São Paulo, segunda-feira, 07 de janeiro de 2002

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GASTRONOMIA

O badalado Samuelsson fala sobre comida e sua herança etíope

Chef do Aquavit de NY mostra sua cozinha em SP

THIAGO NEY
DA REDAÇÃO

Considerado um dos papas da gastronomia moderna, o chef Marcus Samuelsson, do badalado Aquavit, de Nova York, apresenta em São Paulo, amanhã e quarta, sua criativa cozinha escandinava, no bistrô Payard.
Com cotação máxima no "The New York Times", e eleito o quinto solteiro mais cobiçado do mundo pela revista "People", em 1999 (o primeiro era George Clooney), o etíope (e ainda solteiro) Samuelsson, 31, conversou com a Folha, por telefone, dos EUA.

Folha - Será sua segunda visita ao Brasil. Que lembrança tem do país?
Marcus Samuelsson -
Estive duas semanas na Amazônia, em 92. Foi ótimo, a comida era boa, pessoas amigáveis. A primeira coisa que associo ao Brasil é o futebol, além da comida. Pelé, Zico... Vocês são campeões do mundo toda hora!

Folha - E a comida brasileira?
Samuelsson -
Sei que a cozinha baiana é muito similar à de Moçambique, os temperos. Conheço vários chefs que já estiveram no Brasil, e eles me contam.

Folha - O sr. nasceu na Etiópia e foi criado na Suécia. Por quê?
Samuelsson -
Meus pais morreram de tuberculose, em Adis Abeba, quando eu tinha três anos. Então um casal sueco me adotou e fui morar em Gotemburgo.

Folha - E a culinária escandinava?
Samuelsson -
Ela é baseada em peixe, carne de caça e técnicas de conservação, como picles e defumados. Eu priorizo a imagem, a temperatura, a textura e o paladar, que é o mais importante.

Folha - Há alguma influência etíope em sua cozinha?
Samuelsson -
Um pouco, nos temperos. Acho que a cozinha africana será a próxima moda. Já tentamos japonesa, asiática e até sul-americana. Agora é boa hora de tentar a africana. Quero usar ingredientes brasileiros também.

Folha - O sr. retornou à Etiópia?
Samuelsson -
Vou lá todo ano, com a Unicef. Organizamos jantares e a renda é doada a entidades carentes. Há ainda muita miséria, mas o povo tem muita dignidade, espiritualidade, coisas que não vemos no Ocidente.

Folha - O sr. diz adorar Pelé. Ele já foi ao seu restaurante?
Samuelsson -
Uma vez, há uns quatro anos. Mas não conversei com ele, não queria incomodar.

Folha - O Aquavit é muito visitado por celebridades e gente que quer ser vista. Isso o incomoda?
Samuelsson -
O importante é combinar isso, fazer com que essas celebridades amem a comida.

Folha - Uma refeição no Aquavit custa cerca de US$ 90. Se o sr. tivesse apenas US$ 10 para comer, em Nova York, iria a um fast-food?
Samuelsson -
De jeito nenhum! Iria a Chinatown [bairro chinês". Você consegue lá uma bela refeição por menos que isso.




MARCUS SAMUELSSON - bistrô Payard (r. Prof. Arthur Ramos, 777, tel. 0/xx/11/ 3816-3669). Quando: amanhã e quarta, almoço e jantar (é recomendável reservar antes). Quanto: por pessoa, R$ 50 (almoço) e R$ 90 (jantar).



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