São Paulo, quarta-feira, 07 de fevereiro de 2001

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Bahman Ghobadi é expectativa do país no Oscar 2001

ESPECIAL PARA A FOLHA, EM TEERÃ

Em agosto de 1978, 400 pessoas morreram queimadas no cinema Rex, na cidade de Abadan, em atentado instigado pelos religiosos mulahs, que acreditavam que as salas de cinema eram símbolos do demônio. Isso porque concorriam com as mesquitas na disputa por frequentadores e mostravam cenas com mulheres aparecendo sem véus, dançando e cantando.
Hoje, 23 anos depois, o regime islâmico usa o cinema para melhorar a imagem do Irã no Ocidente. Fomenta produções por leis de incentivo, realiza festivais e cria organismos como a Fundação Farabi.
Pela segunda vez em três anos, a fundação promove um filme: "Tempo de Embebedar Cavalos", de Bahman Ghobadi, que dividiu o Camera D'Or do Festival de Cannes do ano passado com o também iraniano "Djomeh".
O filme de Ghobadi igualmente dividiu o principal prêmio da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, desta vez com o inglês "Billy Elliot" e o português "Capitães de Abril". Mas o grande prêmio Ghobadi pode receber no dia 13 de fevereiro, quando saírem as indicações para os cinco concorrentes ao Oscar de melhor filme estrangeiro.
Bahman Ghobadi, um curdo nascido no vilarejo chamado Bareh (no Curdistão iraniano), foi assistente de direção de Abbas Kiarostami em "O Vento nos Levará" e ator em "O Quadro-Negro", de Samira Makhmalbaf.
Seu filme não participa do festival (o regulamento não permite, pois o filme já esteve em cartaz no Irã), mas Ghobadi é o diretor mais assediado. Aos 32 anos, concedeu a seguinte entrevista à Folha. (IP)

Folha - Qual é o seu lobby para ganhar votos da Academia?
Bahman Ghobadi -
Não tenho lobby. Os distribuidores é que estão lá nos Estados Unidos fazendo o que podem. Não acredito que tenha muitas chances, pois é uma concorrência difícil.

Folha - O título "Tempo de Embebedar Cavalos" se refere à necessidade que os donos dos cavalos e mulas têm de colocar álcool na água para dar mais resistência durante o frio da região do Curdistão. Qual sua intenção?
Ghobadi -
Foi passar a idéia que também as crianças da história precisam de uma força extra para enfrentar as dificuldades da situação. No caso deles, o amor que cada um sente pelo outro foi o combustível.

Folha - Quanto custou seu filme?
Ghobadi -
Custou US$ 130 mil, conseguidos por financiamentos bancários e gastos durante os dois anos de produção.

Folha - Mas, agora, para promovê-lo nos Estados Unidos, o valor será bem diferente...
Ghobadi -
Melhor não saber (risos).

Folha - Seu próximo projeto também será rodado no Curdistão?
Ghobadi -
Sim, é minha terra, é do que quero falar. Não tem título ainda, mas estou trabalhando no roteiro e devo começar as filmagens em dois ou três meses. É sobre três músicos curdos que viajam do Irã para o Iraque, na região curda.


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