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São Paulo, segunda-feira, 07 de abril de 2003

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MULTIMÍDIA

"São Paulo Corpo e Alma" compila em livro, CD e DVD manifestações existentes em várias regiões do Estado

Projeto triplo visita cultura popular de SP

ISRAEL DO VALE
DA REPORTAGEM LOCAL

A São Paulo que São Paulo desconhece mostra sua face, de soslaio. Espécie de revisão das expedições bandeirantes, agora em busca da riqueza cultural que não reluz (mas vale ouro), o projeto "São Paulo Corpo e Alma" dá voz e cara a uma parcela da infinidade de manifestações populares que vicejam pelo Estado.
Acondicionado em formato tríplice (CD, DVD e livro), o rebento assinado pela Associação Cultural Cachuera!, do etnomusicólogo Paulo Dias, nasceu com certo "pedigree" institucional, como desdobramento do evento "Revelando São Paulo", desenvolvido pela gestão anterior da Secretaria de Estado da Cultura.
Cortou o cordão umbilical, cresceu e ganhou autonomia relativa -maculada pelos resquícios dispensáveis da parceria, no prefácio do ex-secretário Marcos Mendonça (no livro) e no depoimento de outro membro da pasta sobre o engajamento da secretaria na área, logo nos momentos iniciais do documentário.
Extraído da lavra de um grande estudioso do assunto, o material está longe de tratamentos acadêmicos aborrecidos. É, isto sim, um precioso apanhado de apresentações e relatos -um cortejo pelas diversas formas de dança e canto, na maior parte de matriz religiosa, que, desde a colonização, estilhaçaram-se pelo interior, Grande São Paulo e sobrevivem hoje quase sigilosamente, até mesmo na capital.
O caráter devocional prevalece. "É possível detectar de 15 a 20 núcleos de grandes temas recorrentes nas tradições populares brasileiras, que se repetem em diversas regiões do país", conta Paulo Dias, 43.
A romaria documental privilegia a diversidade da produção cultural popular, em vez de seus personagens. Passeia por manifestações como a congada, as folias de reis e do divino, os toques de berrante, o cururu, o catira, o fandango, a dança de são Gonçalo, o batuque de umbigada, o jongo e o samba-lenço.
A incorporação de referências da cultura popular por rock ou música eletrônica é, hoje, um manancial inexplorado no Estado, ao contrário do que se vê em Pernambuco ou Minas Gerais.
Entre as raras exceções, em território paulista, estão o grupo A Barca e a banda de rock Caboclada, que insinua debruçar-se sobre o universo caipira -ou naquilo que Antonio Candido chama de "procurar o que há nele de autêntico", com a ressalva de que não seja "no sentido impossível do originariamente puro".
"São Paulo Corpo e Alma" é um belo cartão-postal de uma paisagem cultural negligenciada. Por preconceito, desconhecimento ou mero deslumbramento com o que vem de fora, essa vastidão de modalidades musicais circula timidamente pelo Estado -seja fisicamente (pelas restrições de recursos decorrentes do fato de serem os grupos quase sempre numerosos, para algo de pouco apelo comercial), seja em registros de áudio ou vídeo (pela falta de uma atuação continuada de empreendimentos como o que o selo Marcus Pereira fez bravamente nos anos de 1970 ou o antropólogo Hermano Viana encabeçou em fins da década passada, na série "Música do Brasil").


SÃO PAULO CORPO E ALMA. Lançamento dia 15/4 às 20h, na Associação Cultural Cachuera! (r. Monte Alegre, 1.094, tel.: 0/xx/11/3872-8113, Perdizes). Quanto: R$ 45 (venda pelo e-mail cachuera@ cachuera.org.br, ou na Fnac, livraria da Vila e livraria Cultura).


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