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"VAN HELSING - O CAÇADOR DE MONSTROS"
Filme é frio como o coração de Drácula
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Nos últimos anos, os filmes de
ação chamados "blockbusters" desenvolveram uma propriedade bastante particular em
relação ao cinema que conhecemos, desde os clássicos até a geração de Scorsese e Spielberg.
Para todos esses, o cinema resumia-se pela palavra emoção. Filmes como "Van Helsing" podem
definir-se pela sensação.
Até alguns anos atrás admitia-se
que o filme atinge o público por
mecanismos de identificação (eu,
espectador, me vejo na pele do herói e partilho suas aventuras).
Na maior parte dos "blockbusters", vemos que esse processo cada vez mais se esgarça e perde importância. O que conta em "Van
Helsing", essencialmente, é a capacidade de entregar a seus espectadores uma carga ininterrupta
de sensações visuais e auditivas.
O primeiro impulso do crítico é
o de rejeitar o filme de todo como
um espetáculo quase circense.
Talvez seja melhor pensar um
pouco nessa releitura que Stephen Sommers propõe e esquecer
que ele também é o realizador do
insuportável "A Múmia".
Tentemos de novo. Em "Van
Helsing" estão reunidos quase todos os monstros do cinema de
terror. É o cinema omnibus -como antigamente se falava de "partido omnibus", onde cabia tudo.
Sabemos que os monstros costumam ter natureza dual. Drácula
é aristocrático e sanguinário, letal
e infeliz. É quase um imortal que
tem a morte por ideal.
Do outro lado há Van Helsing,
velho caçador de vampiros. Desta
vez, não é o frio professor da tradição, mas um ágil e musculoso
assassino de malfeitores que não
deixa de lembrar o Clint Eastwood dos faroestes de Sergio Leone ou ainda Antonio das Mortes.
Ao chegar à Transilvânia, Van
Helsing encontra a bela Anna Valerious, cujo irmão acaba de ser
convertido em Lobisomem. Depois de certa relutância, os dois
acabarão colaborando. Da mesma forma, sabemos que Van Helsing deve combater o Drácula.
Eles se enfrentarão quase cordialmente. Porque estão lá para isso.
O importante é que seu enfrentamento renderá pilhas de cenas
de ação inverossímeis, com ruídos extravagantes e efeitos especiais hiperbólicos. É como um espetáculo circense (e talvez a cena
mais memorável seja o baile do
Drácula, um baile tão circense).
É interessante que o roteiro escrito pelo próprio Sommers poderia merecer uma mise-en-scène
perfeitamente clássica, em que o
sistema de identificação vigorasse. No entanto, é como se algo faltasse para que isso aconteça. E
não se trata de uma incapacidade,
mas de uma clara opção estética.
Sommers não é bobo. Enche a
Transilvânia com um grupo de
pessoas perdidas, que por sua vez
enchem o filme de melancolia. A
ação desbragada disfarça essa melancolia. Mas também estabelece
limites para o prazer que "Van
Helsing" possa proporcionar.
Van Helsing - O Caçador de Monstros
Van Helsing
Direção: Stephen Sommers
Produção: EUA, 2004
Com: Hugh Jackman, Kate Beckinsale
Quando: a partir de hoje nos cines
Butantã, Shopping D e circuito
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