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Crítica/show
Rod Stewart parece cantar em baile de formatura em SP
Artista anglo-escocês faz público dançar seus hits entre um salgadinho e outro
IVAN FINOTTI
EDITOR DO FOLHATEEN
A boa notícia é que estamos no início de abril e
o pior show do ano já
aconteceu. Daqui para a frente,
só shows melhores que o de
Rod Stewart na última sexta, no
Parque Antarctica, em SP.
Há muito que a música pop
desistiu de respirar o ar rarefeito das "Artes" (com "Azão") e se
contenta com patamares mais
baixos do "Entretenimento".
Rod Stewart, morador há 30
anos de Los Angeles, capital
mundial desse tipo de diversão,
é adepto franco dessa estratégia. Nunca se preocupou em
mudar rumos do rock ou cantar
letras transformadoras, mas o
show que apresentou em São
Paulo é espantoso: é como o de
um baile de formatura.
O público agradeceu -adorou até- os vários hits, todos
executados com certa emoção.
Mas a emoção era a de festas de
casamento, em que o foco é fazer os tios que vieram da fazenda, especialmente para a ocasião, dançarem entre uma coxinha e um refrigerante. O som
baixo e as cadeiras de plástico
no gramado contribuíam bastante para esse clima.
Elegantérrimo -no limite do
possível em que alguém fica
chique num paletó amarelo
ovo-, Stewart iniciou o show
às 22h42, com sete minutos de
atraso, e logo se desculpou. Disse que um contratempo segurou seu avião no Rio, para onde
voltou logo após a apresentação
de SP (que teve 15 mil dos 26
mil ingressos vendidos).
"Tonight's the Night", "Sailing", "Maggie May", "Da Ya
Think I'm Sexy?", "Hot Legs",
"Baby Jean", os hits estavam
todos lá anteontem, lembrando
que Stewart, certa vez, foi um
dos melhores cantores de rock
de seu tempo -e grande compositor também.
Mas isso foi há muito tempo,
lá nos anos 70, bem antes de ele
se transmutar de admirado intérprete para legítimo rei do
karaokê dos anos 00, com seus
quatro discos de standards
americanos da velha-guarda.
Família Lima do rock
Seu último CD, "Great Classic Rock of All Times" (2006),
segue a mesma linha. Abre com
"Have You Ever Seen the Rain",
do Creedence Clearwater Revival. E foi esse o maior sucesso
anteontem, com todos dançando e cantando juntos.
Importante para entender o
clima raso: quando Stewart falava sobre a chuva da música, os
telões simulavam uma garoa
sobre a banda; quando cantava
"sunny day" (dia ensolarado),
aparecia um... dia ensolarado.
A mesma coisa em "Sailing":
a letra fala em navegar, aparecem barcos; quando chega a hora de voar, vemos aviões.
No início do show, "It's a
Heartache", sucesso de Bonnie
Tyler que emulava Rod Stewart
em 1978, mostrou nada mais
que Rod Stewart emulando
Bonnie Tyler.
E tem ainda as oito lindas garotas de pernas de fora. Três
cantam, duas dançam e as outras três formam uma espécie
de Família Lima do rock, tocando violino, bandolins e sax.
Há outros momentos de espanto, mas o maior deles é
quando, num sumiço de Stewart para trocar de roupa, uma
das backing vocals canta inteirinha "Crazy", hit de Gnarls
Barkley de 2006. Mas o que
Rod Stewart tem a ver com isso? Nada.
Avaliação: péssimo
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