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"O GRITO"
Refilmagem de terror japonês perde o susto com truques velhos
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA
A grande máquina de reciclagem de Hollywood descobriu uma nova mina de ouro: os
filmes de terror japoneses. Depois
de ter emplacado a refilmagem de
"Ringu" ("O Chamado", com orçamento de US$ 45 milhões e rentabilidade mundial de US$ 230
milhões), chegou a vez de "O Grito", nova versão de "Ju-on", de
Takeshi Shimizu (orçamento de
US$ 10 milhões e rentabilidade, só
nos EUA, de US$ 110 milhões).
O dado mais curioso, neste caso,
é que os produtores preferiram
contratar o mesmo diretor do original e manter os cenários japoneses. No atual contexto do cinema
norte-americano essas são decisões arriscadas, realmente dignas
de atenção.
Entre outras coisas, "O Grito"
traz uma estrutura temporal não-linear em que o espectador é convidado a montar um quebra-cabeça complicado. Enquanto qualquer filme de terror ou suspense
exige explicação para tudo, a
maior parte dos filmes japoneses
do gênero são pura atmosfera e
susto. Pelo menos em parte, essa
característica se mantém.
A principal adaptação da história é a transformação da heroína
em uma loura meio sonsa (a jovem vivida por Sarah Michelle
Gellar) que, de passagem por Tóquio, vai parar em uma casa mal-assombrada, onde é aterrorizada
por fantasmas japoneses. Não
fantasmas quaisquer, mas almas
tristes e rancorosas de pessoas
que foram vítimas de mortes brutais e se recusam a desgarrar do
local em que morreram.
Um enredo simples que ganha
contornos mais sombrios quando
se pensa na complicada relação
entre Estados Unidos e Japão, assombrada pelo fantasma real das
tantas mortes causadas por dois
ataques nucleares.
Afora paralelos inevitáveis, Shimizu não chega a criar um conjunto que realize o potencial dos
filmes sobrenaturais, que é a vontade de chegar ao invisível.
Preso à necessidade de assustar
e, a partir de certo momento, de
explicar a história, ele alterna momentos inspirados a outros frágeis. Recorre, por exemplo, ao
susto do gato no armário, um dos
mais velhos e reconhecíveis truques dos filmes de terror. Mas,
por outro lado, obtém resultados
interessantíssimos na aparição
dos fantasmas -causando arrepios genuínos.
O Grito
The Grudge
Direção: Takashi Shimizu
Produção: EUA/Japão, 2004
Com: Sarah Michelle Gellar, Bill Pullman,
Ryo Ishibashi
Quando: a partir de hoje nos cines
Anália Franco, Bristol, Interlagos,
Paulista e circuito
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