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MÚSICA
"Antologia da Canção Brasileira", com Léa Freire, é marca na carreira de instrumentista, que lança projeto funk
CD de Bocato traz o trombone à história do jazz brasileiro
RONALDO EVANGELISTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Figura cult, pouco conhecida do
público em geral, o trombonista
Bocato é hoje um dos mais expressivos instrumentistas brasileiros. Representante típico da
grande mistura que é a nossa música, Bocato se sente à vontade tocando -e toca, incansavelmente- jazz, samba, rock, funk, rap.
Topa tudo. Faz parte da banda
que acompanha cantores como
Felipe Dylon no "Domingão do
Faustão". Participa como músico
e arranjador de discos e shows de
Marcelo D2, Seu Jorge, RPM, Maria Rita, Noite Ilustrada. Comanda uma big band dançante em baladas de São Paulo.
Depois de anos à frente da Jam
Suburbana, banda tradicional na
noite paulistana, o músico agora
lidera projeto novo, Bocato.tocafunk, que estréia temporada hoje
no Armazém da Vila (r. Beira Rio,
116, SP, tel. 0/xx/11/3045-3573).
Formada por mais de dez músicos (incluindo naipe de sopros,
coro vocal e um dançarino que
parece saído de um filme dos anos
70), a banda toca de Prince a James Brown, passando por Tim
Maia e Jorge Ben. "Adoro fazer as
pessoas dançarem. Essa é uma
das funções mais nobres da música, animar o pessoal. E o que eu
quero é fazer isso com leveza, com
beleza, quero uma animação de
alto nível", diz.
Bocato também lança agora, em
parceria com a flautista e arranjadora Léa Freire, o excepcional
"Antologia da Canção Brasileira",
pela gravadora Maritaca. Com arranjos de Léa, outro enorme baluarte do instrumental nacional, o
disco sai dividido em dois volumes, um lançado neste começo de
ano e outro por vir no segundo semestre. Com interpretações sensíveis, de tirar o fôlego, de canções
como "Boa Noite, Amor", de José
Maria de Abreu, "Folha Morta",
de Ary Barroso, entre outras,
"Antologia" é o melhor CD da
carreira de ambos e um dos mais
relevantes discos da história do
jazz nacional recente.
"A idéia para esse CD nasceu
inspirada em músicos como Chet
Baker, mas principalmente naquele clássico álbum de baladas
do John Coltrane. Percebi que
nunca havia sido feito no Brasil
um disco como esse, só de interpretações lentas de canções brasileiras. Convidei a Léa para o projeto, e ela escreveu esses arranjos
geniais, eternizou as harmonias
de todas essas músicas", diz.
"Curioso é que a gente se conhece há mais de 20 anos, mas nunca
havíamos gravado um disco. Ela
sempre foi fiel ao lado instrumental da música. Tenho esse amor
por muitas coisas diferentes."
Nas lojas já há alguns meses, há
ainda o álbum "Cacique Cantareira", lançado pela gravadora independente Elo Music dentro da série CD7, que já tem álbuns de Itamar Assumpção e Naná Vasconcelos, sempre tocando sete músicas. Aqui, Bocato retoma o estilo
de discos anteriores: "acid samba" -termo que inventou para
definir seu samba-jazz dançante,
sua mistura de música brasileira,
improvisação e funk modernizado. Há samba à Miles Davis, e há
declaração de amor a Beethoven
levada pela percussão.
Com mais de 25 anos de experiência, Bocato tem história pra
contar. Começou tocando ainda
adolescente, no ABC. Fazia shows
e discos com sua banda Metalurgia e em pouco tempo virou músico "gente grande": aos 19 entrou
para a banda de Elis Regina. Seguiram-se shows e discos com
Roberto Carlos, Rita Lee, Arrigo
Barnabé e Hermeto Pascoal.
Depois, lançou vários álbuns
solo e atravessou o final dos anos
80 como um maldito, rebelde, vivendo a vida louca, até se recuperar, em meados dos 90. Gravou
então seis discos com o conjunto
Art Popular ("uma suingueira do
caramba!"), tocou em festivais e
gravou CDs na Europa, lançou
um elogiado álbum com interpretações de Pixinguinha...
Atualmente, derrete-se por uma
cantora chamada Aretha Marcos,
que está produzindo. Filha dos
cantores Antonio Marcos e Vanusa, Aretha era a garota de seis anos
que, nos anos 80, estrelava especiais da Globo como "Arca de
Noé" e "Plunct Plact Zuuum".
"Ela me lembra a Elis, que eu via
chorando de emoção enquanto
cantava e não entendia. Agora vejo a Aretha, é igual. Ela não canta,
ela interpreta. Ela chora e faz a
banda inteira chorar."
Antologia da Canção Brasileira
Artista: Léa Freire & Bocato
Lançamento: Maritaca
Quanto: R$ 25, em média
Cacique Cantareira
Artista: Bocato
Lançamento: Elo Music
Quanto: R$ 25, em média
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