São Paulo, sexta-feira, 07 de maio de 2004

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"VAN HELSING - O CAÇADOR DE MONSTROS"

Filme é frio como o coração de Drácula

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Nos últimos anos, os filmes de ação chamados "blockbusters" desenvolveram uma propriedade bastante particular em relação ao cinema que conhecemos, desde os clássicos até a geração de Scorsese e Spielberg.
Para todos esses, o cinema resumia-se pela palavra emoção. Filmes como "Van Helsing" podem definir-se pela sensação.
Até alguns anos atrás admitia-se que o filme atinge o público por mecanismos de identificação (eu, espectador, me vejo na pele do herói e partilho suas aventuras).
Na maior parte dos "blockbusters", vemos que esse processo cada vez mais se esgarça e perde importância. O que conta em "Van Helsing", essencialmente, é a capacidade de entregar a seus espectadores uma carga ininterrupta de sensações visuais e auditivas.
O primeiro impulso do crítico é o de rejeitar o filme de todo como um espetáculo quase circense. Talvez seja melhor pensar um pouco nessa releitura que Stephen Sommers propõe e esquecer que ele também é o realizador do insuportável "A Múmia".
Tentemos de novo. Em "Van Helsing" estão reunidos quase todos os monstros do cinema de terror. É o cinema omnibus -como antigamente se falava de "partido omnibus", onde cabia tudo.
Sabemos que os monstros costumam ter natureza dual. Drácula é aristocrático e sanguinário, letal e infeliz. É quase um imortal que tem a morte por ideal.
Do outro lado há Van Helsing, velho caçador de vampiros. Desta vez, não é o frio professor da tradição, mas um ágil e musculoso assassino de malfeitores que não deixa de lembrar o Clint Eastwood dos faroestes de Sergio Leone ou ainda Antonio das Mortes.
Ao chegar à Transilvânia, Van Helsing encontra a bela Anna Valerious, cujo irmão acaba de ser convertido em Lobisomem. Depois de certa relutância, os dois acabarão colaborando. Da mesma forma, sabemos que Van Helsing deve combater o Drácula. Eles se enfrentarão quase cordialmente. Porque estão lá para isso.
O importante é que seu enfrentamento renderá pilhas de cenas de ação inverossímeis, com ruídos extravagantes e efeitos especiais hiperbólicos. É como um espetáculo circense (e talvez a cena mais memorável seja o baile do Drácula, um baile tão circense).
É interessante que o roteiro escrito pelo próprio Sommers poderia merecer uma mise-en-scène perfeitamente clássica, em que o sistema de identificação vigorasse. No entanto, é como se algo faltasse para que isso aconteça. E não se trata de uma incapacidade, mas de uma clara opção estética.
Sommers não é bobo. Enche a Transilvânia com um grupo de pessoas perdidas, que por sua vez enchem o filme de melancolia. A ação desbragada disfarça essa melancolia. Mas também estabelece limites para o prazer que "Van Helsing" possa proporcionar.


Van Helsing - O Caçador de Monstros
Van Helsing
  
Direção: Stephen Sommers
Produção: EUA, 2004
Com: Hugh Jackman, Kate Beckinsale
Quando: a partir de hoje nos cines Butantã, Shopping D e circuito



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