BRUNO YUTAKA SAITO
DA REDAÇÃO

Quem sintonizar hoje o Canal Brasil para assistir ao novo programa "Luz, Câmera, Canção!" pode pensar que houve alguma falha técnica colocando o Multishow no ar. Afinal, há mais música do que cinema, matéria-prima do canal: lá está Ney Matogrosso relatando sua história, aquela em que seres estranhos surpreendiam os anos 70 com visual sexualmente ambígüo -os Secos & Molhados.
Mas, quando Ney fala de seus primeiros passos artísticos, as conexões com cinema ficam mais evidentes. Vê-se que o foco do programa não é necessariamente um nome da indústria cinematográfica. Sem a lógica do espetáculo da representação não haveria S&M, e sem o aspecto cênico não haveria carreira solo para Ney.
O cantor diz que era extremamente tímido, do tipo "que entrava num lugar quieto e saía calado", e que por isso começou a fazer teatro -"não queria ser assim". Em 1971, quando entrou no S&M, Ney mergulhou na maquiagem, purpurina e, principalmente, abusou do que aprendera nas lições de atuação em palco.
Dessa fase, o programa mostra trechos de clipes como "Flores Astrais" e imagens do "Fantástico" em 1973, com o apresentador Miéle perguntando: "Você sabe o que é andrógino?". Ney reclama da TV dessa época e diz que, na primeira vez que o grupo iria aparecer na Globo, foi proibido de olhar para a câmera. "Você podia ser visto pela TV, mas não podia se comunicar pela TV."
O cinema propriamente dito é relembrado por cenas do longa "Sonho de Valsa" (1987), de Ana Carolina, em que Ney estreou como ator. O cantor relembra a dificuldade inicial que teve em se adaptar à linguagem corporal do cinema; já no curta "Caramujo Flor" (1991), de Joel Pizzini, diz ter "entendido melhor" a lógica.
E é o cinema italiano a grande influência do cantor: "Depois entendi que minha postura de palco vinha de minha formação de cinema. Adorava Pasolini e Visconti".
Nas próximas edições, "Luz, Câmera, Canção" trará artistas como Andrucha Waddington, Paulinho Moska e Zelito Viana.