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São Paulo, sábado, 07 de junho de 2003

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"FEMININO NA DANÇA"

Corpos traçam constrastes e enigmas

INÊS BOGÉA
CRÍTICA DA FOLHA

"Feminino na Dança": intensidades, contrastes, enigmas e surpresas. Intérpretes com grande experiência ao lado de iniciantes, corpos que trabalham diferentes linguagens, resultados (como só poderiam ser) irregulares. Nessa temporada, foram nove espetáculos, durante cinco semanas, em cartaz no Centro Cultural São Paulo.
Na primeira semana: "A Mulher que Perdeu a Cabeça", de Patrícia Werneck, cresceu muito do ano passado para cá. Seus gestos estão mais trabalhados, e a própria construção cênica, mais apurada. Já "Pode Entrar que Estou Aqui", de Déborah Furquim, vale-se de uma movimentação rica, mas talvez presa demais a uma narrativa.
Na segunda semana foi a estréia de "Festa, o Corpo Coletivo Está no Tilintar dos Ossos", de Cléia Plácido. Se sua entrada em cena prometia algo instigante e original, o mesmo não se deu na continuação do espetáculo.
Semana 3: "Imagem", de Marcela Levi e Claudia Garcia, que expõe o corpo em suas singularidades. O nu das fotos na entrada continua na cena, onde o figurino de malha gasta emoldura e desnuda o corpo. Imagens do corpo de Levi são focadas e recortadas, num contexto de comentário social. "Impressão", de Miriam Druwe, começa fora do palco. A gestualidade intriga, pelos movimentos pequenos, interrompidos e tensos. Já em cena a dança ganha amplitude e abarca o espaço.
Na quarta semana: "Lugar Comum", de Mara Guerrero, ainda não atingiu a força que deseja. No início, com uma movimentação mais intimista, Guerrero mostra intensidade e apuro; mas, quando a dança ganha outra amplitude, a movimentação (propositalmente solta) carece de acabamento e melhor elaboração espacial.
Já "Fluxion", de Gícia Amorim, é uma obra ainda em processo. Amorim trabalha aqui com pontos no espaço e fluxos de movimento. Seu apuro técnico e o cuidado cênico são ecoados no cenário de luz de André Boll. E "Três Tempos", de Ângela Nolf, relaciona ação e espaço nas conversas corporais, nas imagens que dançam e mudam o espaço cênico e nas memórias das quatro intérpretes, que exploram diferentes apoios, eixos e fluxos.
Na última semana, foi a vez de "O Homem de Jasmim", de Marta Soares, que explora a degradação do corpo. A estrutura do solo é sofisticada e demonstra uma pesquisa já bem amadurecida.
Nessa sua 12ª edição, o "Feminino..." continua sendo um espaço de experimentação importante na cidade. Se a edição deste ano teve altos e baixos, continua tendo os méritos de sempre: fazer ver, fazer sentir, fazer pensar e conferir à dança a dimensão que merece no concerto das artes da cidade.


Feminino na Dança
    Onde: CCSP (r. Vergueiro, 1.000, São Paulo, tel. 0/ xx/11/3277-3611) Quando: hoje, às 21h, e amanhã às 20h Quanto: R$ 8



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