|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MULTIMÍDIA
"São Paulo Corpo e Alma" compila em livro, CD e DVD manifestações existentes em várias regiões do Estado
Projeto triplo visita cultura popular de SP
ISRAEL DO VALE
DA REPORTAGEM LOCAL
A São Paulo que São Paulo desconhece mostra sua face, de soslaio. Espécie de revisão das expedições bandeirantes, agora em
busca da riqueza cultural que não
reluz (mas vale ouro), o projeto
"São Paulo Corpo e Alma" dá voz
e cara a uma parcela da infinidade
de manifestações populares que
vicejam pelo Estado.
Acondicionado em formato tríplice (CD, DVD e livro), o rebento
assinado pela Associação Cultural
Cachuera!, do etnomusicólogo
Paulo Dias, nasceu com certo "pedigree" institucional, como desdobramento do evento "Revelando São Paulo", desenvolvido pela
gestão anterior da Secretaria de
Estado da Cultura.
Cortou o cordão umbilical,
cresceu e ganhou autonomia relativa -maculada pelos resquícios
dispensáveis da parceria, no prefácio do ex-secretário Marcos
Mendonça (no livro) e no depoimento de outro membro da pasta
sobre o engajamento da secretaria
na área, logo nos momentos iniciais do documentário.
Extraído da lavra de um grande
estudioso do assunto, o material
está longe de tratamentos acadêmicos aborrecidos. É, isto sim,
um precioso apanhado de apresentações e relatos -um cortejo
pelas diversas formas de dança e
canto, na maior parte de matriz
religiosa, que, desde a colonização, estilhaçaram-se pelo interior,
Grande São Paulo e sobrevivem
hoje quase sigilosamente, até
mesmo na capital.
O caráter devocional prevalece.
"É possível detectar de 15 a 20 núcleos de grandes temas recorrentes nas tradições populares brasileiras, que se repetem em diversas
regiões do país", conta Paulo
Dias, 43.
A romaria documental privilegia a diversidade da produção
cultural popular, em vez de seus
personagens. Passeia por manifestações como a congada, as folias de reis e do divino, os toques
de berrante, o cururu, o catira, o
fandango, a dança de são Gonçalo, o batuque de umbigada, o jongo e o samba-lenço.
A incorporação de referências
da cultura popular por rock ou
música eletrônica é, hoje, um manancial inexplorado no Estado, ao
contrário do que se vê em Pernambuco ou Minas Gerais.
Entre as raras exceções, em território paulista, estão o grupo A
Barca e a banda de rock Caboclada, que insinua debruçar-se sobre
o universo caipira -ou naquilo
que Antonio Candido chama de
"procurar o que há nele de autêntico", com a ressalva de que não
seja "no sentido impossível do
originariamente puro".
"São Paulo Corpo e Alma" é um
belo cartão-postal de uma paisagem cultural negligenciada. Por
preconceito, desconhecimento ou
mero deslumbramento com o
que vem de fora, essa vastidão de
modalidades musicais circula timidamente pelo Estado -seja fisicamente (pelas restrições de recursos decorrentes do fato de serem os grupos quase sempre numerosos, para algo de pouco apelo comercial), seja em registros de
áudio ou vídeo (pela falta de uma
atuação continuada de empreendimentos como o que o selo Marcus Pereira fez bravamente nos
anos de 1970 ou o antropólogo
Hermano Viana encabeçou em
fins da década passada, na série
"Música do Brasil").
SÃO PAULO CORPO E ALMA.
Lançamento dia 15/4 às 20h, na
Associação Cultural Cachuera! (r. Monte
Alegre, 1.094, tel.: 0/xx/11/3872-8113,
Perdizes). Quanto: R$ 45 (venda pelo e-mail cachuera@ cachuera.org.br, ou
na Fnac, livraria da Vila e livraria Cultura).
Texto Anterior: Literatura: Jornalista descarrega opressões das mulheres chinesas Próximo Texto: Política cultural: Museu é fechado em tempo recorde Índice
|