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Cinema/estréias
"Fim da Linha" discute fé no dinheiro
Estréia na direção de Gustavo Steinberg, longa foi o último do ator Rubens de Falco, que morreu no dia 23 de fevereiro
Filme, exibido no último Festival de Roterdã, tem DNA de Sergio Bianchi e Marcelo Masagão, de quem Steinberg foi co-roteirista e produtor
EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL
Co-roteirista e produtor de
"Cronicamente Inviável"
(2000), de Sergio Bianchi, e de
"1,99 - Um Supermercado que
Vende Palavras" (2003), de
Marcelo Masagão, Gustavo
Steinberg estréia hoje "Fim da
Linha", seu primeiro longa como diretor e roteirista.
Em temática, assemelha-se
às experiências anteriores:
Steinberg costura sete histórias
em torno da relação do brasileiro com o dinheiro, numa galeria de personagens que inclui,
entre outros, o político corrupto Ernesto Alves. Inspirado no
ex-deputado João Alves, que
atribuía sua fortuna a sucessivos ganhos na loteria, este foi o
último papel de Rubens de Falco, morto no último dia 23/2.
A diferença, diz o diretor, que
divide a autoria do roteiro com
Guilherme Werneck, está na
"pegada". Segundo Steinberg,
as preocupações de Bianchi e
Masagão são as mesmas que
rondam a sua cabeça. Mas seu
filme é diferente. "Depois da
experiência de trabalhar nos
outros filmes, queria levantar
questões importantes, com viés
cômico, mas com uma mirada
mais profunda", diz Steinberg,
que exibiu o filme no começo
do ano no Festival de Roterdã.
"O longa é uma farsa social. A
idéia foi elevar o tom da realidade, até para poder retratar a
realidade. Se esses temas fossem tratados de forma naturalista, eu esconderia a realidade
mais do que a mostraria."
Chuva de dinheiro
Steinberg conta que seu ponto de partida foi uma "lendária"
declaração de um alto funcionário do Banco Mundial, que
teria dito que o único jeito de
resolver o problema da distribuição de renda no Brasil seria
fazer chover dinheiro. O que,
no filme, acontece sobre uma
manifestação pela paz no centro de São Paulo.
"Fim da Linha" contrapõe
seus personagens para criar
uma "metáfora tensa e bem-humorada das dificuldades e
dilemas" ligados à fé no poder
do dinheiro. O maior conflito
acontece entre o deputado Ernesto Alves (Falco) e Artur, jornalista
vivido por Leonardo Medeiros,
que perdeu seu emprego por
uma reportagem em que fazia
denúncias contra o político.
"O jornalista começa como
herói e termina vilão. E o deputado acaba sendo o único que
tem clareza do que está acontecendo", diz Steinberg.
As histórias paralelas de
"Fim da Linha" são ainda intercaladas por vinhetas com frases
do deputado como "O lucro de
uns só existe graças à cobiça de
outros". E pela saga do imigrante italiano nos Estados Unidos
Charles Ponzi (1882-1949), vista em imagens de arquivo obtidas por Steinberg nos EUA.
Golpista, Ponzi foi uma espécie
de precursor das pirâmides, conhecidas naquele país como
"Ponzi scheme" (esquema Ponzi), segundo o diretor. Deportado para a Itália, Ponzi acabou
vivendo no Rio, onde trabalhou
para a companhia aérea estatal
italiana. A empresa fechou, e
Ponzi morreu pobre.
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