São Paulo, sexta, 7 de março de 1997.

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Tias falam do passado e fantasia

do enviado especial a Bauru

Tia Mariza, tia Vanda, tia Judith, tia Daisy, tia Jussemy, tia Lola, tia Lindinha, tia Vera. Ninguém sobrevive impunemente a tanta tia. Muito menos Mauro Rasi, que faz delas, as suas tias, uma fonte inesgotável para sua ficção.
Anteontem, em Bauru, sua cidade natal, Rasi reuniu suas oito tias. Em torno de uma mesa redonda, devidamente vestidas segundo o padrão de elegância que cabe às famílias tradicionais do interior, com os seus leques na mão, as tias do Mauro jorgaram muita conversa fora com o sobrinho querido.
Mas as aparências enganam e as tias do Mauro também. Era difícil discernir ficção e realidade.
A começar pelo fato de que nem todas as ``tias'' eram tias de sangue. Tia Norma, que Sônia Guedes interpreta em ``Pérola'' carregando o personagem de hipocondria e rancor, já morreu.
O título de honra caberia apenas a uma das tias, Lindinha, 83 anos, irmã mais velha de sua mãe, Pérola. Debilitada pela idade, ela diz durante o chá: ``O Mauro sempre foi muito bonzinho, um rapaz formidável''. Mas não foi assistir à estréia de ``Pérola''. ``Tenho um menino doente em casa, não posso deixá-lo à noite'', diz Lindinha, cuja ternura faz jus ao nome.
Mas as ``tias'' mais afinadas com Rasi são aquelas que foram responsáveis por sua educação sentimental. ``Tia'' Jussemy é um bom exemplo. Professora de teoria musical do jovem Mauro, ela lembra dos anos de juventude como um tempo marcado pela rebeldia.
``Nós éramos muito Simone de Beauvoir, gostávamos do existencialismo, líamos tudo com o Mauro, ele gostava. Um dia, a mãe dele queimou os livros no quintal''.
``Tia'' Daisy, na verdade a professora particular de piano de Rasi, lembra que ele a testava durante as aulas. ``Era danadinho''.
Outra ``tia'' adotada é Mariza Mendes, sua professora de literatura. ``Ele nunca me chamou de tia''. Nós sabemos que é tudo um jogo e aceitamos jogar'', diz.
Mauro Rasi sabe que deve muito de suas ``tias'' à própria imaginação. ``A realidade sozinha não dá um bom teatro'', explica.

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