São Paulo, sexta-feira, 07 de abril de 2000


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NO RIO
"Ilha Desconhecida" chega ao palco e pode alcançar o cinema

da Redação

Não é de hoje que José Saramago vai ao teatro. No final dos anos 70, e ao longo dos 80, por exemplo, ele escreveu peças como "A Noite", "A Segunda Vida de Francisco de Assis" e "Que Farei com Este Livro?". Mas hoje, com a estréia de "Ilha Desconhecida" no Centro de Arte Hélio Oiticica, no Rio, o romancista português, Nobel de Literatura, terá sua obramais fincada no território do palco -pelo menos no de cá.
Foi o próprio autor de "Memorial do Convento" (82) quem deflagrou o processo da montagem do grupo carioca Studio Stanislavski. Por ocasião da sua participação na Bienal do Livro, um ano atrás, a diretora Celina Sodré, 45, criou uma performance de 20 minutos para apresentar no evento, já tomando como base o "Conto da Ilha Desconhecida", publicado por Saramago em 98.
Aquele "estudo cênico", como diz Celina, trazia apenas a Mulher da Faxina como personagem, interpretada por Paula Delecave. Na ocasião, o escritor não só assistiu a um ensaio como também à apresentação da performance.
"Só raras vezes a beleza da palavra, da voz e do gesto pôde alcançar as alturas a que minha "Ilha Desconhecida" foi levada", escreveu o autor no início da série de correspondências mantidas com a diretora, ao ponto de intermediar o patrocínio do Instituto Camões para o projeto.
Na sua "cirurgia dramatúrgica", Celina desenhou a história do homem (Miguel Lunardi) que vive numa ilha e se vê surpreendido pelo carisma e conhecimento da Mulher da Faxina (Paula). Ela interfere decisivamente no seu processo de criação literária.
As circunstâncias levam a uma identificação do personagem com Saramago -fora da ficção, o habitante mais ilustre de Lanzarote, uma pequena ilha das Canárias. Mas a remissão não é explícita. "Com exceção do prólogo e do epílogo, escritos por mim, tudo o que é dito em cena vem do texto do Saramago", diz Celina.
Em cena, o livro do personagem não é escrito em máquina ou computador. Seu conteúdo é registrado no pequeno gravador que o protagonista traz consigo o tempo todo. "Como se escrevesse o texto no ar", compara.
Apesar de o Studio Stanislaviski de Pesquisa e Formação Teatral existir há dez anos, como grupo e instituição que realiza cursos, a concepção da nova montagem tem na linguagem cinematográfica o seu principal alicerce.
Tanto o prólogo quando o epílogo foram filmados em película e transformados em curtas com duração de 13 minutos cada um -devidamente inseridos no espetáculo. Da marcação dos atores até os detalhes do espaço cenográfico, passando pelo figurino, tudo já nasceu para a concretização do filme logo após a temporada da peça. Falta o sonho rimar com verba. (VALMIR SANTOS)


Peça: Ilha Desconhecida Autor: José Saramago Diretora: Celina Sodré Com: grupo Studio Stanislaviski Quando: estréia hoje, às 19h; de qui. a dom., às 19h Onde: Centro de Arte Hélio Oiticica (r. Luís de Camões, 68, Rio de Janeiro, tel. 0/xx/21/232-4213) Quanto: R$ 15

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