São Paulo, sexta-feira, 07 de abril de 2006

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DUAS VISÕES SOBRE "BOLEIROS 2"

Falta cinema a "Boleiros 2"

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
EDITOR DA ILUSTRADA

A escolha de um universo delimitado cria facilidades e dificuldades para o filme de Ugo Giorgetti. No caso, como se sabe, estamos no reino dos boleiros, o círculo mais íntimo do futebol. Mais do que isso, estamos imersos na cultura paulista, com tipos e sotaques característicos -embora haja lugar para um pouco de Rio, o que não chega a retirar a narrativa, às vezes à beira do "documental", de seu território.
Entre as facilidades da escolha, talvez se possa incluir o fato de que não é preciso muito mais do que contar boas histórias e peripécias de boleiros -como faz o diretor- para cativar os fãs de futebol. Mais complicado é obter um resultado cinematográfico e dramático que transcenda o círculo da crônica futebolística e a simples identificação dos boleiros da poltrona com os da tela.
É verdade que o filme procura crescer para o pano de fundo social, universalizando uma situação brasileira -tanto em seus aspectos divertidos quanto nos sombrios, como o oportunismo, a falta de ética, a marginalidade.
Mas isso não sana, a meu ver, a principal restrição que se pode fazer a "Boleiros 2": falta cinema.
Como fã de futebol, diverti-me com as histórias e os comentários marcadamente masculinos (e deliciosamente paulistas, italianados) que desfilam na tela. Mas fiquei com a sensação de estar diante de uma dramaturgia mais televisa -embora não da Globo- do que cinematográfica. Não há vôos. A ambição parece ter se consumido na trabalhosa costura da narrativa, que envolve vários personagens e situações -e o faz com habilidade.
Simplificando: se você (como eu) gosta de futebol, histórias engraçadas, tragicômicas, melancólicas, envolvendo técnicos, jogadores, empresários e maria-chuteiras, vá tranqüilo. Se está, no entanto, esperando algo mais, como imaginação e arrojo cinematográfico e dramático, vai se frustrar.


Avaliação:   

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