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"FEMININO NA DANÇA"
Corpos traçam constrastes e enigmas
INÊS BOGÉA
CRÍTICA DA FOLHA
"Feminino na Dança": intensidades, contrastes,
enigmas e surpresas. Intérpretes
com grande experiência ao lado
de iniciantes, corpos que trabalham diferentes linguagens, resultados (como só poderiam ser) irregulares. Nessa temporada, foram nove espetáculos, durante
cinco semanas, em cartaz no Centro Cultural São Paulo.
Na primeira semana: "A Mulher
que Perdeu a Cabeça", de Patrícia
Werneck, cresceu muito do ano
passado para cá. Seus gestos estão
mais trabalhados, e a própria
construção cênica, mais apurada.
Já "Pode Entrar que Estou Aqui",
de Déborah Furquim, vale-se de
uma movimentação rica, mas talvez presa demais a uma narrativa.
Na segunda semana foi a estréia
de "Festa, o Corpo Coletivo Está
no Tilintar dos Ossos", de Cléia
Plácido. Se sua entrada em cena
prometia algo instigante e original, o mesmo não se deu na continuação do espetáculo.
Semana 3: "Imagem", de Marcela Levi e Claudia Garcia, que expõe o corpo em suas singularidades. O nu das fotos na entrada
continua na cena, onde o figurino
de malha gasta emoldura e desnuda o corpo. Imagens do corpo de
Levi são focadas e recortadas,
num contexto de comentário social. "Impressão", de Miriam
Druwe, começa fora do palco. A
gestualidade intriga, pelos movimentos pequenos, interrompidos
e tensos. Já em cena a dança ganha amplitude e abarca o espaço.
Na quarta semana: "Lugar Comum", de Mara Guerrero, ainda
não atingiu a força que deseja. No
início, com uma movimentação
mais intimista, Guerrero mostra
intensidade e apuro; mas, quando
a dança ganha outra amplitude, a
movimentação (propositalmente
solta) carece de acabamento e
melhor elaboração espacial.
Já "Fluxion", de Gícia Amorim,
é uma obra ainda em processo.
Amorim trabalha aqui com pontos no espaço e fluxos de movimento. Seu apuro técnico e o cuidado cênico são ecoados no cenário de luz de André Boll. E "Três
Tempos", de Ângela Nolf, relaciona ação e espaço nas conversas
corporais, nas imagens que dançam e mudam o espaço cênico e
nas memórias das quatro intérpretes, que exploram diferentes
apoios, eixos e fluxos.
Na última semana, foi a vez de
"O Homem de Jasmim", de Marta
Soares, que explora a degradação
do corpo. A estrutura do solo é sofisticada e demonstra uma pesquisa já bem amadurecida.
Nessa sua 12ª edição, o "Feminino..." continua sendo um espaço
de experimentação importante na
cidade. Se a edição deste ano teve
altos e baixos, continua tendo os
méritos de sempre: fazer ver, fazer
sentir, fazer pensar e conferir à
dança a dimensão que merece no
concerto das artes da cidade.
Feminino na Dança
Onde: CCSP (r. Vergueiro, 1.000, São
Paulo, tel. 0/ xx/11/3277-3611)
Quando: hoje, às 21h, e amanhã às 20h
Quanto: R$ 8
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