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ARQUITETURA
Retrospectiva aberta ao público carioca marca centenário do pai de Brasília, com desenhos e objetos pessoais
Paço expõe Lucio Costa além do "risco"
FRANCESCA ANGIOLILLO
DA REPORTAGEM LOCAL
Lucio Costa (1902-1998) dedicou sua vida a refletir sobre a história do Brasil, operando sobre ela
e a partir dela para pavimentar os
rumos arquitetura moderna no
país. Sua importância é imensa,
mas sua discrição é maior: por
causa dela, muitas vezes seu nome
esteve à sombra.
Além disso, tinha uma forma
peculiar de se organizar. Muitas
idéias por trás de sua obra foram
registradas em papéis esparsos,
versos de envelope, rabiscos escondidos em meio a jornais. Aos
cem anos de Costa, que se completaram em 27 de fevereiro, esses
sinais poderiam ter desaparecido.
Por fortuna, ressurgem na mostra
"Lucio Costa - 1902/2002", aberta
hoje, no Paço Imperial, no Rio.
A guardiã e compiladora do arquivo de Costa é sua filha, a também arquiteta Maria Elisa Costa,
67. "Desde a morte de Lucio, Maria Elisa vem classificando esse
material, visando essa exposição.
Ela, ao contrário do pai, é muito
cuidadosa", diz Mário Carneiro,
71, presidente da Casa de Lúcio
Costa, instituição fundada para
preservar o arquivo do arquiteto.
Cineasta, Carneiro conviveu
longamente com Costa, registrando em filmes marcos arquitetônicos como o Ministério da Educação e Saúde, no Rio -capitaneado por Costa, com a participação
de um Oscar Niemeyer que apenas despontava e sob a bênção do
papa do moderno, o franco-suíço
Le Corbusier (1887-1965).
Com a curadora Maria Elisa
ocupada com os últimos retoques
para a abertura para convidados,
que aconteceria ontem, é Carneiro quem define a figura de Costa
que surge na mostra no Paço.
"A mostra traz uma vivência
humana de Lucio, uma pessoa
que guardava tudo, objetos de infância, não deixava jogar fora nenhum jornal, ia empilhando", diz.
Carneiro ressalta que esse tempo
passado em meio à "bagunça" da
casa, dedicado ao estudo da história do país e de suas manifestações artísticas, foi fundamental
para a cristalização do ideário
moderno segundo Lucio Costa.
Isso porque foi olhando o passado brasileiro e a herança portuguesa que Costa pôde renovar a
arquitetura nacional, num momento em que seus contemporâneos -ele inclusive, num primeiro instante- se esmeravam em
projetar casas neocoloniais.
Costa foi além: deixou as formas
do passado para valorizar seus
conceitos; fez o que hoje, resumidamente, chamaríamos releitura.
Estruturada em 12 módulos, a
mostra tem croquis, desenhos de
vestidos e até brinquedos; fotos de
família convivem com o arrojo de
projetos urbanísticos como o de
Brasília ou com os registros da
participação de Costa no projeto
da Unesco em Paris.
Se o mergulho de Maria Elisa na
papelada do pai foi frutífero, "Lucio Costa - 1902/2002" pode ajudar a entender como o arquiteto
somou antigo e novo para ter o
genuinamente brasileiro na outra
ponta da equação.
LUCIO COSTA - 1902/2002 -
desenhos, fotos e objetos pessoais do arquiteto
(1902-1998). Curadoria: Maria Elisa
Costa. Onde: Paço Imperial (pça. 15 de
Novembro, 48, tel. 0/xx/21/2533-4407,
Rio de Janeiro). Quando: de ter. a dom.,
das 12h às 17h30. Até 12 de maio.
Quanto: grátis. Patrocinador: Governo do
Estado do Rio de Janeiro, Secretaria de
Estado de Cultura, Ministério da Cultura
e Bradesco Seguros.
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