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LIVROS
Pesquisa analisa toda a obra infantil de Lobato
Volume reúne 28 ensaios acadêmicos sobre o autor de "Reinações de Narizinho"
Segundo organizadores, trabalho expõe "um Lobato irreverente, criativo e político" e inclui estudos até mesmo de livros marginais
GABRIELA ROMEU
DA REPORTAGEM LOCAL
O ponto final de "A Menina
do Narizinho Arrebitado", de
1920, foi só o início da constante reescritura da saga do criador do Sítio do Picapau Amarelo, Monteiro Lobato (1882-1948), que anunciava garimpar
"palavras singelas", num estilo
cristalino como "água de pote",
para escrever em "língua desliteraturizada" para crianças.
É o que destaca "Monteiro
Lobato Livro a Livro - Obra Infantil", que reúne 28 estudos de
pesquisadores de várias instituições brasileiras, que esmiuçam uma espécie de oficina do
processo de criação do autor.
Com a coorganização de Marisa Lajolo e João Luís Ceccantini, os textos trazem à tona a
análise de quase 2.000 documentos (cartas, fotos, contratos, edições) depositados pelos
herdeiros na Unicamp -parte
está em www.unicamp.br/iel/monteirolobato.
Professor de literatura brasileira da Unesp-Assis, Ceccantini conta que há muitos livros
panorâmicos sobre a obra lobatiana. "Mas algumas publicações eram sempre citadas, enquanto outras, ignoradas." Entre as da boa safra sempre deixadas de lado no passado, estão
"O Picapau Amarelo" e "A Chave do Tamanho".
São analisados inclusive os
livros marginais, como "O Garimpeiro do Rio das Garças"
(1924), sobre as aventuras de
João Nariz. A imagem na obra
lobatiana, a marca do caricaturista Belmonte e a vertente do
Lobato editor também recebem atenção especial.
"O livro mostra um Lobato
irreverente, criativo e político,
mas traz como tudo isso se reflete nas diferentes edições de
uma mesma história", diz Lajolo, professora de literatura brasileira da Unicamp e da Universidade Mackenzie.
Ceccantini destaca a faceta
"de um artífice da palavra, que
reescreve seu texto o tempo todo e vê a literatura como algo
nada mumificado".
O texto emblemático dessa
reescritura é "Reinações de
Narizinho", obra em transformação desde o seu surgimento,
em 1920. Até 1931, principalmente, ganhou capítulos, recebeu outros títulos e perdeu trechos -na primeira versão, por
exemplo, foram suprimidas
passagens que remetiam as
aventuras a um sonho, muleta
clássica da ficção infantil.
Geração da TV
O hábito do escritor em trocar cartas com os leitores também perpassa os capítulos. Em
alguns trechos, as crianças comentam as reinações, marcadas pelo sotaque da oralidade.
"Isso documenta a recepção de
Lobato na época", diz Lajolo.
Já a recepção infantil da obra
lobatiana hoje é escassa em estudos. "Tenho feito pesquisas,
com professores e crianças,
propondo leituras dos livros",
diz Ceccantini. "E parece que as
crianças não leem Lobato porque os seus mediadores pais e
professores também não o leram, geralmente eles conhecem as histórias da TV."
E existe algum jeito de a
criança mergulhar no texto original desse "universo paralelo"
hoje? "Talvez seja o caso de
dessacralizar a obra, assim como Lobato fazia, ler de outra
forma, com mais liberdade, pulando trechos, deixando a
criança fazer seu próprio caminho", sugere.
MONTEIRO LOBATO LIVRO A
LIVRO - OBRA INFANTIL
Organizadores: Marisa Lajolo e João
Luís Ceccantini
Editora: Unesp
Quanto: R$ 62 (512 págs.)
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