São Paulo, sábado, 07 de fevereiro de 2004

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LIVRO/LANÇAMENTO

"O DIA EM QUE LACAN ME ADOTOU"

Autor relata metamorfose que viveu ao fazer análise com Lacan

Pesquisador vê o fim da psicanálise

BETTY MILAN
ESPECIAL PARA A FOLHA

"O Dia em que Lacan me Adotou" foi publicado na França em 2002 pela editora Grasset e agora no Brasil pela Companhia de Freud do Rio de Janeiro. Gérard Haddad, o autor, nasceu em 1940 na Tunísia. Sua família é judia praticante e ele, ateu. Cursou agronomia e exerceu com sucesso a sua profissão, trabalhando na África com o propósito de resolver a questão da fome.
Em 1969, começou a fazer análise com Lacan (1901-81), uma análise cotidiana e particularmente custosa -do ponto de vista subjetivo e do financeiro. Paralelamente, abandonou a agronomia e passou a cursar medicina. Foi fiel ao mestre até o fim, mantendo-se à distância das brigas que dividiram os seus discípulos. Hoje ele é psicanalista. Pesquisa, na sua prática, as interrelações entre a teoria lacaniana e o judaísmo.
O livro conta de forma muito clara a metamorfose decorrente da análise com Lacan, de quem o autor faz um retrato impressionante, mostrando o quão afetuoso o mestre era, ao contrário do que diz Elizabeth Roudinesco. Ele chama Lacan de "Sua Majestade", afetuoso e humilde, como todo verdadeiro pesquisador. Além de focalizar o grande homem, o autor retrata o meio psicanalítico francês, ousando revelar a mesquinharia deste.
Segundo Haddad, a psicanálise está em perigo de extinção. Porque os psicanalistas -que na maioria são judeus- têm o defeito de se fecharem em guetos e não falarem para o público, falarem só para o umbigo. Vivem do primeiro impulso lançado pelos fundadores e não renovam a teoria. Além disso, a psicanálise corre riscos por causa da sua situação institucional. Os psicanalistas, escreve Haddad, não fizeram o luto da sua fascinação pelo totalitarismo, que eles injetam continuamente nas instituições.
O livro, que não começa como um livro de escritor, termina como um romance. Arrebata o leitor porque o seu autor é tão humilde quanto corajoso.


Betty Milan é escritora, psicanalista e autora de "A Paixão de Lia", entre outros

O Dia em que Lacan me Adotou
    
Autor: Gérard Haddad
Editora: Companhia de Freud
Quanto: R$ 50 (302 págs.)



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