São Paulo, sexta, 7 de março de 1997.

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Pianista que é figura principal do filme concorrente ao Oscar se apresenta em Boston para 2.000 pessoas
`Shine' transforma Helfgott em superastro

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
de Washington

Em "Shine", o momento de ruptura entre o pai dominador e o menino-prodígio ocorre quando o garoto é proibido de aceitar convite para estudar piano nos EUA.
Não é certeza que o violinista Isaac Stern tenha sido, como o filme mostra, o autor do convite (Stern diz não se lembrar do incidente). Mas não há dúvida na mente de David Helfgott de que o sonho não realizado da América foi uma frustração marcante.
Nesta semana, Helfgott, 49, transformado em superastro por causa de "Shine", chega, afinal, às principais salas americanas de concerto. Os críticos dizem que ele toca piano como uma criança e não deve ser levado a sério. Mas o público o recebe como um ídolo.
A estréia de Helfgott foi em Boston, a mais européia e culturalmente empedernida das cidades dos EUA. O principal crítico musical do "Boston Globe", Richard Dyer, escreveu que sua performance foi "sem entendimento harmônico, sem fraseado, sem estilo, sem diferenciação, sem precisão e sem conteúdo emocional".
Mas as 2.000 pessoas que pagaram US$ 50 o aplaudiram de pé à entrada e à saída. Helfgott cantarolou, murmurou frases desconexas para si mesmo e correu pelo palco durante o concerto.
Helfgott sofre de imprecisa doença mental e passou 15 anos em manicômios após ter sofrido um estresse nervoso ao interpretar a mais difícil peça para piano que existe, o "Concerto Nş 3", do russo Sergei Rachmaninoff.
O filme atribui seus problemas emocionais ao pai, sobrevivente do Holocausto, autoritário e agressivo. Mas uma irmã de Helfgott discorda dessa versão e diz que o pai era "um santo".
Mas se ele estava ou não destinado a ser um grande concertista, o fato é que agora é uma celebridade, apesar de os mais exigentes acharem que ele tem sido explorado como extravagância circense.
O disco em que ele toca o "Rach 3" é líder em vendas entre clássicos nos EUA, a trilha de "Shine" está em segundo lugar na lista da "Billboard", o filme rendeu US$ 27,6 milhões e os ingressos para seus recitais esgotaram em horas.

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