São Paulo, Quinta-feira, 07 de Janeiro de 1999
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MÚSICA
Cantor estréia amanhã, no Rio, o show "Olhos de Farol", com canções de autores pouco difundidos pela mídia
Ney Matogrosso volta ao universo pop

Ana Carolina Fernandes/Folha Imagem
O cantor Ney Matogrosso, que está lançando o disco "Olhos de Farol"


PEDRO ALEXANDRE SANCHES
enviado especial ao Rio

O filho pródigo volta ao chão de origem. Depois de dez anos imerso na sisudez instrumental e de repertório, Ney Matogrosso, 57, volta, em "Olhos de Farol", ao universo que ele denomina pop-rock.
Foi nesse território que tudo começou, quando, em 73, veio a público liderando o grupo Secos & Molhados em inédita fusão de tropicalismo, rock progressivo e glitter (o rock masculino sexualmente ambíguo e vestido de penas).
"Surgi no pop e enveredei pela MPB porque me interessava mergulhar no passado musical brasileiro", diz o intérprete, que a partir de 1987 dedicou-se a releituras num espectro que varreu Cartola, Noel Rosa, Angela Maria, Chico Buarque, Tom Jobim e Heitor Villa-Lobos.
Tal fase correspondeu a uma fuga do estereótipo "Homem com H" (82), que ele carregava até então? "Eu tinha muitos pudores de cantar Secos & Molhados. Achava que era facilitar demais. Agora estou dando uma arejada de novo."
"Olhos de Farol" é disco em que predominam canções -poucas delas inéditas- de autores pouco difundidos no grande mercado. Ele abrange, aí, de eternos vanguardistas, como Itamar Assumpção e Luiz Tatit, a nomes da safra dos 90, como Pedro Luís, Samuel Rosa (Skank), Paulinho Moska e Beto Lee (autor, com a mãe Rita, de "Vira-Lata de Raça").
"Após dez anos sem lançar nada inédito, quis apresentar vários compositores em quem a grande mídia não presta atenção", justifica.
Entre os novos que teve para escolher, diz só ter feito uma restrição. "A única coisa que pedi foi para que não houvesse nenhuma referência à música baiana. Já há muita no ar, o mercado é generoso. Eu não preciso fazer", afirma.

Tecno e Marilyn Manson
Ney justifica a opção por timbres percussivos e de tez latina em "Olhos de Farol": "Queria que fosse dançante, mas não tecno. Queria gente tocando".
Algo contra gêneros eletrônicos contemporâneos? "Aquele martelo não me agrada. É mecânico, não tem alma. É só para ficar doidão dançando."
Por falar nisso, o que pensa ele sobre o andrógino Marilyn Manson, uma espécie de Ney fase Secos & Molhados do final do século? "Acho execrável, de mau gosto. Para mexer com esse arquétipo, tem que ser no mínimo atraente. No Brasil não há mais espaço para uma coisa dessas. Serve para lá (EUA), lá a barra é pesada."
É finita, então, a era de choque, contestação e rebeldia que ele peitava no início dos 70?
"Esta época é mais careta, um momento de recessão de espírito e expressão. Eu mesmo não sou mais aquele maluco que eu era. Não me interessa mais desafiar nenhuma instituição. Não vou derrubar governo fazendo isso", conforma-se.
O jornalista Pedro Alexandre Sanches viajou a convite da gravadora PolyGram.



Show: Ney Matogrosso Onde: Metropolitan (av. Ayrton Senna, 3.000, Rio de Janeiro) Quando: estréia amanhã (dia 8); quintas, às 21h30, sextas e sábados, às 22h30, e domingos, às 20h30; até dia 17 Quanto: R$ 25 a R$ 50
O colunista Eduardo Giannetti está em férias





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