|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CINEMA
Três atores coadjuvantes do filme vão a Londres a convite de entidade inglesa para falar sobre a ONG Nós do Cinema
Trupe de "Cidade de Deus" leva projeto ao Reino Unido
ÉRICA FRAGA
DE LONDRES
As platéias só queriam saber sobre "Cidade de Deus". Mas os três
atores coadjuvantes da produção
brasileira, que fez sucesso no Reino Unido, estavam enfrentando o
frio de Londres para mostrar que,
para eles, tem havido vida própria
após o filme: apresentar o projeto
Nós do Cinema e tentar conseguir
apoio financeiro.
Cada um puxou a corda para
um lado e parece ter conseguido
um pouco do que queria. Até um
inesperado convite para estrearem como garotos-propaganda
de uma marca de produtos de beleza para negros no Reino Unido
os atores receberam.
"Essa foi a coisa mais curiosa
que aconteceu com a gente aqui",
disse à Folha Renato de Souza, 26,
presidente do Nós do Cinema,
que oferece cursos para jovens de
comunidades carentes no Rio.
Mas os "garotos", como eram
chamados carinhosamente pelos
organizadores dos eventos, estavam interessados mesmo em vender seu projeto.
"Estamos tentando reverter o
estigma de que somos só os atores
de "Cidade de Deus". Nós seguimos em frente, queremos apresentar nossos projetos", diz Luis
Nascimento, 27, que é coordenador da ONG para a qual também
dirige curtas, dois dos quais têm
sido exibidos durante a viagem.
Com Nascimento e Souza, que
até então só tinham viajado pela
América do Sul, também desembarcou em Londres Diego Batista,
15 (integrante do elenco da série
"Cidade dos Homens"), que queria "ver se era verdade mesmo
que existiam outros lugares fora
do Rio de Janeiro" e parecia encantado com a descoberta de que
"a neve é gelo, achei que fosse de
outra coisa".
A viagem foi organizada pela
ABC Trust, ONG britânica que
tem como foco ajudar crianças
carentes no Brasil e também
apóia o Nós do Cinema.
Eles chegaram ao Reino Unido
no último dia 23. Meio intimidados, curiosos e nervosos. Uma semana depois do desembarque,
contaram à Folha que já tinham
uma turma de amigos estudantes
aos quais ofereceram até uma feijoada feita com um feijão comprado em uma quitanda de produtos indianos e regada a "chilli".
Nascimento-que é o "político"
do grupo e confessa que até já quis
ser presidente da República-
disse que se identificou com os
muitos imigrantes de Londres.
"Eles são como nós", afirmou, explicando que passam por problemas de exclusão parecidos com os
dos pobres no Brasil.
Turismo e palestras
Os primeiros dias da viagem foram de puro turismo: Big Ben e
Camden Town foram para o topo
das preferências. Depois começou a agenda organizada pela
ABC. Uma das experiências que
mais agradaram aos atores foi a
aula que deram na universidade
Queen Mary. Do contato com os
alunos, surgiu, inclusive, a idéia
de fazer um projeto juntos.
Em vários dias, houve exibição
de curtas do Nós do Cinema assim como de trechos do filme inédito "Quase Dois Irmãos", de Lúcia Murat, sempre seguidas de
sessões de perguntas e respostas.
E a parte difícil poderia ter sido,
justamente, enfrentar as agressivas (no bom sentido) perguntas
das platéias, compostas por britânicos, outros estrangeiros e, claro,
brasileiros. Rolou de tudo: perguntaram se o filme mudara a vida deles financeiramente, se não
era hora de mostrar o outro lado
da favela, se o pagamento da Miramax a eles tinha ficado à altura
da bilheteria do filme.
Mas os três (que foram para Liverpool na última sexta-feira e, na
próxima sexta, partem para Portugal) deram conta do recado.
Texto Anterior: Mônica Bergamo Próximo Texto: Música: CD de Bocato traz o trombone à história do jazz brasileiro Índice
|