São Paulo, sábado, 7 de junho de 1997.



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CINEMA
Filme, que tem exibição especial hoje, no Espaço Unibanco, mostra dificuldade de comunicação de um casal
Tata Amaral desnuda a tragédia

Cena do filme "Um Céu de Estrelas", protagonizado por Alleyona Cavalli e Paulo Vespúcio Garcia DANIELA ROCHA
da Reportagem Local

A cineasta Tata Amaral, 36, buscou construir uma tragédia em cinema que jogasse o espectador para dentro do filme em "Um Céu de Estrelas", que estréia em São Paulo na sexta-feira.
O filme terá exibição especial hoje, às 20h30, no Espaço Unibanco de Cinema, para abrir o debate "Nova Dramaturgia no Cinema Brasileiro", promovido pela Folha e pelo Espaço Unibanco de Cinema (leia texto nesta página).
A dramaturgia seguida por Tata em "Um Céu de Estrelas" é tensa, concentrada, que busca jogar o espectador para dentro do desespero das personagens, segundo a cineasta. "Não é um discurso distanciado", afirma ela.
O filme é uma adaptação do romance homônimo de Fernando Bonassi e conta a história de Dalva (Alleyona Cavalli) que resolve desistir da vida que leva no bairro paulistano da Moóca para participar da final de um concurso de cabeleireiras em Miami.
Mas ela encontra resistência do ex-noivo, o metalúrgico desempregado Vítor (Paulo Vespúcio Garcia). O filme começa quando ela está arrumando as malas para viajar. Tudo acontece dentro da casa, os dois personagens ficam confinados.
"Não é um filme agradável, não é uma brincadeira. Está na hora de levar a sério a vida", disse Tata.
Para ela, o filme dialoga com questões fundamentais de hoje, que são o amor, o sexo e a morte. "Nem sempre esses são temas agradáveis."
Para a cineasta, um de seus maiores desafios era tornar uma história confinada interessante. "Tive muito cuidado para que a tensão do filme não despencasse. Ela sempre está crescendo, o que torna o filme insuportável para algumas pessoas", disse.
Um recurso que Tata utilizou para isso foi fixar o ponto de vista narrativo em Dalva. "A câmera segue a Dalva. Se ela sai da sala, a câmera sai com ela. O espectador segue a história por meio dela. Foi minha o opção dramática, mas não é câmera subjetiva o tempo todo", disse.
A câmera está sempre muito próxima dos atores. Cada movimento foi calculado, e os atores tiveram dois meses de estudo do texto e ensaio. "Todos envolvidos no projeto conheciam a história profundamente. O texto foi precisamente construído", afirmou. Há cenas de brigas que foram coreografadas e ensaiadas com aprumo, tal a precisão exigida nas filmagens.
Um dos maiores problemas enfrentados pelos personagens da história, Dalva e Vítor, era o de comunicação. "Por isso, em muitos momentos os personagens não falam, eles não têm possibilidade de verbalização. O roteiro é permeado de subtextos, de intenções."
O filme já foi descrito como drama violento e claustrofóbico que narra o desespero do casal trancado em uma casa na Moóca. "Nessa situação a tragédia é iminente."
O cuidado na preparação do filme não ficou apenas nos atores. A cineasta fez consultoria com a polícia militar e assistiu uma série de fitas com o extinto telejornal "Aqui Agora". "Vendo as reportagens percebi que, por mais que 'Um Céu de Estrelas' seja forte, a realidade é mais punk ainda."
Apesar de estar estreando agora no Brasil, o filme já tem extensa carreira internacional: foi apresentado em festivais no Canadá, França, EUA e Espanha.



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