São Paulo, quinta-feira, 07 de fevereiro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ARTES PLÁSTICAS

Mesmo restrita, retrospectiva do artista é esclarecedora

Exposição recupera os "embates" de Leirner

FELIPE CHAIMOVICH

CRÍTICO DA FOLHA

Q uem tem medo de Nelson Leirner? A concisa retrospectiva do artista ajuda a responder essa questão, esclarecendo procedimentos exemplares para a arte contemporânea paulistana.
"Enfant terrible" desde os anos 60, o artista coleciona uma série de embates famosos. Em 1980, brigou com uma galeria que iria exibir a série de desenhos eróticos "Pague para Ver", exposta no mezanino da Brito Cimino. No mesmo andar estão também as intervenções pornográficas em fotos infantis que lhe valeram uma querela judicial sobre pedofilia em 98.
Leirner formou grande parte dos artistas em meio de carreira que hoje produzem na cidade. Transmitiu-lhes a experiência da revisão radical a que o objeto de arte foi submetido após o golpe militar e a censura.
O uso da imagem como instrumento do poder aparece seja na crítica da opressão política, seja na ironização do bom gosto.
Por um lado, a moda aparece autoritária nos ternos agigantados de 73. O engajamento durante o regime militar manteve o artista como um sobrevivente ao desmantelamento da Nova Objetividade Brasileira após o AI-5.
Por outro, o gosto pela abstração funde-se ao provincianismo na série "Construtivismo Rural" -a mesma levada à penúltima Bienal de Veneza. Quadros famosos servem de esquema para tapeçarias com pele de vaca.
A mostra revisita obras marcantes, como a "Homenagem a Fontana". Um sistema de zíperes permite abrir e fechar camadas de tecido sobre um quadro, procedimento que originou um vestido com alturas destacáveis desenhado por Leirner para um suplemento feminino em 1968.
Os trabalhos inéditos lidam com a banalização da violência. As caixas de "Bala Perdida" compõem uma combinatória escultórica de balas saídas de revólveres de brinquedo, que flutuam em tubos como notas de uma pauta musical. Noutro trabalho de 2001, a confusão entre messianismo e realidade emerge do agrupamento de balas, imagens religiosas e armas em miniaturas plásticas.
O exame do sentido atual da obra de Leirner possibilita uma reflexão esclarecedora, dada a abrangência de linhas de pesquisa abertas. Mesmo restrita, a mostra varre o principal período de produção do artista.

Nelson Leirner
   
Onde: galeria Brito Cimino (r. Gomes de Carvalho, 842, São Paulo, tel. 0/xx/11/ 3842-0634)
Quando: de ter. a sáb., das 11h às 19h; até 8/2
Quanto: entrada franca



Texto Anterior: Livros: Erika Palomino autografa hoje "A Moda"
Próximo Texto: "Arte e não-arte" Venda garantida, arte compromissada e comercialismo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.