São Paulo, quinta-feira, 07 de março de 2002

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ARQUITETURA

Retrospectiva aberta ao público carioca marca centenário do pai de Brasília, com desenhos e objetos pessoais

Paço expõe Lucio Costa além do "risco"

FRANCESCA ANGIOLILLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Lucio Costa (1902-1998) dedicou sua vida a refletir sobre a história do Brasil, operando sobre ela e a partir dela para pavimentar os rumos arquitetura moderna no país. Sua importância é imensa, mas sua discrição é maior: por causa dela, muitas vezes seu nome esteve à sombra.
Além disso, tinha uma forma peculiar de se organizar. Muitas idéias por trás de sua obra foram registradas em papéis esparsos, versos de envelope, rabiscos escondidos em meio a jornais. Aos cem anos de Costa, que se completaram em 27 de fevereiro, esses sinais poderiam ter desaparecido. Por fortuna, ressurgem na mostra "Lucio Costa - 1902/2002", aberta hoje, no Paço Imperial, no Rio.
A guardiã e compiladora do arquivo de Costa é sua filha, a também arquiteta Maria Elisa Costa, 67. "Desde a morte de Lucio, Maria Elisa vem classificando esse material, visando essa exposição. Ela, ao contrário do pai, é muito cuidadosa", diz Mário Carneiro, 71, presidente da Casa de Lúcio Costa, instituição fundada para preservar o arquivo do arquiteto.
Cineasta, Carneiro conviveu longamente com Costa, registrando em filmes marcos arquitetônicos como o Ministério da Educação e Saúde, no Rio -capitaneado por Costa, com a participação de um Oscar Niemeyer que apenas despontava e sob a bênção do papa do moderno, o franco-suíço Le Corbusier (1887-1965).
Com a curadora Maria Elisa ocupada com os últimos retoques para a abertura para convidados, que aconteceria ontem, é Carneiro quem define a figura de Costa que surge na mostra no Paço.
"A mostra traz uma vivência humana de Lucio, uma pessoa que guardava tudo, objetos de infância, não deixava jogar fora nenhum jornal, ia empilhando", diz. Carneiro ressalta que esse tempo passado em meio à "bagunça" da casa, dedicado ao estudo da história do país e de suas manifestações artísticas, foi fundamental para a cristalização do ideário moderno segundo Lucio Costa.
Isso porque foi olhando o passado brasileiro e a herança portuguesa que Costa pôde renovar a arquitetura nacional, num momento em que seus contemporâneos -ele inclusive, num primeiro instante- se esmeravam em projetar casas neocoloniais.
Costa foi além: deixou as formas do passado para valorizar seus conceitos; fez o que hoje, resumidamente, chamaríamos releitura.
Estruturada em 12 módulos, a mostra tem croquis, desenhos de vestidos e até brinquedos; fotos de família convivem com o arrojo de projetos urbanísticos como o de Brasília ou com os registros da participação de Costa no projeto da Unesco em Paris.
Se o mergulho de Maria Elisa na papelada do pai foi frutífero, "Lucio Costa - 1902/2002" pode ajudar a entender como o arquiteto somou antigo e novo para ter o genuinamente brasileiro na outra ponta da equação.


LUCIO COSTA - 1902/2002 -
desenhos, fotos e objetos pessoais do arquiteto (1902-1998). Curadoria: Maria Elisa Costa. Onde: Paço Imperial (pça. 15 de Novembro, 48, tel. 0/xx/21/2533-4407, Rio de Janeiro). Quando: de ter. a dom., das 12h às 17h30. Até 12 de maio. Quanto: grátis. Patrocinador: Governo do Estado do Rio de Janeiro, Secretaria de Estado de Cultura, Ministério da Cultura e Bradesco Seguros.




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