São Paulo, sexta-feira, 07 de abril de 2006

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CINEMA

Artista e cineasta critica filmes sobre a reunificação alemã

Jürgen Böttcher Strawalde recebe homenagem em festival na Bahia

SÉRGIO RIZZO
ENVIADO ESPECIAL A SALVADOR

A obra multifacetada do alemão Jürgen Böttcher Strawalde completou meio século, mas só recentemente foi "descoberta", culminando com uma homenagem no Festival de Berlim, em fevereiro deste ano. Foi ele quem assim o quis, ao optar pela permanência na antiga Alemanha Oriental, apesar dos conflitos com as autoridades e da censura, até a reunificação alemã, em 1990.
Hoje, continua a morar no lado oriental de Berlim e se dedica quase integralmente, como no início de carreira, à pintura, além de usar uma câmera digital para experiências caseiras. Entre um e outro momento, fez documentários durante três décadas para a TV estatal alemã, além de realizar curtas experimentais, como a série "Filmes Pintados" (1981)222.
O II Seminário Internacional de Cinema e Audiovisual, aberto em Salvador (BA) no dia 2 e que se estende até o próximo domingo, homenageia Strawalde com uma exposição de suas pinturas e uma retrospectiva de filmes que inclui o longa "O Muro" (1990), leitura da reunificação alemã a partir de imagens de arquivo. "Feliz e honrado" com o convite para vir pela primeira vez ao Brasil, Strawalde conversou com a Folha.

 

Folha - Como prefere ser visto?
Strawalde -
Como artista plástico. Comecei com a pintura. Agora, voltei a ela. O que me levou a realizar filmes foram também motivos políticos. Os críticos usavam termos como "abstracionismo", "cosmopolitismo" e "existencialismo" para se referir à minha obra, o que significava condená-la. Precisei buscar outra forma de expressão.

Folha - Não pensou em abandonar o país?
Strawalde -
Algumas pessoas me criticam por não ter feito isso. Eu queria ficar. Era perigoso, mas minha geração sentia culpa pela catástrofe da guerra. Não ficaria bem se fugisse para um paraíso. Tinha o sentimento do médico, que precisa ajudar as pessoas.

Folha - A camisa-de-força do realismo socialista o incomodava?
Strawalde -
A partir de certo momento, não era mais possível dizer o que desejava por meio da pintura. Muitos artistas se submetiam ao realismo socialista, mas o trabalho não tinha qualidade. Então, conheci [Sergei] Eisenstein, [Dziga] Vertov e [Aleksander] Dovjenko, e também o neo-realismo italiano. Eles me apontaram o caminho. Fui estudar cinema.

Folha - Como conciliou influências tão distintas?
Strawalde -
Dovjenko me ensinou a combinar isso, usando a poesia do neo-realismo, de um lado, e o construtivismo, de outro. "Terra" (1930) é bom exemplo.

Folha - "Adeus, Lênin" é um bom filme sobre a reunificação alemã?
Strawalde -
Ele não tem sensibilidade. É uma bobagem, uma grande piada. Outros filmes e programas de TV tratam com humor da reunificação, mas nenhum filme ou romance sério fez isso.

Folha - Por que você não faz?
Strawalde -
Tenho vontade de fazer um filme sobre o amor. Gostaria de fazer o que Stendhal conseguiu na literatura.


O jornalista Sérgio Rizzo viajou a convite da organização do evento.

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