São Paulo, sexta-feira, 07 de maio de 2004

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POPLOAD

Eu tive um sonho

LÚCIO RIBEIRO
COLUNISTA DA FOLHA

Os estilhaços pop do Coachella Festival, o colossal evento jovem mais europeu dos EUA, não vieram só das balas sonoras disparadas por Pixies, Radiohead e Cure, as principais atrações do festival do deserto. Dos gorilas no palco do Basement Jaxx aos 12 integrantes da banda Desert Session (quatro baterias), o normal e o improvável caminharam juntos.
Mas o bizarro aconteceu na já bizarra banda Flaming Lips, adorado grupo veterano de Oklahoma, que desde que lançou o campeão CD "Yoshimi Battles the Pink Robots" (meio de 2002) faz o mesmo show-palhaçada de sempre, com gongos, bonequinhos e gelo seco na platéia.
Só que no festival da Califórnia o vocalista Wayne Coyne extrapolou. "Coachella, eu tive um sonho", anunciou. A frente do palco principal já começava a ser ocupada por 40 mil pessoas, mais ou menos. Amantes da banda de Coyne, mas principalmente os fãs do Cure (o show a seguir), já tomando posto para ver Robert Smith e seu cabelo pra cima.
"E meu sonho", continuou o líder dos Lábios Flamejantes, "é me aproximar mais de vocês". E Coyne entrou em uma bola enorme de plástico, que foi inflada. A trupe de Wayne passou o garoto da bolha de plástico para os fotógrafos, que o empurraram para a platéia. De mão em mão, Wayne passeou pelo público do Coachella, sendo devolvido tempos depois para o palco.
A brincadeira comeu boa parte dos 50 minutos previstos para o Flaming Lips e seu show. Quando a banda realmente tocou, mandaram ver cinco ou seis canções. E só. Era hora de deixar o palco para o Cure. Ainda assim, o "show" do Flaming Lips foi intenso.

Preparando a dominação
Lá num minipalco em um canto qualquer do festival, armado entre uma barraca que vendia água (o item mais valioso naquele calor de 40º) e uma de comida qualquer (mexicana?), você podia ser uma "atração do Coachella". Era só subir, postar-se atrás da mesa e escolher um repertório rápido nos iPods que faziam as vezes de pick-ups. Tinha uma fila razoável para tocar e tinha ainda gente para ficar ouvindo os sets produzidos nos aparelhos da Apple. E não era uma ação da empresa de Steve Jobs. Era tendência de futuro, mesmo. Quer apostar que logo, logo esse palco vai aumentar e aumentar em relevância?

Malvadas
Os EUA pop só falaram de três coisas nos últimos dias: o final de "Friends", a volta dos B-e-a-s-t-i-e Booooys e o filme de garotas "Mean Girls". Pensa bem: na verdade, "Mean Girls" parece ser a resposta cinematográfica das mulheres para a volta dos Beastie Boys, numa época em que a amizade intersexual de "Friends" não existe mais.
"Mean Girls" é um filme de garotinhas estudantes quaisquer, fashion como todas são, mas que dentre todas as qualidades inerentes da espécie são bem... más. O mote é "não marque bobeira" ou, em um inglês sacanamente aproximado, "cuidado com o seu traseiro", em recado ao sexo "adversário". No México o filme ganhou o título "Chicas Pesadas".
A trilha tem perversas como Donnas, Missy Elliott e Kelis. "Mean Girls" não está sozinha (já tratando o filme no modo feminino) nas telas. "Kill Bill", nos dois volumes, está aí para revelar em cena o que Tarantino vem falando: "A hora é de vingança feminina. E os homens têm que morrer". O pior (melhor) é que o filme parece ser bem bom.

lucio@uol.com.br


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