São Paulo, sexta-feira, 07 de maio de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

RUÍDO

Maynard Music estréia coligado com EMI

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

Um dos homens decisivos nos anos vorazes da indústria fonográfica brasileira (os 80 e 90), Marcos Maynard, 54, vai aos poucos voltando à atividade musical, após a extinção de sua última iniciativa, Abril Music, há pouco mais de um ano.
Sua última novidade é a fundação do selo Maynard Music, que acaba de estrear com distribuição da multinacional EMI.
A gravadora é só parte de um negócio maior, batizado pelo dono como Maynard Enterprises. Ex-roqueiro, ele defende o jeitão Disneylândia do nome: "Não poderia ser Maynard Empreendimentos, ia parecer empreendimento mobiliário".
Um dos executivos por trás de fenômenos de marketing como RPM e axé music, Maynard imprime tom bem popular a seu selo: estréia com Roberta Miranda, Rastapé e Simone. Na M. Enterprises, gerenciou o álbum mais recente de Rita Lee. Na Maynard Songs, editou e negociou o sertanejo Toni Francis.
"Dedico-me ao artista, independentemente de quem seja", sintetiza. De quebra, critica a disposição mais ao marketing que ao A&R (artistas & repertório) que dominou e para ele ainda domina a indústria.
"Só se fala em reunião de marketing, o artístico não existe mais. Os lucros da época do CD foram enormes, as gravadoras se esqueceram de onde nascia tudo. Fazem discos ruins, que não vendem. É hora de olharem para o patinho feio", opina.
Ele inclui autocrítica na crítica? "Sempre me preocupei muito com o lado de A&R, porque eu venho dele. Então acho que errei menos. Mas claro que errei, todos erram."

O NÃO-LANÇAMENTO

O rock pesado dos anos 70 também teve o esquisito grupo Peso, que editou em 75 um único álbum, "Em Busca do Tempo Perdido" (Polydor, hoje Universal). Formado em Fortaleza (CE), incluía músicos de peso, como Gabriel O'Meara (guitarra) e Constant Papineau (piano), além dos vocais gritados, bem glam rock, de Luiz Carlos Porto. O crossover era entre hard rock branco e black music (uma das faixas era "Cabeça Feita", dos brancos de alma negra Guilherme Lamounier e Tibério Gaspar) Além da mistura de rock, blues e ideologia hippie, o disco trazia como trunfo a capa surreal, em que os integrantes do Peso se escondiam, atrás de uma porta, de um desfile de hipopótamos na rua, lá fora.

CROSSOVER 1
A MPB e a música brega querem se reencontrar, após décadas de desprezo recíproco. O Sesc Ipiranga promoverá, entre os próximos dias 20 e 23, o evento "Popular ou Brega?", em que emepebistas e "cafonas" se apresentarão juntos no mesmo palco.

CROSSOVER 2
O "Popular ou Brega?" começa com dois dias dedicados a Zeca Baleiro, Paulo Diniz e Odair José. E termina com outros dois para Chico César, Falcão e Jane & Herondy -essa dupla é em si um crossover, pois nos anos 60 Jane cantou com Chico Buarque e fez discos de bossa nova, com Os Três Morais.

CROSSOVER 3
Mais cruzamento de linguagens acontece na próxima semana, no Sesc Vila Mariana, no projeto "Violeiros e Guitarristas". O "caipira" e o urbano se defrontam quinta e sexta (com Heraldo do Monte & Sérgio Dias, Ivan Vilela & Andreas Kisser), sábado e domingo (Roberto Corrêa & Pepeu Gomes, Paulo Freire & André Abujamra). A idéia é de João Erbetta, ou Paco Garcia, dos jovens punks Los Pirata.

CROSSOVER 4
A eletrônica Fernanda Porto trabalha na trilha sonora do filme "Cabra-Cega", de Toni Venturi, ambientado no tempo da ditadura. Fernanda fará novas versões para "Roda Viva" (68), "Rosa dos Ventos" (70) e "Construção" (71), de Chico Buarque. Ele deve participar em pessoa de "Roda Viva". A trilha também deve ter, nas versões originais, "Eu Quero Botar Meu Bloco na Rua" (Sérgio Sampaio, 72) e "A Little More Blue" (Caetano Veloso, 72).

MISTÉRIO NA INDÚSTRIA
Um homem que atuou 35 anos na indústria fonográfica espanhola e se esconde sob o pseudônimo J.L. Greensnake apresentará a seu país natal, na segunda, o livro "Réquiem para a Música, os Artistas e a Indústria". O "cobra verde" diz que a música virou mero produto de consumo, chama artistas de "desequilibrados, inseguros e egocêntricos" e defende que foi a indústria que matou o negócio musical.

psanches@folhasp.com.br


Texto Anterior: The Preacher's Son
Próximo Texto: TV paga/estréia: Especial desvenda Ney Matogrosso nas telas
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.