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CINEMA/ESTRÉIA
"ÔNIBUS 174"
Diretor diz que documentário exemplifica violência do Estado
Filme desvenda a vida do sequestrador do coletivo
DA REPORTAGEM LOCAL
"Isso aqui não é filme não", disse e repetiu o sequestrador Sandro do Nascimento, ao manter
como reféns passageiros da linha
174, no dia 12 de junho de 2000, no
Rio. "Ônibus 174" é o filme da vida de Sandro, que estréia hoje em
São Paulo e está em cartaz no Rio
há nove semanas.
Dirigido por José Padilha, o documentário narra a ocorrência
policial (e midiática) que foi o sequestro, além da história do criminoso -desde a infância em
que viu a mãe ser assassinada, aos
8, e a subsequente trajetória nas
ruas. "Eu queria contar essas duas
coisas em paralelo", diz Padilha.
Com a justaposição, o diretor
acredita ter exemplificado uma
tese: "O Estado produz violência
ativamente no Brasil". A crítica de
Padilha é principalmente à "escola do crime" em que se transformou o sistema prisional brasileiro, que Sandro conheceu desde
garoto, quando praticava pequenos furtos na zona sul carioca.
"O Estado prende um menor. O
cara tem 15 anos. Vai para um
centro de reabilitação de menores. O Estado pesquisa seu histórico. Descobre se o cara é traficante,
se é assassino ou se bateu uma
carteira. Mesmo sabendo disso,
manda todo mundo para um lugar só", diz.
Menino de rua
"O Sandro era um menino de
rua, que viu seus amigos assassinados por policiais na Candelária,
bateu uma carteira e foi para o
Instituto Padre Severino, colocado em contato com marginais, sequestradores e assaltantes", diz.
O diretor chegou a imaginar
que "algumas pessoas poderiam
ficar chateadas com o filme e pensar que ele tentava justificar as
ações do Sandro". Mas diz que
"os espectadores o entenderam
como uma tentativa de explicação, e não de justificação dos
eventos que levaram o Sandro a se
comportar daquela forma".
Na reconstituição da vida do sequestrador, Padilha localizou sua
família, companheiros da vida
nas ruas e até imagens de uma roda de capoeira que frequentou.
Reféns, policiais e o marido da recreadora Geísa Gonçalves, assassinada, dão depoimentos.
A atuação da polícia fica na berlinda. Mas Padilha diz que nem o
comandante da operação, nem a
Secretaria de Segurança do Rio,
nem o Palácio da Guanabara aceitaram seu convite para participar
do filme.
Escalado para a seção de documentários do Festival de Sundance do ano que vem, "Ônibus 174"
deve ter distribuição comercial
nos Estados Unidos. O diretor
viajou esta semana para Nova
York, onde negocia com distribuidoras como a Miramax e a
Sony Classics.
Em exibições anteriores para
platéias americanas, Padilha percebeu que o "o filme é acompanhado como se fosse um thriller,
porque eles não sabem o final".
Já os brasileiros entram no cinema conhecendo de antemão o
desfecho trágico do assassinato de
Geísa e Sandro. Nem por isso
"Ônibus 174" deixa de ser uma
surpresa.
(SA)
Veja fotos do sequestro e assista ao
trailer do filme na Ilustrada Online
(www.folha.com.br/ilustrada)
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