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Piano de João Carlos Martins vira filme
ROBERTO DIAS
DE NOVA YORK
Semanas atrás, enquanto um
piano era erguido por fora de um
prédio paulistano, João Carlos
Martins, 62, espiava inquieto.
Com o instrumento suspenso
no ar para uma gravação, descobriu que a seguradora não cobriria a operação. Relatou a angústia
a seu irmão, mas acabou escutando dele que, poucos dias antes, em
situação igual, acontecera o pior
com o piano de sua sogra.
Oito horas depois, o instrumento aterrissou no 11º andar. Acabou
a apreensão do pianista naquele
dia, mas o documentário que retratará sua vida, "Martins Special", estava só começando.
A cena inicial alude a um ato de
Martins na época em que foi para
a Secretaria de Cultura de São
Paulo -levando junto um piano,
carregado para seu gabinete.
Alude também a algo mais, explica a diretora, a alemã Irene
Langemann, que teve a idéia do
filme ao ler reportagem sobre o
brasileiro na revista "Der Spiegel". "O piano sempre levou sua
vida para o alto", afirma ela.
Com orçamento de 480 mil euros, o documentário é financiado
por fundações européias. As gravações começaram em março e
vão até julho, quando Bill Clinton,
tocando saxofone, deverá se juntar a um time de convidados que
tem Pelé e Dave Brubeck.
Além dos nomes famosos, Langemann conta com dois grandes
trunfos para levar o documentário ao Festival de Berlim. O primeiro é o enredo, uma vida pontuada por sucesso precoce, dramas pessoais, fama mundial e
uma passagem de má recordação
pela política. O segundo é o personagem principal, que tem dedicado todo seu tempo ao projeto.
A diretora pesquisou arquivos
de TVs do Brasil e dos EUA para
contar passagens da vida de Martins. Estarão lá sua estréia no Carnegie Hall, em Nova York, aos 20
anos, e o primeiro grande drama
de sua carreira, na mesma cidade,
não muito depois -uma contusão no braço enquanto jogava futebol no Central Park que o afastou do piano por sete anos.
Mas há mais a lembrar no documentário, como aponta o próprio
pianista. "Minha vida tem uma
parte musical, que considero profundamente importante. Mas tenho consciência dos problemas
polêmicos que tive", diz.
A principal das polêmicas ficou
conhecida como "caso Paubrasil", nome de uma empresa de
Martins que protagonizou um esquema ilegal de financiamento
para duas campanhas eleitorais
do ex-prefeito Paulo Maluf.
Hoje, o pianista aponta o próprio erro, mas acha que os críticos
brasileiros "no fundo nunca separaram" sua incursão política de
sua música. "Se a Regina Duarte
foi patrulhada por falar que o Lula
dava medo, imagine eu", afirma.
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