dos anos 90, como o Charlie Brown, o Planet Hemp e o Raimundos, ainda são discriminadas pelos meios de comunicação", afirma Chorão.
Embora compreensível, a reclamação carrega uma certa parcela de culpa. Mexendo na ferida da classe média conservadora, a dos mesmos pais cujos filhos compram os discos do CBJ, abusando de discursos beirando o sexismo e a molecagem, Charlie Brown e cia. parecem pouco preocupados em resolver o suposto paradoxo.
"O sexo está muito mais na dança da bundinha, na sexualidade precoce que a televisão propõe, do que num clipe escrachado em que aparece uma mulher com os peitos de fora", defende Chorão.
O videoclipe em questão é o novo "Papo Reto (Prazer É Sexo, o Resto É Negócio)", dirigido pelo "Hermes e Renato" Gus e que já está na programação da MTV. Num boteco tosco bem anos 80, ouvem-se gemidos de um casal, não enquadrado pela câmera. Ao final da música, focalizados, os dois estão de roupa, e a mulher escancara os seios para a audiência.
Assim mesmo, sem papas na língua, de boca ordinária. "Essa é uma expressão que um crítico português usou para se referir ao nosso show no Festival Sudoeste, em Portugal. Ele usou isso para dizer que no palco, além de muita energia, havia "bocas ordinárias", ou seja, muito palavrão, gírias e um discurso contundente."
(DIEGO ASSIS)


BOCAS ORDINÁRIAS. Artista: Charlie Brown Jr. Lançamento: EMI. Quanto: R$ 27, em média.


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