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ENTRELINHAS
A paixão segundo HH
CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Muito além dos folclores de
Hilda Hilst -da senhora que vivia cercada de vira-latas, da autora boca suja, da femme fatale
que assombrara os homens da
velha São Paulo, da mulher irremediavelmente fascinada pela
loucura do pai- havia paixão.
Em trecho não publicado de
longa conversa da poeta com este repórter, em 2002, na Casa do
Sol, ela dizia: "Você precisa sempre se apaixonar para ter algum
interesse na vida".
Não precisava ser por uma
mulher ou um homem, podia
ser por uma idéia, por Deus.
Bem-humorada, ela logo auto-retrucava: "Mas eu prefiro por
um homem". E completava:
"Por isso acho muito triste a velhice, porque sempre as pessoas
falam: "Fica com Deus". Nunca
dizem: "Fica com um homem'".
Mas Hilst não estava falando
da verdadeira paixão. A mulher
que encantou certa vez Dean
Martin, diz a lenda, logo confessava: amor mesmo era a poesia.
Publicada a maior parte da vida por editoras pequenas, sobretudo pelo bravo Massao Ohno, a poeta só chegara a uma
grande editora em 2002.
A Globo acabou de vender
duas obras dela para Portugal.
Negociava agora com a Alemanha, que nunca lera seus versos.
A apaixonada Hilda Hilst
morreu às 4h da manhã de quarta, aos 73 anos, sem saber.
DISCO DE PLATINA
A série de livros "As Ilusões
Armadas", de Elio Gaspari, está cruzando o meridiano dos
300 mil exemplares vendidos.
Dos três já publicados pelo colunista da Folha, "Ditadura
Envergonhada" é o best-seller,
com 115 mil cópias já por aí.
O NOME DA ROSA 1
Nomes de peso foram definidos esta semana no universo
do livro brasileiro. No governo
foi sacramentada a ida de Galeno Amorim, secretário de Cultura de Ribeirão Preto, para a
Coordenação da Política Nacional da Leitura e de Bibliotecas Públicas.
Amorim ficará subordinado à
Biblioteca Nacional e vai chefiar o programa que pretende
zerar o déficit nacional de bibliotecas. Tem nas costas o mérito de ter criado em seu município seu o maior índice de bibliotecas por habitante do país.
O NOME DA ROSA 2
O maior prêmio literário do
país, o Portugal Telecom de Literatura Brasileira, também
chegou a seus nomes. O júri da
segunda edição será formado
pelos críticos Beatriz Resende,
Cristóvão Tezza, Manuel da
Costa Pinto (colunista da Folha), Fábio Lucas e Florisvaldo
Mattos. A maior novidade eles
encontrarão sobre a mesa, na
primeira reunião, na quinta:
uma lista com todas as obras
de ficção lançadas em 2003, as
que concorrem aos R$ 150 mil.
GIRA, GIRA, GIRA
A dança das cadeiras do mercado editorial está a todo vapor. Paulo Roberto Pires trocou a Planeta pela Ediouro. Jiro
Takahashi saiu desta para a
Geração. Pascoal Soto assumiu
a direção editorial da Planeta.
@ - elek@folhasp.com.br
FORA DA ESTANTE
A maré aqui até que tem sido razoável para as letras
húngaras. A Companhia das
Letras vem publicando, com
sucesso, o grande Sándor
Márai (1900-89). No ano
passado saiu seu quarto romance no Brasil, "Divórcio
em Buda". Também em
2003 a Cosac lançou o ótimo
"O Companheiro de Viagem", de Gyula Krúdy
(1878-1933). O ano que passou foi ainda o de "Sem Destino" (Planeta), de Imré Kertész, que ganhou o primeiro
Nobel literário da Hungria,
em 2002. Isso sem falar em
"Budapeste", de Chico Buarque, que levou dezenas de
milhares de brasileiros a
"passear" na cidade dividida
pelo Danúbio. Mas com tudo isso, e com os magiares já
publicados pela editora 34,
ainda sobram muitos autores de excelente qualidade
esperando por sua primeira
edição brasileira. Antal
Szerb (1900-45) é um deles.
Expoente da geração de intelectuais judeus do entre-guerras, o escritor de Budapeste teve grande destaque
como ensaista literário e como romancista. Seu "A Lenda de Pendragon", publicado em dezenas de idiomas, e
recém-publicado pela editora premium espanhola Siruela, seria um bom começo.
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