São Paulo, sexta-feira, 07 de abril de 2000


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"Os Monólogos da Vagina" estréia no teatro e nas livrarias

da Sucursal do Rio

Há pouco mais de cinco anos, conversando com uma amiga, a escritora norte-americana Eve Ensler, 46, teve um estalo: por que as mulheres se sentem desconfortáveis em falar sobre suas vaginas?
O "estalo" acabou nos palcos. "Os Monólogos da Vagina", peça escrita por Ensler a partir de mais de 200 entrevistas com mulheres, estourou no circuito "off Broadway" em 1997 e agora chega ao Rio, dirigida por Miguel Falabella.
"As mulheres, de uma maneira geral, não pensam em vaginas. Os homens falam de seus pênis o tempo todo. Por que nós não?", diz Ensler, que lança no Rio, pela editora Bertrand Brasil, uma adaptação de "Os Monólogos da Vagina". São trechos das várias entrevistas feitas pela autora. Há momentos emocionantes, como o depoimento da mulher bósnia sobre os constantes estupros sofridos durante a guerra.
Mas, além da estréia da peça e do lançamento do livro, a vinda de Ensler ao Rio tem outro objetivo. É na cidade que ela vai iniciar a pesquisa para um novo livro.
Agora, Eve Ensler quer ouvir das mulheres o que elas acham de seus corpos, por que vivem insatisfeitas com eles e por que os modificam.
Para isso, nos próximos quatro meses, a escritora vai visitar 14 países. O Rio, por ser uma espécie de "paraíso" da cirurgia plástica, foi escolhido como o ponto de partida do novo trabalho.
A escritora assustou-se ao ouvir que há poucos dias uma mulher foi atendida em um hospital depois de ter recebido nos seios injeções de silicone usado em carros.
"Ela é a imagem do desespero. Uma cirurgia nos seios é uma das coisas mais assustadoras que já vi. Como alguém pode fazer isso com seu corpo?", diz.
Ensler sabe o que vai procurar nos países que irá visitar. A escritora conta, por exemplo, que, em algumas regiões da Nigéria, as mulheres são obrigadas a comer muito para engordar -um símbolo de beleza na região.
"Enquanto isso, na Noruega, meninas de 12 anos fazem dietas e emagrecem até quase morrer." Do Rio, ela seguirá para Los Angeles. Lá floresce a "indústria" da cirurgia plástica cosmética da vulva. "Alguém disse às mulheres que elas poderiam ficar mais bonitas se tivessem um clitóris menor, ou lábios mais finos, ou uma vagina mais estreita, e elas acreditaram."
Em suas pesquisas, descobriu na Nigéria as "pílulas secas", feitas de ervas que secam as vaginas para que haja mais atrito durante o ato sexual. Já na Índia, as mulheres fazem de tudo para clarear suas peles.
E, no Japão, usam saltos gigantescos, que causam acidentes, tombos e ferimentos sérios.
"É inacreditável ver como, por desconforto com seus corpos, as pessoas fazem coisas terríveis. É uma questão cultural."
(CRISTINA GRILLO)


Peça: Os Monólogos da Vagina Direção: Miguel Falabella Quando: a partir de amanhã. Quinta a sábado, às 21h30; dom., às 20h
Onde: Teatro Clara Nunes (av. Marquês de São Vicente, 52; tel. 0/xx/21/274-9696)
Quanto: quinta, R$ 20; sexta e dom., R$ 25; sáb., R$ 30


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