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Forman eleva editor a herói
de Washington
A história da luta pela liberdade
de expressão nos Estados Unidos
registra muito poucas situações
tão contraditórias como a defesa
que foi dada a Larry Flynt contra
os que tentaram censurá-lo.
Por isso, é difícil, mesmo para o
mais liberal dos críticos, aceitar de
bom grado a valorização positiva
que Milos Forman dá a Flynt em
seu filme.
Talvez Milos Forman tenha sido
tão condescendente por nunca,
como ele mesmo admite, ter lido
um exemplar da revista "Hustler", a obra-prima editorial de
Flint.
Não é só que "Hustler" tenha
sido sempre uma publicação de
mau gosto. Gosto não se discute,
afinal. Ela também foi e ainda é racista, sexista, violenta.
Claro que nada disso serve de
justificativa para a imposição de
censura. Mas tampouco é motivo
para elevar o editor ao panteão dos
grandes benfeitores da humanidade.
Ainda mais quando esse personagem não é também nenhum
modelo de caráter em sua conduta
pessoal.
Duas de suas filhas o acusam de
tê-las molestado sexualmente
quando eram pré-adolescentes.
Uma de suas três ex-mulheres, de
agressão física.
Conflito central
O episódio central do filme, o
processo que o reverendo Jerry
Falwell moveu contra Flynt, envolve o conflito entre duas figuras
repugnantes.
O ultraconservador Falwell é tão
racista, sexista e violento quanto a
revista de Flynt.
A decisão da Suprema Corte para
o caso, de que figuras públicas podem ser objeto de sátira jornalística, é corretíssima, e o cartum de
que Jerry Falwell se queixava tinha
a tradicional marca de vulgaridade
de "Hustler", mas até podia ser
considerada como de certa graça.
Todas as pessoas nos EUA que
acreditam na necessidade imperiosa de defender a liberdade de
pensamento cerraram fileiras em
torno de Flynt em 1988.
Mas muito poucas acharam necessário elogiá-lo, que dirá santificá-lo.
Forman justifica sua escolha
com o fato de que a primeira vítima da censura no nazismo (do
qual seus pais foram vítimas) foi a
pornografia e que o grau de liberdade numa sociedade é diretamente proporcional ao de tolerância com a ela.
É um bom argumento. Mas Forman poderia ter retratado Flynt de
maneira mais justa.
(CELS)
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