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CINEMA
Reflexão política é destaque na mostra argentina, que reduziu gastos
Mar del Plata abre festival em sintonia com a crise
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
A interseção entre arte e política
é a marca da 17ª edição do Festival
Internacional de Cinema de Mar
del Plata, que começa hoje, no
balneário argentino.
Dos discursos na solenidade de
abertura -a cargo do secretário
de Cultura, Rubén Stella, e do presidente do Instituto de Cinema e
Artes Audiovisuais, Jorge Coscia- ao tom marcadamente crítico dos filmes selecionados, tudo
na mostra deverá remeter à situação de um país em que "a única
indústria que se salvou de quebrar foi a do cinema", nas palavras do diretor artístico do evento, Claudio España.
"Acredito que o festival se aproximou da situação de emergência
real que vive a Argentina. Em outras épocas, ele foi apoteótico,
cheio de supostas estrelas, limusines, hotéis luxuosíssimos, toda a
estupidez de um modelo menemista que fazia a espetacularização da política", diz o cineasta Gerardo Vallejo.
Vallejo é um dos convidados da
seção paralela "Histórias da Revolução - Cinema Político na
América Latina: Anos 60 e 70".
Dele, o ciclo exibirá "El Camino
Hacia la Muerte del Viejo Reales",
"um filme-denúncia sobre a exploração dos trabalhadores rurais", que teve as filmagens proibidas em 72 e foi montado clandestinamente em Roma. Do mesmo período, serão exibidos "La
Hora de los Hornos" (68), de Fernando Solanas, e "Me Gustan los
Estudiantes" (68), do uruguaio
Mario Handler, entre outros.
O curta de Handler documenta
o encontro que reuniu em Punta
del Leste os presidentes Lyndon
Johnson (EUA), Juan Carlos Ongania (Argentina), Costa e Silva
(Brasil) e Alfredo Stroessner (Paraguai). "Chamou-se isso de Conferência de Chefes de Estado para
dissimular o fato de que eram ditadores", diz Handler, que monta
atualmente o documentário em
longa-metragem "À Parte". "É
um filme sobre jovens em situação de marginalidade cultural na
era da globalização. Escolhi o veio
cultural porque não queria ser
miserabilista", diz o cineasta, que
se define como "ainda de esquerda, mas de outra esquerda".
"Agora já aprendemos muito e
acho que o cinema político é todo
aquele que se aproxima do ser humano. Não creio mais que as pessoas saiam do cinema e partam
para uma ação direta. O máximo
que um filme pode impulsionar é
a reflexão interna", afirma.
O próprio cinema como ação
política direta é o que mais seduz
o cineasta Fernando Solanas no
contexto desse festival. Solanas
apóia a iniciativa de um grupo de
estudantes de cinema de promover, paralelamente às atividades
oficiais em Mar del Plata, uma
mostra de "cinema piqueteiro".
"Toda a recente movimentação
social produziu aqui um fenômeno muito interessante -deu estímulo aos jovens para sair a filmar.
Antes, os jovens desprezavam o
documentário; agora, nasceu o
que estamos chamando de cinema piqueteiro: um cinema social
e político", diz Solanas.
O Festival de Mar del Plata segue até o próximo dia 16. O orçamento deste ano -US$ 450
mil- equivale a um quarto do
que foi gasto no ano passado. A
organização da mostra pretende
coordenar um manifesto de todas
as entidades representativas da
indústria cinematográfica na Argentina para que seja garantida a
verba anual destinada ao fomento
do cinema, ainda em aberto.
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