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ARTES PLÁSTICAS
Mesmo restrita, retrospectiva do artista é esclarecedora
Exposição recupera os "embates" de Leirner
FELIPE CHAIMOVICH
CRÍTICO DA FOLHA
Q uem tem medo de Nelson
Leirner? A concisa retrospectiva do artista ajuda a responder essa questão, esclarecendo
procedimentos exemplares para a
arte contemporânea paulistana.
"Enfant terrible" desde os anos
60, o artista coleciona uma série
de embates famosos. Em 1980,
brigou com uma galeria que iria
exibir a série de desenhos eróticos
"Pague para Ver", exposta no mezanino da Brito Cimino. No mesmo andar estão também as intervenções pornográficas em fotos
infantis que lhe valeram uma querela judicial sobre pedofilia em 98.
Leirner formou grande parte
dos artistas em meio de carreira
que hoje produzem na cidade.
Transmitiu-lhes a experiência da
revisão radical a que o objeto de
arte foi submetido após o golpe
militar e a censura.
O uso da imagem como instrumento do poder aparece seja na
crítica da opressão política, seja
na ironização do bom gosto.
Por um lado, a moda aparece
autoritária nos ternos agigantados de 73. O engajamento durante o regime militar manteve o artista como um sobrevivente ao
desmantelamento da Nova Objetividade Brasileira após o AI-5.
Por outro, o gosto pela abstração funde-se ao provincianismo
na série "Construtivismo Rural"
-a mesma levada à penúltima
Bienal de Veneza. Quadros famosos servem de esquema para tapeçarias com pele de vaca.
A mostra revisita obras marcantes, como a "Homenagem a Fontana". Um sistema de zíperes permite abrir e fechar camadas de tecido sobre um quadro, procedimento que originou um vestido
com alturas destacáveis desenhado por Leirner para um suplemento feminino em 1968.
Os trabalhos inéditos lidam
com a banalização da violência.
As caixas de "Bala Perdida" compõem uma combinatória escultórica de balas saídas de revólveres
de brinquedo, que flutuam em tubos como notas de uma pauta
musical. Noutro trabalho de 2001,
a confusão entre messianismo e
realidade emerge do agrupamento de balas, imagens religiosas e
armas em miniaturas plásticas.
O exame do sentido atual da
obra de Leirner possibilita uma
reflexão esclarecedora, dada a
abrangência de linhas de pesquisa
abertas. Mesmo restrita, a mostra
varre o principal período de produção do artista.
Nelson Leirner
Onde: galeria Brito Cimino (r. Gomes de
Carvalho, 842, São Paulo, tel. 0/xx/11/
3842-0634)
Quando: de ter. a sáb., das 11h às 19h;
até 8/2
Quanto: entrada franca
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