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POPLOAD
Eu tive um sonho
LÚCIO RIBEIRO
COLUNISTA DA FOLHA
Os estilhaços pop do Coachella Festival, o colossal evento
jovem mais europeu dos EUA,
não vieram só das balas sonoras
disparadas por Pixies, Radiohead
e Cure, as principais atrações do
festival do deserto. Dos gorilas no
palco do Basement Jaxx aos 12 integrantes da banda Desert Session
(quatro baterias), o normal e o
improvável caminharam juntos.
Mas o bizarro aconteceu na já
bizarra banda Flaming Lips, adorado grupo veterano de Oklahoma, que desde que lançou o campeão CD "Yoshimi Battles the
Pink Robots" (meio de 2002) faz o
mesmo show-palhaçada de sempre, com gongos, bonequinhos e
gelo seco na platéia.
Só que no festival da Califórnia
o vocalista Wayne Coyne extrapolou. "Coachella, eu tive um sonho", anunciou. A frente do palco
principal já começava a ser ocupada por 40 mil pessoas, mais ou
menos. Amantes da banda de
Coyne, mas principalmente os fãs
do Cure (o show a seguir), já tomando posto para ver Robert
Smith e seu cabelo pra cima.
"E meu sonho", continuou o líder dos Lábios Flamejantes, "é me
aproximar mais de vocês". E Coyne entrou em uma bola enorme
de plástico,
que foi inflada. A trupe de Wayne
passou o garoto da bolha de plástico para os fotógrafos, que o empurraram para a platéia. De mão
em mão, Wayne passeou pelo público do Coachella, sendo devolvido tempos depois para o palco.
A brincadeira comeu boa parte
dos 50 minutos previstos para o
Flaming Lips e seu show. Quando
a banda realmente tocou, mandaram ver cinco ou seis canções. E
só. Era hora de deixar o palco para
o Cure. Ainda assim, o "show" do
Flaming Lips foi intenso.
Preparando a dominação
Lá num minipalco em um canto
qualquer do festival, armado entre uma barraca que vendia água
(o item mais valioso naquele calor
de 40º) e uma de comida qualquer
(mexicana?), você podia ser uma
"atração do Coachella". Era só subir, postar-se atrás da mesa e escolher um repertório rápido nos
iPods que faziam as vezes de pick-ups. Tinha uma fila razoável para
tocar e tinha ainda gente para ficar ouvindo os sets produzidos
nos aparelhos da Apple. E não era
uma ação da empresa de Steve
Jobs. Era tendência de futuro,
mesmo. Quer apostar que logo,
logo esse palco vai aumentar e aumentar em relevância?
Malvadas
Os EUA pop só falaram de três
coisas nos últimos dias: o final de
"Friends", a volta dos B-e-a-s-t-i-e Booooys e o filme de garotas
"Mean Girls". Pensa bem: na verdade, "Mean Girls" parece ser a
resposta cinematográfica das mulheres para a volta dos Beastie
Boys, numa época em que a amizade intersexual de "Friends" não
existe mais.
"Mean Girls" é um filme de garotinhas estudantes quaisquer,
fashion como todas são, mas que
dentre todas as qualidades inerentes da espécie são bem... más.
O mote é "não marque bobeira"
ou, em um inglês sacanamente
aproximado, "cuidado com o seu
traseiro", em recado ao sexo "adversário". No México o filme ganhou o título "Chicas Pesadas".
A trilha tem perversas como
Donnas, Missy Elliott e Kelis.
"Mean Girls" não está sozinha (já
tratando o filme no modo feminino) nas telas. "Kill Bill", nos dois
volumes, está aí para revelar em
cena o que Tarantino vem falando: "A hora é de vingança feminina. E os homens têm que morrer".
O pior (melhor) é que o filme parece ser bem bom.
lucio@uol.com.br
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