|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CINEMA
Artista e cineasta critica filmes sobre a reunificação alemã
Jürgen Böttcher Strawalde recebe homenagem em festival na Bahia
SÉRGIO RIZZO
ENVIADO ESPECIAL A SALVADOR
A obra multifacetada do alemão
Jürgen Böttcher Strawalde completou meio século, mas só recentemente foi "descoberta", culminando com uma homenagem no
Festival de Berlim, em fevereiro
deste ano. Foi ele quem assim o
quis, ao optar pela permanência
na antiga Alemanha Oriental,
apesar dos conflitos com as autoridades e da censura, até a reunificação alemã, em 1990.
Hoje, continua a morar no lado
oriental de Berlim e se dedica quase integralmente, como no início
de carreira, à pintura, além de
usar uma câmera digital para experiências caseiras. Entre um e
outro momento, fez documentários durante três décadas para a
TV estatal alemã, além de realizar
curtas experimentais, como a série "Filmes Pintados" (1981)222.
O II Seminário Internacional de
Cinema e Audiovisual, aberto em
Salvador (BA) no dia 2 e que se estende até o próximo domingo,
homenageia Strawalde com uma
exposição de suas pinturas e uma
retrospectiva de filmes que inclui
o longa "O Muro" (1990), leitura
da reunificação alemã a partir de
imagens de arquivo. "Feliz e honrado" com o convite para vir pela
primeira vez ao Brasil, Strawalde
conversou com a Folha.
Folha - Como prefere ser visto?
Strawalde -Como artista plástico. Comecei com a pintura. Agora, voltei a ela. O que me levou a
realizar filmes foram também
motivos políticos. Os críticos usavam termos como "abstracionismo", "cosmopolitismo" e "existencialismo" para se referir à minha obra, o que significava condená-la. Precisei buscar outra forma
de expressão.
Folha - Não pensou em abandonar o país?
Strawalde -Algumas pessoas me
criticam por não ter feito isso. Eu
queria ficar. Era perigoso, mas
minha geração sentia culpa pela
catástrofe da guerra. Não ficaria
bem se fugisse para um paraíso.
Tinha o sentimento do médico,
que precisa ajudar as pessoas.
Folha - A camisa-de-força do realismo socialista o incomodava?
Strawalde -A partir de certo momento, não era mais possível dizer o que desejava por meio da
pintura. Muitos artistas se submetiam ao realismo socialista, mas o
trabalho não tinha qualidade. Então, conheci [Sergei] Eisenstein,
[Dziga] Vertov e [Aleksander]
Dovjenko, e também o neo-realismo italiano. Eles me apontaram o
caminho. Fui estudar cinema.
Folha - Como conciliou influências tão distintas?
Strawalde -Dovjenko me ensinou a combinar isso, usando a
poesia do neo-realismo, de um lado, e o construtivismo, de outro.
"Terra" (1930) é bom exemplo.
Folha - "Adeus, Lênin" é um bom
filme sobre a reunificação alemã?
Strawalde -Ele não tem sensibilidade. É uma bobagem, uma grande piada. Outros filmes e programas de TV tratam com humor da
reunificação, mas nenhum filme
ou romance sério fez isso.
Folha - Por que você não faz?
Strawalde -Tenho vontade de fazer um filme sobre o amor. Gostaria de fazer o que Stendhal conseguiu na literatura.
O jornalista Sérgio Rizzo viajou a convite da organização do evento.
Texto Anterior: Popload: Gruuuuuuuunge! Próximo Texto: Panorâmica - Dança: Teatro Itália receberá projeto de dança Índice
|