São Paulo, sexta, 7 de março de 1997.

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Australianos exploram loucura

ADRIANE GRAU
especial para a Folha, em San Francisco

Subsidiados pelo governo federal e desobrigados de alcançar sucessos de bilheteria, há muito tempo os filmes australianos levam à tela roteiros inusitados.
Trabalhos recentes confirmam a queda do país para gerar roteiros inesperados. Atualmente há nada menos que três histórias explorando a esquizofrenia: "Shine", "Cosi" e "Angel Baby".
"Será que deveríamos fazer isto?", pergunta Kate (Jacqueline McKenzie) ao namorado Harry (John Lynch) em "Angel Baby". Recém-apaixonados, jovens e atraentes, eles estão lado a lado numa ponte sobre o mar, pensando em suicídio.
A paixão que sentem um pelo outro não parece ser suficiente para abafar a angústia da existência dependente de remédios. Kate e Harry são esquizofrênicos e se conheceram no Clubhouse, instituição terapêutica que frequentam.
"Angel Baby", que fez parte da programação da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo no ano passado, é a estréia na direção de Michael Rymer, que também escreveu o roteiro.
Financiado pelo Australian Film Finance Corporation e premiado como melhor roteiro, diretor e atores pelo Australian Film Institute em 1995, o filme mostra a perspectiva de vida do casal afetado por uma doença mental mais comum do que se imagina.
"Fazer um filme com personagens doentes mentais não me pareceu ser um tema muito popular a princípio", disse Rymer numa entrevista durante o Mill Valley Film Festival (USA). "Mas após levar o filme a vários países, fiquei impressionado com a quantidade de pessoas me dizendo que têm uma história parecida, ou alguém assim na família, ou então que trabalham em instituições psiquiátricas". Segundo ele, um terço da população mundial tem algum contato com doenças mentais atualmente.
"Inicialmente, não imaginei escrever sobre problemas psiquiátricos", afirmou Rymer. "Era só uma história de amor sobre duas pessoas meio esquisitas que se apaixonam". Ele foi percebendo que o público poderia ter como loucos os personagens que criou. "Aí fui pesquisar e descobri tantas coisas interessantes que resolvi transformá-los em esquizofrênicos."
"Cosi"
O diretor Mark Joffe apostou no humor e na redenção para contar a história de Lewis (Ben Mendelsohn), um jovem professor de teatro que tenta realizar uma ópera com os internos de um asilo.
Antes que "Cosi Fan Tutte" chegue ao palco, ele percebe que o contato com os loucos está fazendo efeito em sua própria sanidade. Prestes a romper com a namorada, se envolve com a paciente interpretada por Toni Colette.
"Meu problema são as drogas", revela ela a certa altura. "Mas o doutor acha que se eu uso drogas é por causa de problemas psicológicos", completa.
Mais duro do que lidar com o dilema da bela paciente é ter que aguentar a egomania do traiçoeiro e hilariante Barry Otto. O filme deve entrar em cartaz no Brasil em junho.

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