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São Paulo, sexta-feira, 07 de março de 2003

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ANÁLISE

Milão promove a volta do chic

DA ENVIADA A MILÃO

Com desfiles consistentes, a temporada de outono-inverno 2003/2004 em Milão deu uma de suas características aulas na associação -cada vez mais necessária- de comércio & criação.
O último dia de desfiles, a ensolarada terça-feira, proporcionou até mesmo deliciosas surpresas. Logo cedo, a Marni era bem esperada. Afinal, já pareciam fora de lugar os arroubos folk e boêmios da grife desenhada por Consuelo Castiglioni, que é menina-dos-olhos das editoras. Mais urbana, com um pezinho retrô sem nenhum rastro de naftalina, ela investe nas cores modernas do momento (bege, rosa, marrom, cinza, verde e, principalmente, o amarelo), para criar vestidos gráficos de estamparia bidimensional (à moda surrealista), alternando com florais e bolinhas e investindo pesado na bermuda como item básico da coleção. Bingo.
A Missoni vem com mais juventude e eletricidade, até mesmo no penteado das modelos, transitando bem no sessentismo que lhe é caro. Tubinhos-delícia e calças no famoso ziguezague rendem as melhores imagens.
De volta à via Fogazzaro, a Miu Miu embarca numa viagem pós-Guerra, talvez sugerindo um desejado momento de paz, lembrando o final dos 40 e início dos 50. Bem retrô mesmo. Suas pin-ups têm como modernizador um cintinho finíssimo usado sobre tudo e um incrível batom vermelho plastificado. A cor chega até ao divertido scarpin de verniz, refresco numa cartela de cores baixas e frias. O romantismo fica na doce estampa do artista francês Raymond Peynet, presente também no convite. Mais do que em temporadas anteriores, esta segunda linha completa o estilo da marca principal, a Prada. Sem o impacto do verão surfe, agrada, principalmente nas peças básicas que poderão forrar os guarda-roupas de suas garotas, informadas consumidoras de moda.
Mais tarde, num galpão de uma antiga zona industrial milanesa, Donatella Versace reuniria seus fundamentos para celebrar o estilo da marca de sua família. O desfile poderia se chamar "O Ataque dos Clones". Alçada na categoria ícone, parece fazer sentido encher a passarela com peças como se saídas de seu próprio guarda-roupa. Primeiro Versus, bem rock-style, justo e apertado, bem 80. Depois, na linha principal, reforçando a inspiração biker, moto, esporte da estilista nesta estação, leggings e jaquetas mais longas aparecem na primeira parte do desfile, no recorte de calças e saias inventadas aparentemente para a glorificação do quadril feminino. Vida longa às popozudas da Versace, que depois ganham caros vestidos de fitas e fivelas, corseletados, e saltos altíssimos, claro.
Saldo de Milão: a consolidação do comprimento mini e a consagração do mantô (que pode ser em pele, lã ou couro). Este pode ter formato anos 50, como na Prada, ou 80, com grandes golas, como na Gucci (dois dos mais influentes desfiles da cidade). Consolidando a seda e o jersey como materiais importantes, o chifon é o tecido do momento; a idéia são vestidos levíssimos sob os grandes casacos, para as finas.
Esta foi uma temporada em que o inverno ficou muitas vezes com jeito de verão. Temos também o auge da calça tipo legging. Pernas e cintura (mais alta) são as estrelas. O futurismo é uma realidade, e os anos 60 aparecem como bola da vez. Atenção para muitas cores, estampas e a alfaiataria, e para o jogo de pegar peças e elementos do guarda-roupa masculino (especialmente na camisaria e materiais). Com muitas luvas aqui e ali, é a volta do "chic". Tipo no último mesmo. Em si. (ERIKA PALOMINO)


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