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Crítica
"Mau roteiro" gera filme original e apavorante
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
O mito da década, no cinema
brasileiro, tem sido o "bom roteiro", também conhecido como "a boa história". Queremos
dela, além de ficção, clareza e
coerência mais ou menos permanentes.
Bem, daí deriva uma dramaturgia sem vida, como tem sido
a nossa mais recentemente,
mas onde todos os elementos
(inclusive os viventes) existem
para se ajustar mutuamente.
Vejamos agora uma história:
secretária que precisa de dinheiro para casar rouba o patrão e sai pela estrada. Entra
num desvio e dá num motel duvidoso. Instala-se ali e, enquanto toma banho, é brutalmente
assassinada. Esta é a primeira
meia hora, mais ou menos, de
"Psicose" (TCM, 23h). Depois,
o filme vira outra coisa: a investigação em torno do crime e do
criminoso, a possibilidade de
novos assassinatos etc.
Este "mau roteiro" permitiu
a Hitchcock criar um dos mais
apavorantes e também mais
originais filmes jamais feitos.
O novo e o eterno nunca são
uma receita.
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