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ANÁLISE
Milão promove a volta do chic
DA ENVIADA A MILÃO
Com desfiles consistentes, a
temporada de outono-inverno 2003/2004 em Milão deu uma
de suas características aulas na associação -cada vez mais necessária- de comércio & criação.
O último dia de desfiles, a ensolarada terça-feira, proporcionou
até mesmo deliciosas surpresas.
Logo cedo, a Marni era bem esperada. Afinal, já pareciam fora de
lugar os arroubos folk e boêmios
da grife desenhada por Consuelo
Castiglioni, que é menina-dos-olhos das editoras. Mais urbana,
com um pezinho retrô sem nenhum rastro de naftalina, ela investe nas cores modernas do momento (bege, rosa, marrom, cinza, verde e, principalmente, o
amarelo), para criar vestidos gráficos de estamparia bidimensional (à moda surrealista), alternando com florais e bolinhas e investindo pesado na bermuda como item básico da coleção. Bingo.
A Missoni vem com mais juventude e eletricidade, até mesmo no
penteado das modelos, transitando bem no sessentismo que lhe é
caro. Tubinhos-delícia e calças no
famoso ziguezague rendem as
melhores imagens.
De volta à via Fogazzaro, a Miu
Miu embarca numa viagem pós-Guerra, talvez sugerindo um desejado momento de paz, lembrando o final dos 40 e início dos
50. Bem retrô mesmo. Suas pin-ups têm como modernizador um
cintinho finíssimo usado sobre
tudo e um incrível batom vermelho plastificado. A cor chega até
ao divertido scarpin de verniz, refresco numa cartela de cores baixas e frias. O romantismo fica na doce estampa do artista francês
Raymond Peynet, presente também no convite. Mais do que em
temporadas anteriores, esta segunda linha completa o estilo da
marca principal, a Prada. Sem o
impacto do verão surfe, agrada,
principalmente nas peças básicas
que poderão forrar os guarda-roupas de suas garotas, informadas consumidoras de moda.
Mais tarde, num galpão de uma
antiga zona industrial milanesa,
Donatella Versace reuniria seus
fundamentos para celebrar o estilo da marca de sua família. O desfile poderia se chamar "O Ataque
dos Clones". Alçada na categoria
ícone, parece fazer sentido encher
a passarela com peças como se
saídas de seu próprio guarda-roupa. Primeiro Versus, bem rock-style, justo e apertado, bem 80.
Depois, na linha principal, reforçando a inspiração biker, moto,
esporte da estilista nesta estação,
leggings e jaquetas mais longas
aparecem na primeira parte do
desfile, no recorte de calças e saias
inventadas aparentemente para a
glorificação do quadril feminino.
Vida longa às popozudas da Versace, que depois ganham caros
vestidos de fitas e fivelas, corseletados, e saltos altíssimos, claro.
Saldo de Milão: a consolidação
do comprimento mini e a consagração do mantô (que pode ser
em pele, lã ou couro). Este pode
ter formato anos 50, como na Prada, ou 80, com grandes golas, como na Gucci (dois dos mais influentes desfiles da cidade). Consolidando a seda e o jersey como materiais importantes, o chifon é
o tecido do momento; a idéia são
vestidos levíssimos sob os grandes casacos, para as finas.
Esta foi uma temporada em que
o inverno ficou muitas vezes com
jeito de verão. Temos também o
auge da calça tipo legging. Pernas
e cintura (mais alta) são as estrelas. O futurismo é uma realidade,
e os anos 60 aparecem como bola
da vez. Atenção para muitas cores, estampas e a alfaiataria, e para
o jogo de pegar peças e elementos
do guarda-roupa masculino (especialmente na camisaria e materiais). Com muitas luvas aqui e ali,
é a volta do "chic". Tipo no último
mesmo. Em si.
(ERIKA PALOMINO)
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