São Paulo, segunda-feira, 07 de abril de 2008

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Crítica/show

Rod Stewart parece cantar em baile de formatura em SP

Artista anglo-escocês faz público dançar seus hits entre um salgadinho e outro

IVAN FINOTTI
EDITOR DO FOLHATEEN

A boa notícia é que estamos no início de abril e o pior show do ano já aconteceu. Daqui para a frente, só shows melhores que o de Rod Stewart na última sexta, no Parque Antarctica, em SP.
Há muito que a música pop desistiu de respirar o ar rarefeito das "Artes" (com "Azão") e se contenta com patamares mais baixos do "Entretenimento".
Rod Stewart, morador há 30 anos de Los Angeles, capital mundial desse tipo de diversão, é adepto franco dessa estratégia. Nunca se preocupou em mudar rumos do rock ou cantar letras transformadoras, mas o show que apresentou em São Paulo é espantoso: é como o de um baile de formatura.
O público agradeceu -adorou até- os vários hits, todos executados com certa emoção. Mas a emoção era a de festas de casamento, em que o foco é fazer os tios que vieram da fazenda, especialmente para a ocasião, dançarem entre uma coxinha e um refrigerante. O som baixo e as cadeiras de plástico no gramado contribuíam bastante para esse clima.
Elegantérrimo -no limite do possível em que alguém fica chique num paletó amarelo ovo-, Stewart iniciou o show às 22h42, com sete minutos de atraso, e logo se desculpou. Disse que um contratempo segurou seu avião no Rio, para onde voltou logo após a apresentação de SP (que teve 15 mil dos 26 mil ingressos vendidos).
"Tonight's the Night", "Sailing", "Maggie May", "Da Ya Think I'm Sexy?", "Hot Legs", "Baby Jean", os hits estavam todos lá anteontem, lembrando que Stewart, certa vez, foi um dos melhores cantores de rock de seu tempo -e grande compositor também.
Mas isso foi há muito tempo, lá nos anos 70, bem antes de ele se transmutar de admirado intérprete para legítimo rei do karaokê dos anos 00, com seus quatro discos de standards americanos da velha-guarda.

Família Lima do rock
Seu último CD, "Great Classic Rock of All Times" (2006), segue a mesma linha. Abre com "Have You Ever Seen the Rain", do Creedence Clearwater Revival. E foi esse o maior sucesso anteontem, com todos dançando e cantando juntos.
Importante para entender o clima raso: quando Stewart falava sobre a chuva da música, os telões simulavam uma garoa sobre a banda; quando cantava "sunny day" (dia ensolarado), aparecia um... dia ensolarado.
A mesma coisa em "Sailing": a letra fala em navegar, aparecem barcos; quando chega a hora de voar, vemos aviões.
No início do show, "It's a Heartache", sucesso de Bonnie Tyler que emulava Rod Stewart em 1978, mostrou nada mais que Rod Stewart emulando Bonnie Tyler.
E tem ainda as oito lindas garotas de pernas de fora. Três cantam, duas dançam e as outras três formam uma espécie de Família Lima do rock, tocando violino, bandolins e sax.
Há outros momentos de espanto, mas o maior deles é quando, num sumiço de Stewart para trocar de roupa, uma das backing vocals canta inteirinha "Crazy", hit de Gnarls Barkley de 2006. Mas o que Rod Stewart tem a ver com isso? Nada.
Avaliação: péssimo


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