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Eventos marcam 200 anos da imprensa
Bicentenário dos jornais será o tema da Bienal do Livro de São Paulo, em agosto, entre diversos outros projetos no país
"Correio Braziliense"
e "Gazeta do Rio de Janeiro"
circularam pela primeira vez
em 1º de junho e 10 de
setembro de 1808
MARIANA BOTTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Em meio às comemorações
dos 200 anos da chegada da família real ao Brasil, este ano
também marca o bicentenário
da criação da imprensa no país.
A data será tema da Bienal do
Livro 2008, que acontece de 14
a 24 de agosto em São Paulo, e
motivará uma série de eventos
por todo o país.
Como a data é comemorada
em junho, quando um dos primeiros jornais, o "Correio Braziliense" completa 200 anos,
algumas entidades ainda não
têm seu calendário de eventos
fechado. É o caso do Sindicato
dos Jornalistas Profissionais
no Estado de São Paulo, que
pretende programar seminários temáticos para o meio do
ano, da Biblioteca Nacional,
que prioriza a festa em torno do
bicentenário da chegada da família real, mas tem planos de
realizar uma exposição sobre o
surgimento da imprensa, e da
Associação Brasileira de Imprensa, que também comemora seu centenário neste ano.
No Nordeste, porém, o clima
de festa é mais organizado. A
Fundação Joaquim Nabuco
(Fundaj), que fica em Recife
(PE), deu início em junho passado ao projeto "200 Anos de
Imprensa no Brasil", com ênfase na preservação do acervo.
"Já iniciamos os trabalhos de
restauração, digitalização e microfilmagens de mais de cem
periódicos raros da região. Começamos com os jornais carnavalescos, como "O Azucrim", de
grupos amadores do final do século 19", diz a diretora de documentação da Fundaj, Rita de
Cássia Araújo.
História
Mais de 300 anos após o descobrimento, a instalação da
Imprensa Régia só foi autorizada quando a corte portuguesa
se mudou para o Rio de Janeiro, inaugurada em 13 de maio
de 1808. Antes disso, houve, no
mínimo, outras duas tentativas
de exercício da atividade tipográfica -uma em 1747, no Rio
de Janeiro, por Antonio Isidoro
da Fonseca, e outra em 1807,
em Minas Gerais; há suspeitas
de que tenha existido uma imprensa em Pernambuco, também em 1807, trazida pelos holandeses, algo não comprovado
por meio de impressos.
O fato é que o primeiro jornal
impresso no Brasil, a "Gazeta
do Rio de Janeiro", só foi lançado em 10 de setembro de 1808.
Antes disso, em 1º de junho do
mesmo ano, passou a ser impresso em Londres, o também
brasileiro "Correio Braziliense
ou Armazém Literário".
"A "Gazeta do Rio de Janeiro"
era publicada pela Imprensa
Régia e, como tudo o que se publicava, tinha o aval do príncipe
regente, depois rei, D. João 6º.
Ou seja, passava antes pela censura. Apesar de dedicar seu espaço à divulgação dos decretos
e informações relativas ao governo e à família real, também
publicava anúncios e notícias",
conta Isabel Lustosa, doutora
em ciência politica, historiadora da Casa de Rui Barbosa e autora do livro "D. Pedro I"
(2006; Cia. das Letras).
Diferentes tanto no formato
quanto no conteúdo e periodicidade, o "Correio Braziliense"
(mensal, enquanto a "Gazeta"
era semanal e, depois, bissemanal) se parecia mais com um livro do que com um jornal, e cada edição tinha cerca de 140 páginas -a "Gazeta" tinha quatro.
"O "Correio" era um jornal
que tinha abertamente a intenção de incentivar a independência do Brasil", diz Cybelle
de Ipanema, livre-docente e
doutora em história pela UFRJ,
presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Rio de Janeiro e primeira secretária do
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.
Anúncios
Há cerca de dois anos, a Biblioteca Nacional digitalizou as
edições de ambos os jornais,
que estão disponíveis para consulta on-line em www.bn.br.
"Esses jornais, tal como a
realidade de que tratam, guardam pouca semelhança com o
Brasil e a imprensa dos nossos
dias", diz Isabel Lustosa.
Para ela, a "Gazeta do Rio de
Janeiro" é fonte de valor inestimável, principalmente pelos
anúncios que publicava. "Ali se
pode obter muitas informações
sobre os usos e costumes brasileiros naquele período."
Quanto ao "Correio Braziliense", a pesquisadora afirma
que a importância é ainda
maior: "ele se prende não só à
nossa história, mas também às
grandes transformações que o
mundo estava vivendo. Quem
se interessa pelo processo de
independência das colônias espanholas, por exemplo, encontra ali vasto material. A própria
evolução dos acontecimentos
que antecederam e sucederam
à derrocada de Napoleão está
ali minuciosamente documentada", diz.
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