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"O BUQUÊ"
Comédia se perde em abuso do deboche e série de mal-entendidos
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA
Muitos diálogos. Muitos
diálogos com um quê de
absurdo. Muitos diálogos com
um quê de absurdo e referências
intelectuais.
Assim é "O Buquê", comédia
francesa com um começo promissor (como seria qualquer filme que se apresentasse com imagens de Buster Keaton) e um fim à
deriva, a ponto de não se saber se
a diretora pretendia criticar a burguesia parisiense ou só debochar,
de forma enganosa, da própria
tradição do cinema francês.
"O Buquê" segue uma estrutura
corrompida, de tão banalizada:
vários personagens, situações imprevistas, alguns mal-entendidos.
É, enfim, um "filme painel", com
pretensões de pintar o retrato de
tipos caricatos e reuni-los na forma de uma grande crítica social.
São situações banais que movem a trama, partindo sempre do
cotidiano de Catherine (Sandrine
Kiberlain), como o estranho telefonema que recebe de um amigo
às 7h e que indiretamente provoca a demissão de seu namorado,
ou o buquê de flores que o mesmo
amigo inconveniente resolve
mandar a ela, inspirado pelo tal
filme de Keaton, mas que é deixado na porta do vizinho, gerando
pressuposições e fofocas.
Jeanne Labrune parece ter feito
um filme de intenções partidas
(diversão leve ou reflexão "pesada"? comédia de costumes ou
drama banal?) sem conciliação
possível. Exagerando um pouco,
seria como se Eric Rohmer resolvesse salpicar seus filmes de diálogos nonsense e algumas piadas
para torná-los mais palatáveis.
Nota-se, é certo, uma vontade
de falar de certos tipos parisienses
que viveriam em uma bolha de
ficção e cinismo, aprisionados no
cotidiano dos apartamentos caros, escritórios assépticos e restaurantes étnicos. Mas essa vontade não se liberta da observação estéril em torno do óbvio, falhando
no objetivo de se tornar um retrato vivo da França hoje.
O Buquê
C'Est le Bouquet
Direção: Jeanne Labrune
Produção: França, 2002
Com: Sandrine Kiberlain, Jean-Pierre
Darroussin
Quando: a partir de hoje no Frei Caneca
Unibanco Arteplex
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