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Australianos exploram loucura
ADRIANE GRAU
especial para a Folha,
em San Francisco
Subsidiados pelo governo federal e desobrigados de alcançar sucessos de bilheteria, há muito tempo os filmes australianos levam à
tela roteiros inusitados.
Trabalhos recentes confirmam a
queda do país para gerar roteiros
inesperados. Atualmente há nada
menos que três histórias explorando a esquizofrenia: "Shine",
"Cosi" e "Angel Baby".
"Será que deveríamos fazer isto?", pergunta Kate (Jacqueline
McKenzie) ao namorado Harry
(John Lynch) em "Angel Baby".
Recém-apaixonados, jovens e
atraentes, eles estão lado a lado
numa ponte sobre o mar, pensando em suicídio.
A paixão que sentem um pelo
outro não parece ser suficiente para abafar a angústia da existência
dependente de remédios. Kate e
Harry são esquizofrênicos e se conheceram no Clubhouse, instituição terapêutica que frequentam.
"Angel Baby", que fez parte da
programação da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo no
ano passado, é a estréia na direção
de Michael Rymer, que também
escreveu o roteiro.
Financiado pelo Australian Film
Finance Corporation e premiado
como melhor roteiro, diretor e
atores pelo Australian Film Institute em 1995, o filme mostra a
perspectiva de vida do casal afetado por uma doença mental mais
comum do que se imagina.
"Fazer um filme com personagens doentes mentais não me pareceu ser um tema muito popular a
princípio", disse Rymer numa entrevista durante o Mill Valley Film
Festival (USA). "Mas após levar o
filme a vários países, fiquei impressionado com a quantidade de
pessoas me dizendo que têm uma
história parecida, ou alguém assim
na família, ou então que trabalham
em instituições psiquiátricas". Segundo ele, um terço da população
mundial tem algum contato com
doenças mentais atualmente.
"Inicialmente, não imaginei escrever sobre problemas psiquiátricos", afirmou Rymer. "Era só
uma história de amor sobre duas
pessoas meio esquisitas que se
apaixonam". Ele foi percebendo
que o público poderia ter como
loucos os personagens que criou.
"Aí fui pesquisar e descobri tantas
coisas interessantes que resolvi
transformá-los em esquizofrênicos."
"Cosi"
O diretor Mark Joffe apostou no
humor e na redenção para contar a
história de Lewis (Ben Mendelsohn), um jovem professor de teatro que tenta realizar uma ópera
com os internos de um asilo.
Antes que "Cosi Fan Tutte"
chegue ao palco, ele percebe que o
contato com os loucos está fazendo efeito em sua própria sanidade.
Prestes a romper com a namorada,
se envolve com a paciente interpretada por Toni Colette.
"Meu problema são as drogas",
revela ela a certa altura. "Mas o
doutor acha que se eu uso drogas é
por causa de problemas psicológicos", completa.
Mais duro do que lidar com o dilema da bela paciente é ter que
aguentar a egomania do traiçoeiro
e hilariante Barry Otto. O filme deve entrar em cartaz no Brasil em
junho.
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