São Paulo, segunda-feira, 07 de março de 2005

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CINEMA

Três atores coadjuvantes do filme vão a Londres a convite de entidade inglesa para falar sobre a ONG Nós do Cinema

Trupe de "Cidade de Deus" leva projeto ao Reino Unido

ÉRICA FRAGA
DE LONDRES

As platéias só queriam saber sobre "Cidade de Deus". Mas os três atores coadjuvantes da produção brasileira, que fez sucesso no Reino Unido, estavam enfrentando o frio de Londres para mostrar que, para eles, tem havido vida própria após o filme: apresentar o projeto Nós do Cinema e tentar conseguir apoio financeiro.
Cada um puxou a corda para um lado e parece ter conseguido um pouco do que queria. Até um inesperado convite para estrearem como garotos-propaganda de uma marca de produtos de beleza para negros no Reino Unido os atores receberam.
"Essa foi a coisa mais curiosa que aconteceu com a gente aqui", disse à Folha Renato de Souza, 26, presidente do Nós do Cinema, que oferece cursos para jovens de comunidades carentes no Rio.
Mas os "garotos", como eram chamados carinhosamente pelos organizadores dos eventos, estavam interessados mesmo em vender seu projeto.
"Estamos tentando reverter o estigma de que somos só os atores de "Cidade de Deus". Nós seguimos em frente, queremos apresentar nossos projetos", diz Luis Nascimento, 27, que é coordenador da ONG para a qual também dirige curtas, dois dos quais têm sido exibidos durante a viagem.
Com Nascimento e Souza, que até então só tinham viajado pela América do Sul, também desembarcou em Londres Diego Batista, 15 (integrante do elenco da série "Cidade dos Homens"), que queria "ver se era verdade mesmo que existiam outros lugares fora do Rio de Janeiro" e parecia encantado com a descoberta de que "a neve é gelo, achei que fosse de outra coisa".
A viagem foi organizada pela ABC Trust, ONG britânica que tem como foco ajudar crianças carentes no Brasil e também apóia o Nós do Cinema.
Eles chegaram ao Reino Unido no último dia 23. Meio intimidados, curiosos e nervosos. Uma semana depois do desembarque, contaram à Folha que já tinham uma turma de amigos estudantes aos quais ofereceram até uma feijoada feita com um feijão comprado em uma quitanda de produtos indianos e regada a "chilli".
Nascimento-que é o "político" do grupo e confessa que até já quis ser presidente da República- disse que se identificou com os muitos imigrantes de Londres. "Eles são como nós", afirmou, explicando que passam por problemas de exclusão parecidos com os dos pobres no Brasil.

Turismo e palestras
Os primeiros dias da viagem foram de puro turismo: Big Ben e Camden Town foram para o topo das preferências. Depois começou a agenda organizada pela ABC. Uma das experiências que mais agradaram aos atores foi a aula que deram na universidade Queen Mary. Do contato com os alunos, surgiu, inclusive, a idéia de fazer um projeto juntos.
Em vários dias, houve exibição de curtas do Nós do Cinema assim como de trechos do filme inédito "Quase Dois Irmãos", de Lúcia Murat, sempre seguidas de sessões de perguntas e respostas.
E a parte difícil poderia ter sido, justamente, enfrentar as agressivas (no bom sentido) perguntas das platéias, compostas por britânicos, outros estrangeiros e, claro, brasileiros. Rolou de tudo: perguntaram se o filme mudara a vida deles financeiramente, se não era hora de mostrar o outro lado da favela, se o pagamento da Miramax a eles tinha ficado à altura da bilheteria do filme.
Mas os três (que foram para Liverpool na última sexta-feira e, na próxima sexta, partem para Portugal) deram conta do recado.


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