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NA REDE
O pai do grande irmão
Documentário conta a trajetória do empresário da web que criou
um dos mais ambiciosos "big brothers" da rede
BRUNA BITTENCOURT
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
"O maior pioneiro da internet do qual você nunca ouviu
falar." É assim que o documentário "We Live in Public", vencedor do grande prêmio do júri
no Festival Sundance deste
ano, apresenta o empresário
Josh Harris, já chamado de
"Warhol da web" ou "playboy
extraordinário do pontocom",
por sua excêntrica trajetória.
Harris fez milhões de dólares
durante a bolha da internet e
não hesitou em gastar sua fortuna e sua sanidade para tentar
provar, quase dez anos atrás,
como a internet nos faria abdicar de nossa privacidade e anonimato por reconhecimento.
Para isso, promoveu, no fim
de 1999, um dos primeiros e
mais ambiciosos "big brothers"
virtuais, reunindo em um bunker em Nova York cem artistas
que para ali se mudaram, cercados por dezenas de câmeras.
"Quando meus amigos começaram a postar suas vidas no
Facebook, atualizando os aspectos mundanos do seu dia a
dia em 2006, tudo o que eu havia filmado em 1999 se encaixou e percebi que a história deveria ser contada", disse à Folha Ondi Timoner, diretora do
documentário e contratada na
época para filmar o "experimento" de Harris, batizado de
Quiet: We Live in Public (silêncio: nós vivemos em público).
Anos antes de promover seu
"O Show de Truman", Harris
criou uma das primeiras TVs
feitas e transmitidas pela internet, a Pseudo.com. O plano de
Harris era transformar seu experimento em um filme, um
programa diário e um webcast.
"Andy Warhol estava errado",
disse Harris na época. "As pessoas não querem 15 minutos de
fama na vida. Elas querem isso
toda noite. A audiência quer ser
o show", profetizou.
No bunker, cem artistas iam
ao banheiro, tomavam banho,
faziam sexo, dividiam um chuveiro na frente das câmeras,
com o gozo e o prejuízo que esse tipo de experiência coletiva
implica. "Um amigo meu contou sobre essa festa que esse
milionário estava fazendo toda
noite até a virada do milênio",
disse uma das participantes à
imprensa na época. "Ele disse
que haveria comida gratuita e
um lugar para ficar."
Em 1º de janeiro de 2000, depois de 30 dias, o bunker foi invadido pela polícia, que o viu
uma espécie de culto.
Harris não desistiu. Ainda no
ano de 2000, convenceu sua
namorada a transmitir a vida
dos dois pela web durante cem
dias. Antes disso, ela deixaria o
apartamento do casal. Harris,
sem dinheiro e perto de uma
colapso nervoso, refugiou-se
em uma fazenda nos EUA.
"Acredito que ele se considera um artista acima de tudo. Ele
é seu assunto preferido a ser estudado, é um cordeiro a ser sacrificado para seu trabalho, que
é a arte da internet", diz Timoner, que acompanhou Harris
por mais de dez anos.
"Nós todos seremos inevitavelmente expostos. Ele só fez
isso para mostrar para onde estávamos indo."
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