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MÚSICA
Convenção em Recife, com 240 profissionais, debateu, em meio a shows, questões relacionadas ao direito autoral
Porto Musical discute caminhos para proteção de obras
RODRIGO LARIÚ
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Nunca se falou tanto sobre direito autoral. Esta é a impressão
dos profissionais da música que
estiveram no Porto Musical em
Recife. A convenção, que terminou na quarta-feira passada, reuniu 240 profissionais, entre produtores, advogados, músicos e
donos de gravadoras.
Já no segundo dia de palestras, a
manhã foi tomada por dois advogados brasileiros e um juiz alemão. Entre os defensores do modelo tradicional de direitos autorais e os partidários de alternativas mais flexíveis, todos concordam que o momento é bom para
os artistas. "O artista precisa se informar das opções que ele têm para proteger sua obra. Não há mais
espaço para o artista alienado que
simplesmente cria", afirma Ronaldo Lemos, diretor do Creative
Commons no Brasil e do Centro
de Tecnologia da Escola de Direito da Fundação Getúlio Vargas.
Para as dezenas de bandas e gravadoras independentes presentes,
a discussão mostrou os prós e
contras dos dois modelos vigentes para regulamentação da questão. O modelo clássico, que é baseado nas leis de direito autoral de
cada país, continuou sendo o
mais atacado. A sigla DRM Digital
Rights Management entrou para
o glossário dos presentes.
"DRM são sistemas de proteção
criados para proteger a obra. Por
exemplo, se o seu DVD é área X e
você não pode vê-lo no Brasil, é
porque existe um sistema que
protege a sua veiculação. Este sistema é uma ferramenta DRM",
diz Lemos. Os opositores do modelo criticam seu espírito restritivo. "Existem situações em que essas ferramentas infringem a própria lei. Por exemplo, filmes em
domínio público não deveriam,
grosso modo, impedir a sua veiculação em áreas, como no caso
dos DVDs", defende Lemos.
A alternativa mais falada foi o
Creative Commons, sistema mais
flexível na interpretação dos direitos autorais. Ele permite que o autor detalhe o uso da sua obra. "Se
o músico permite que outras pessoas remixem uma música sua, isto já está declarado na obra usando o Creative Commons", explica
Caio Mariano, advogado e palestrante do Porto Musical.
Apesar das diferenças, as partes
concordam que atualmente os
músicos precisam estar informados sobre os dois modelos. "As
grandes gravadoras vão lutar pelos negócios que têm. É normal
que elas desenvolvam sistemas de
DRM para proteger seu patrimônio", diz Jon Kertzer, executivo da
MSN/Microsoft, que não veio ao
Porto Musical falar de leis, mas
percebeu o interesse na discussão.
Carlos Eduardo Miranda, gerente da Trama Virtual, anunciou
que a partir de abril as bandas que
colocarem músicas no site da empresa poderão optar pelo uso de
licenças Creative Commons. Mas
lembrou que tal licença não será
obrigatória. "Vai usar o recurso
aquela banda que achar que o
modelo serve aos seus objetivos."
Fernando Yazbek, presidente
da Spin Music e diretor jurídico
da Associação Brasileira de Música Independente (ABMI), vê um
cenário positivo. "As perspectivas
nunca foram tão boas para o direito autoral como agora. O momento é otimista, pois, pela primeira vez após décadas de desrespeito, os artistas têm a possibilidade de escolher o modelo que
preferem e não são obrigados a
aceitar o modelo vigente."
Além de palestras, o Porto Musical contou, em seus quatro dias
de evento, com 16 shows. Atrações locais, como Cabruêra, ou
internacionais, como o colombiano Imaimaná, tocaram para um
público de 2.000 pessoas. A noite
mais concorrida foi a última,
quando Manu Chao participou
do show dos franceses La Phaze.
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