|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
6º FESTIVAL É TUDO VERDADE
"SOUTHERN COMFORT"
Diretora fala à Folha sobre o transexual que serviu de tema ao seu filme, vencedor em Sundance
Kate Davis registra adeus de transgressor
BRUNO GARCEZ
DA REPORTAGEM LOCAL
Robert Head é um caubói de
meia-idade, pai de dois filhos, que
enfrenta um câncer terminal. Ele
é o tema do documentário "Southern Comfort", vencedor do
grande prêmio do júri no último
Festival de Sundance. Mas a produção, que passa hoje no Festival
É Tudo Verdade, não trata do Velho Oeste agonizante ou de um típico homem norte-americano.
Robert Head é chamado de
"mãe" por seu filho mais velho e
foi batizado como Barbara. De fato, ele sofre de câncer... no ovário.
Assim como sua parceira, Lola,
Robert é um transexual, nascido
no tradicional Estado sulista da
Georgia. A diretora do filme, Kate
Davis, conta em entrevista à Folha como conheceu seu protagonista e o que a levou a realizar
"Southern Comfort".
Folha - Como você conheceu Robert e soube de sua história?
Kate Davis - Eu o conheci em
uma convenção de mulheres que
se converteram em homens, em
Maryland, quando gravava um
documentário para a rede A&E
sobre pessoas "transgênero" que
lutavam por seus direitos civis.
Encontrei pessoas interessantes, com histórias comoventes,
mas ninguém me impactou tanto
quanto Robert.
Talvez tenha sido uma combinação de seu charme, humor e
aparência de caubói com sua trágica luta para encontrar um médico que tratasse seu câncer de ovário. Achei que, se ele não conseguisse romper com os estereótipos ligados aos transexuais, ninguém mais conseguiria.
Robert entendeu que, ao contar
sua história para o mundo, talvez
sua morte não fosse em vão e ajudasse a abrir corações e mentes.
Folha - O que julgou mais interessante a respeito dele, sua vida
transgressora ou o preconceito que
ele encarou?
Davis - Eu amei a forma como
ele viveu plenamente a vida que
escolheu. A despeito das perdas e
riscos, Robert teve a coragem de
ser sincero com ele mesmo. O
mais interessante do preconceito
é que ele incide sobre algo que não
é nada ameaçador.
Há terroristas e serial killers lá
fora, mas cabe a um homem com
genitália feminina gerar ódio e
aversão. Isso demonstra insegurança por parte de alguns heterossexuais.
Folha - Quais suas principais
preocupações ao fazer o filme?
Davis - Tinha receios de que o filme fosse muito obscuro para a
platéia e estou vendo que é o contrário. Robert passa pelo "homem
comum", daí as pessoas se identificarem com ele.
Por vezes julguei desconfortável
estar registrando os últimos momentos de sua vida, especialmente quando o acompanhei no hospital. Mas ele entendeu a importância disso para o filme. Em certo
ponto, Robert perguntou até se eu
queria filmar a sua cremação.
Folha - "Southern Comfort" teve
baixo orçamento e foi gravado em
vídeo. O tema controverso afugentou produtores?
Davis - Não fui atrás de produtores e nem mesmo busquei recursos. A equipe de produção se resumia a mim e outra pessoa. Eu
gravei todas as imagens.
Filme: Southern Comfort
Direção: Kate Davis
Quando: hoje, à meia-noite
Onde: Cinesesc (r. Augusta, 2.075, São
Paulo, SP, tel. 0/xx/11/3064-1668)
Quanto: entrada franca
Texto Anterior: Panorâmica - Evento: Moacyr Scliar debate com o público de SP Próximo Texto: "Glauces - Estudo de Um Rosto: " Pizzini dá vida às faces da atriz brasileira Índice
|