São Paulo, sexta-feira, 07 de janeiro de 2005

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"O GRITO"

Refilmagem de terror japonês perde o susto com truques velhos

PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA

A grande máquina de reciclagem de Hollywood descobriu uma nova mina de ouro: os filmes de terror japoneses. Depois de ter emplacado a refilmagem de "Ringu" ("O Chamado", com orçamento de US$ 45 milhões e rentabilidade mundial de US$ 230 milhões), chegou a vez de "O Grito", nova versão de "Ju-on", de Takeshi Shimizu (orçamento de US$ 10 milhões e rentabilidade, só nos EUA, de US$ 110 milhões).
O dado mais curioso, neste caso, é que os produtores preferiram contratar o mesmo diretor do original e manter os cenários japoneses. No atual contexto do cinema norte-americano essas são decisões arriscadas, realmente dignas de atenção.
Entre outras coisas, "O Grito" traz uma estrutura temporal não-linear em que o espectador é convidado a montar um quebra-cabeça complicado. Enquanto qualquer filme de terror ou suspense exige explicação para tudo, a maior parte dos filmes japoneses do gênero são pura atmosfera e susto. Pelo menos em parte, essa característica se mantém.
A principal adaptação da história é a transformação da heroína em uma loura meio sonsa (a jovem vivida por Sarah Michelle Gellar) que, de passagem por Tóquio, vai parar em uma casa mal-assombrada, onde é aterrorizada por fantasmas japoneses. Não fantasmas quaisquer, mas almas tristes e rancorosas de pessoas que foram vítimas de mortes brutais e se recusam a desgarrar do local em que morreram.
Um enredo simples que ganha contornos mais sombrios quando se pensa na complicada relação entre Estados Unidos e Japão, assombrada pelo fantasma real das tantas mortes causadas por dois ataques nucleares.
Afora paralelos inevitáveis, Shimizu não chega a criar um conjunto que realize o potencial dos filmes sobrenaturais, que é a vontade de chegar ao invisível.
Preso à necessidade de assustar e, a partir de certo momento, de explicar a história, ele alterna momentos inspirados a outros frágeis. Recorre, por exemplo, ao susto do gato no armário, um dos mais velhos e reconhecíveis truques dos filmes de terror. Mas, por outro lado, obtém resultados interessantíssimos na aparição dos fantasmas -causando arrepios genuínos.


O Grito
The Grudge
  
Direção: Takashi Shimizu
Produção: EUA/Japão, 2004
Com: Sarah Michelle Gellar, Bill Pullman, Ryo Ishibashi
Quando: a partir de hoje nos cines Anália Franco, Bristol, Interlagos, Paulista e circuito



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