São Paulo, sábado, 07 de fevereiro de 2004

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ENTRELINHAS

A paixão segundo HH

CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Muito além dos folclores de Hilda Hilst -da senhora que vivia cercada de vira-latas, da autora boca suja, da femme fatale que assombrara os homens da velha São Paulo, da mulher irremediavelmente fascinada pela loucura do pai- havia paixão.
Em trecho não publicado de longa conversa da poeta com este repórter, em 2002, na Casa do Sol, ela dizia: "Você precisa sempre se apaixonar para ter algum interesse na vida".
Não precisava ser por uma mulher ou um homem, podia ser por uma idéia, por Deus. Bem-humorada, ela logo auto-retrucava: "Mas eu prefiro por um homem". E completava: "Por isso acho muito triste a velhice, porque sempre as pessoas falam: "Fica com Deus". Nunca dizem: "Fica com um homem'".
Mas Hilst não estava falando da verdadeira paixão. A mulher que encantou certa vez Dean Martin, diz a lenda, logo confessava: amor mesmo era a poesia.
Publicada a maior parte da vida por editoras pequenas, sobretudo pelo bravo Massao Ohno, a poeta só chegara a uma grande editora em 2002.
A Globo acabou de vender duas obras dela para Portugal. Negociava agora com a Alemanha, que nunca lera seus versos.
A apaixonada Hilda Hilst morreu às 4h da manhã de quarta, aos 73 anos, sem saber.

DISCO DE PLATINA
A série de livros "As Ilusões Armadas", de Elio Gaspari, está cruzando o meridiano dos 300 mil exemplares vendidos. Dos três já publicados pelo colunista da Folha, "Ditadura Envergonhada" é o best-seller, com 115 mil cópias já por aí.

O NOME DA ROSA 1
Nomes de peso foram definidos esta semana no universo do livro brasileiro. No governo foi sacramentada a ida de Galeno Amorim, secretário de Cultura de Ribeirão Preto, para a Coordenação da Política Nacional da Leitura e de Bibliotecas Públicas.
Amorim ficará subordinado à Biblioteca Nacional e vai chefiar o programa que pretende zerar o déficit nacional de bibliotecas. Tem nas costas o mérito de ter criado em seu município seu o maior índice de bibliotecas por habitante do país.

O NOME DA ROSA 2
O maior prêmio literário do país, o Portugal Telecom de Literatura Brasileira, também chegou a seus nomes. O júri da segunda edição será formado pelos críticos Beatriz Resende, Cristóvão Tezza, Manuel da Costa Pinto (colunista da Folha), Fábio Lucas e Florisvaldo Mattos. A maior novidade eles encontrarão sobre a mesa, na primeira reunião, na quinta: uma lista com todas as obras de ficção lançadas em 2003, as que concorrem aos R$ 150 mil.

GIRA, GIRA, GIRA
A dança das cadeiras do mercado editorial está a todo vapor. Paulo Roberto Pires trocou a Planeta pela Ediouro. Jiro Takahashi saiu desta para a Geração. Pascoal Soto assumiu a direção editorial da Planeta.

@ - elek@folhasp.com.br

FORA DA ESTANTE

A maré aqui até que tem sido razoável para as letras húngaras. A Companhia das Letras vem publicando, com sucesso, o grande Sándor Márai (1900-89). No ano passado saiu seu quarto romance no Brasil, "Divórcio em Buda". Também em 2003 a Cosac lançou o ótimo "O Companheiro de Viagem", de Gyula Krúdy (1878-1933). O ano que passou foi ainda o de "Sem Destino" (Planeta), de Imré Kertész, que ganhou o primeiro Nobel literário da Hungria, em 2002. Isso sem falar em "Budapeste", de Chico Buarque, que levou dezenas de milhares de brasileiros a "passear" na cidade dividida pelo Danúbio. Mas com tudo isso, e com os magiares já publicados pela editora 34, ainda sobram muitos autores de excelente qualidade esperando por sua primeira edição brasileira. Antal Szerb (1900-45) é um deles. Expoente da geração de intelectuais judeus do entre-guerras, o escritor de Budapeste teve grande destaque como ensaista literário e como romancista. Seu "A Lenda de Pendragon", publicado em dezenas de idiomas, e recém-publicado pela editora premium espanhola Siruela, seria um bom começo.

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