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DISCO/LANÇAMENTO
Um dos criadores do gênero, Humberto Teixeira é lembrado por Caetano, Bethânia, Chico e outros
MPB rende tributo misto a "doutor do baião"
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL
Tributos à sabedoria do
baião têm sido comuns na
discografia brasileira, mas quase
sempre focalizam sua figura central, o pernambucano Luiz Gonzaga (1912-89). Agora o disco-tributo "O Doutor do Baião", do selo independente carioca Biscoito
Fino, pega o contorno e fecha
questão no mais importante parceiro de Gonzaga, o cearense
Humberto Teixeira (1916-79).
O elenco é "all star", com Caetano Veloso, Maria Bethânia, Gal
Costa e Sivuca, Chico Buarque,
Gilberto Gil, Fagner, Elba Ramalho, Zeca Pagodinho, Lenine, Rita
Ribeiro e o mais noviço Cordel do
Fogo Encantado. Wagner Tiso se
responsabiliza pelos arranjos.
A opção por Humberto Teixeira
não deixa de ser um malabarismo, porque homenageando-o estarão automaticamente integradas ao repertório "Asa Branca",
"Baião", "Qui Nem Jiló", "Paraíba" e outras peças fundadoras do
gênero e da obra de Luiz Gonzaga.
Mas o novo recorte permite
também alguns desvios dessa rota. É o que ocorre quando Chico
Buarque canta "Kalu", que se tornou um clássico do repertório
mais urbano de Dalva de Oliveira.
O mesmo ocorre quando Rita Ribeiro re-revela "Sinfonia do Café", primeira composição gravada
de Humberto Teixeira.
O disco-tributo nasce de um
show ocorrido no ano passado,
no teatro Rival, no Rio, em homenagem ao "doutor do baião" (a
brincadeira se deve a que ele estudou medicina e se formou em direito). Mas as quatro primeiras
faixas do CD fogem à regra: foram
gravadas em estúdio, especialmente para o disco.
São elas "Asa Branca" (com Bethânia), "Baião de Dois" (com
Caetano), "Adeus, Maria Fulô"
(num encontro de Gal com o co-autor e sanfoneiro Sivuca) e a já
citada "Kalu" de Chico.
Principalmente devido à profunda delicadeza das gravações de
Bethânia e de Caetano, essas quatro faixas de entrada criam certo
desnível com o resto do CD, que
de resto segue o formato apressado das gravações ao vivo.
Gilberto Gil e Elba Ramalho encontram-se em casa em "No Meu
Pé de Serra", "Juazeiro" (Gil),
"Paraíba", "Assum Preto" e "Légua Tirana" (Elba, sendo essa última em dueto com Fagner). Mas,
como ambos vêm de duplas recentes de álbuns de estúdio e ao
vivo dedicados a Luiz Gonzaga,
estabelece-se em paralelo o efeito
de redundância que a MPB vem
tanto apreciando hoje em dia.
Se não mais precisos, soam por
isso mais curiosos os encontros
entre Rita Ribeiro e "Sinfonia do
Café" (com belo e antigo arranjo)
e entre o jovem Cordel do Fogo
Encantado e "Mangaratiba". No
caso do Cordel, a personalidade
do grupo chega a sobrepujar a do
homenageado.
Falta citar, entretanto, o momento mais impactante do CD.
Trata-se da interpretação da canção-paradigma "Baião" pela veterana Carmélia Alves.
Apresentada pela primeira vez
em 1946, "Baião" ("eu vou mostrar pra vocês/ como se dança o
baião") definiu parâmetros para
tudo que se chamou e ainda se
chama forró.
Carmélia Alves ajudou a estender o domínio popular do gênero
pela década de 50, recebendo o
epíteto de "rainha do baião". Aos
78 anos, canta "Baião" com voz
grave, imponente, soberana.
O Doutor do Baião - Humberto
Teixeira
Artistas: vários
Lançamento: Biscoito Fino
Quanto: R$ 18, no site
www.biscoitofino.com.br
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