John Galliano para a Dior fez o primeiro grande desfile da temporada francesa do prêt-à-porter, que começou anteontem e segue até o dia 14, incluindo a participação dos brasileiros Walter Rodrigues e Alexandre Herchcovitch.
Na Dior, Galliano trabalha idéias do verão de sua alta-costura e de sua própria coleção. OK, já que a reconstrução da silhueta pretendida pelo estilista não é mesmo tarefa que se esgote em uma só temporada. Mas rolou um clima de remix. Os temas agora são clown, bondage, esporte e oriente, em combinações incríveis e inesperadas.
A paixão pela roupa está em cada detalhe, mas plataformas (também como no verão) amarradas no salto, impediram a fluidez do desfile e a música nervosa de Jeremy Healy não ajudou muito. Muitas modelos tropeçaram e algumas caíram. Na maquiagem, rosto pintado, cílios gigantes, tops irreconhecíveis. Também como na outra estação.
Tudo apertado em baixo, com grandes volumes em cima. No tema oriental, megacasacos encerram o desfile, emprestando dramaticidade às gueixas futuristas de Galliano, mas o clima é tenso, over. Taí um caso de moda que fica bom mesmo nas revistas.

STARCKMANIA INVADE A FRANÇA
Todo mundo gosta de Philippe Starck. Por isso mesmo o designer francês vive momento de verdadeira coqueluche, com mostra aberta há apenas uma semana no Georges Pompidou. O bombom da instalação: num corredor escuro, 12 cabeças de Starck falam juntas, na maior celebração até hoje das criações do mais famoso designer do planeta. Starckmania total.

FISCHERSPOONER CONQUISTA A EUROPA
O electro fica "major". A dupla Fischerspooner sai do underground e se prepara para conquistar a Europa de vez. Depois de fechar megacontrato com a Ministry of Sound (que acabou não dando certo), eles assinaram com a EMI e relançaram o seminal (a palavra é gasta, mas aqui cabe) "Número 1", agora com uma pornográfica faixa de The Hacker e um remix de Junkie XL para o clássico "Emerge", além de um DVD com toda a tranqueira visual deles. Vale a pena. A próxima cartada é sua ópera-electro dia 29 de março aqui em Paris. Também no Beaubourg. Tá vindo?

ELECTRO É FASHION, VOCÊ SABE
E, se alguém ainda tinha dúvidas, Donatella Versace fez sua festinha pós-desfile com muito champanhe, velas roxas e o DJ Hell nas pick-ups. Bem-vestido como sempre, Hell entrou logo com "Behind the Wheel", do Playgroup. E, na esperada festinha de lançamento do CD 5 da Colette, dia 10, quem toca é o DFA, que também remixou o disco 2 do lançamento. É tudo.

TALENTO É ANTÍDOTO À CRISE
Dos Estados Unidos, vêm as notícias do enfraquecimento do varejo, que sofreu muitíssimo nos últimos dois meses com o vai-não-vai Iraque-EUA e a desvalorização do dólar diante do euro, a maior em quatro anos. Na terça, os jornais franceses publicaram uma pesquisa que dá conta da queda de confiança do consumidor, atingindo seu nível mais baixo em seis anos, alegadamente devido ao medo do desemprego. Em Milão, Tom Ford questionava-se sobre a relevância da moda em tempos de guerra. Mas, em Paris, não dá nem tempo de parar para responder. O povo sai fazendo. E pronto. Depois vê.
E tem gente nova na parada, logo no primeiro dia. E com muito talento -que é o que segura a onda nestes tempos bicudos. O americano Rick Owens traz de L.A. seu estilo modernista e estréia na temporada francesa atrás do reconhecimento que vem alcançando entre os insiders da moda. Seu trunfo: o caimento de couros, crepes e malhas, o despojamento que, como em Nicholas Ghesquierre, representa a nova elegância. Olho nele.

SOM E IMAGEM PARA AS PASSARELAS
Ele é tipo incrível mesmo. Sem se mexer, David Bowie dá as caras na temporada. Dessas coincidências (ou seria o tal inconsciente coletivo da moda?), no último dia dos desfiles de Milão, sua música apareceu primeiro na Miu Miu, segunda linha da Prada, com seu "Sound & Vision" embalando as femininas garotas da grife, e, depois, na Versus, outra segunda linha, em que Ziggy Stardust serviu de moldura para fazer contato com a moda ultra-sexy de Donatella. Não perca o bonde e compre agora mesmo o DVD com todos os clipes do mago do som e da imagem que acaba de sair no Brasil. E o melhor: em reais. Ah, atenção para a tendência das trilhas dos desfiles: fazer tudo com a mesma banda, grupo ou cantor. Dá mais unidade a coleções que, muitas vezes, não trazem muita... Na Versace, a música era do top DJ Junior Vasquez, que fez viagem no tempo e trouxe lá dos anos 90 (sem ninguém pedir) "Pump Up the Jam", do Technotronic, e "Plastic Dreams", do Jay Dee. Na primeira fila, Christina Aguilera era mais um dos clones donatellianos, com cabelos claríssimos. Vai ser a nova imagem da marca. Habitual trilheiro (com Peter Kruder) de Helmut Lang, que desfila hoje em Paris, Richard Dorfmeister lança seu terceiro disco sob o nome Tosca, aqui com o parceiro Rubert Huber. Chamado "Dehli 9", é... o máximo. Está no modo repeat aqui do meu CD e fico doente a cada vez que toca "Me & Yoko Ono", com a vocalista Anna Clementi, tratando de um encontrinho entre os dois. Não deixe de comprar, mesmo que seja em euros ou dólares.


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