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Caça às palavras
Setor de dicionários explode com o novo "Aurélio", volta da Larousse e obra "infinita" da Nova Fronteira
CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Tem algo se mexendo na outrora tranqüila toca dos dicionários.
E não é bicho pequeno, não. Um
dos segmentos tradicionalmente
mais estáveis do mercado editorial brasileiro, dominado por
mais de 20 anos pelo "Aurélio",
está passando por um de seus períodos de maior efervescência.
Uma movimentação que começou em 2001, com o lançamento
do "Houaiss", e embalou no final
de 2003, com a mudança do "Aurélio" da Nova Fronteira para o
grupo educacional paranaense
Positivo, terá nos próximos meses
(e anos) um calendário repleto.
A temporada de caça foi aberta
oficialmente há duas semanas.
Foi quando a Nova Fronteira, que
lançou o catatau de Aurélio Buarque de Holanda em 1975 e a publicou por 28 anos, fechou na surdina a compra do tradicional dicionário português "Caldas Aulete",
de 200 mil verbetes (mesma
quantidade do "Michaelis" -o
"Aurélio" tem 160 mil e o
"Houaiss", 228 mil).
O que poderia ser apenas a reedição revisada de uma obra de referência conhecida agora se insinua como apenas cocuruto de um
monumental iceberg lingüístico.
"A compra do "Aulete" é parte
de um projeto que temos de desenvolver, um banco de dados
que tende a ser tão abrangente
quanto a língua portuguesa em
qualquer parte do mundo em todos os tempos", diz, sem meias
palavras, Paulo Geiger. "É o ponto
de partida, não de chegada."
Profissional experimentado da
área de dicionários e enciclopédias, com passagens pela "Barsa",
"Mirador", "Delta Universal", entre outras, o editor de obras de referência da Nova Fronteira afirma
que o projeto é "ilimitado".
À frente da equipe de 25 pessoas, ele vem trabalhando no que
chama "acervo totalizante da língua portuguesa", um enorme arquivo eletrônico de palavras, de
onde poderiam ser feitos diversos
modelos de dicionários -algo semelhante ao que faz o Instituto
Antonio Houaiss, que a partir de
uma base eletrônica organizou,
para a editora Objetiva, livros de
sinônimos e verbos, entre outros.
O primeiro fruto do novo projeto da Nova Fronteira, diz seu diretor-presidente, Carlos Augusto
Lacerda, sai ainda no segundo semestre deste ano. O rebento ainda
não tem nome certo. O título
"Caldas Aulete", sobrenome do
lexicógrafo que organizou a equipe que fez o "Dicionário Contemporâneo da Língua Portuguesa"
no final do século 19 -e que nem
viu seu trabalho concluído-, não
está descartado.
O primeiro formato da nova família de "pais-dos-burros", apelido que os próprios dicionários já
registram para eles mesmos, deve
ser o chamado "escolar", molde
com mais liquidez nas livrarias e
com maior saída nas gigantescas
compras governamentais (foi este
também o formato de estréia do
"Aurélio" no grupo Positivo, lançado anteontem).
Mas o xodó da nova empreitada
deve ser a sua versão eletrônica,
que teria "atualização permanentemente". Esse caráter de "obra
aberta", conceito emprestado de
Umberto Eco, é o que faz do projeto, no entender de Lacerda, algo
revolucionário. "Seguimos a infinitude da língua. A língua é viva."
E se ela não termina nunca por
que é que todos resolveram se dedicar a ela hoje no Brasil, trabalhando em novos ou atualizados
dicionários? Lacerda, que acompanha o ramo "dicionaresco"
desde a versão do Aurélio de capa
amarela, nos anos 70, tem diversas interpretações. Todas passam
pela necessidade que cada empresa tem de criar alternativas para a
retração do mercado em geral.
Mas a ebulição nesse segmento
editorial, que inclui ainda novo
dicionário em gestação pela francesa Larousse e mudanças nas famílias "Houaiss" e
"Michaelis", certamente passaria,
para Lacerda, pelo frenesi causado pelo anúncio, no início do segundo semestre de 2003, da saída
do "Aurélio" da Nova Fronteira.
"Como o grupo Positivo não
tem tradição no setor editorial, a
percepção geral é de que vai se
criar um vácuo na transição das
obras que saem da Nova Fronteira e as que serão produzidas pelo
grupo Positivo, que até hoje tinha
foco no universo de alunos de
suas próprias escolas, mas não no
mercado", afirma o editor.
Oriovisto Guimarães, presidente do Positivo, indica que, se o
grupo do Paraná não tem grande
tradição no setor editorial, busca
construir os alicerces dessa atividade justamente com o "Aurélio".
"Não há quem não tenha procurado no "Aurélio" o significado de
algo. Esta obra de referência também será "referência do grupo" na
relação com o mercado", afirma.
O tempo (substantivo masculino para a sucessão dos anos, dos
dias, das horas, etc., que envolve,
para o homem, a noção de presente, passado e futuro) dirá.
Colaborou Mari Tortato, da Agência Folha, em Curitiba
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