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NO RIO
"Ilha Desconhecida" chega ao palco e pode alcançar o cinema
da Redação
Não é de hoje que José Saramago vai ao teatro. No final dos anos
70, e ao longo dos 80, por exemplo, ele escreveu peças como "A
Noite", "A Segunda Vida de Francisco de Assis" e "Que Farei com
Este Livro?". Mas hoje, com a estréia de "Ilha Desconhecida" no
Centro de Arte Hélio Oiticica, no
Rio, o romancista português, Nobel de Literatura, terá sua obramais fincada no território do palco -pelo menos no de cá.
Foi o próprio autor de "Memorial do Convento" (82) quem deflagrou o processo da montagem
do grupo carioca Studio Stanislavski. Por ocasião da sua participação na Bienal do Livro, um ano
atrás, a diretora Celina Sodré, 45,
criou uma performance de 20 minutos para apresentar no evento,
já tomando como base o "Conto
da Ilha Desconhecida", publicado
por Saramago em 98.
Aquele "estudo cênico", como
diz Celina, trazia apenas a Mulher
da Faxina como personagem, interpretada por Paula Delecave. Na
ocasião, o escritor não só assistiu
a um ensaio como também à
apresentação da performance.
"Só raras vezes a beleza da palavra, da voz e do gesto pôde alcançar as alturas a que minha "Ilha
Desconhecida" foi levada", escreveu o autor no início da série de
correspondências mantidas com
a diretora, ao ponto de intermediar o patrocínio do Instituto Camões para o projeto.
Na sua "cirurgia dramatúrgica",
Celina desenhou a história do homem (Miguel Lunardi) que vive
numa ilha e se vê surpreendido
pelo carisma e conhecimento da
Mulher da Faxina (Paula). Ela interfere decisivamente no seu processo de criação literária.
As circunstâncias levam a uma
identificação do personagem com
Saramago -fora da ficção, o habitante mais ilustre de Lanzarote,
uma pequena ilha das Canárias.
Mas a remissão não é explícita.
"Com exceção do prólogo e do
epílogo, escritos por mim, tudo o
que é dito em cena vem do texto
do Saramago", diz Celina.
Em cena, o livro do personagem
não é escrito em máquina ou
computador. Seu conteúdo é registrado no pequeno gravador
que o protagonista traz consigo o
tempo todo. "Como se escrevesse
o texto no ar", compara.
Apesar de o Studio Stanislaviski
de Pesquisa e Formação Teatral
existir há dez anos, como grupo e
instituição que realiza cursos, a
concepção da nova montagem
tem na linguagem cinematográfica o seu principal alicerce.
Tanto o prólogo quando o epílogo foram filmados em película e
transformados em curtas com
duração de 13 minutos cada um
-devidamente inseridos no espetáculo. Da marcação dos atores
até os detalhes do espaço cenográfico, passando pelo figurino,
tudo já nasceu para a concretização do filme logo após a temporada da peça. Falta o sonho rimar
com verba.
(VALMIR SANTOS)
Peça: Ilha Desconhecida
Autor: José Saramago
Diretora: Celina Sodré
Com: grupo Studio Stanislaviski
Quando: estréia hoje, às 19h; de qui. a
dom., às 19h
Onde: Centro de Arte Hélio Oiticica (r.
Luís de Camões, 68, Rio de Janeiro, tel.
0/xx/21/232-4213)
Quanto: R$ 15
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