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Esquecido, Germano Mathias batalha na TV
Aos 72 anos, ícone do samba paulista tenta a sorte em "Rei Majestade", do SBT
Em 78, cantor gravou disco ao lado do atual titular da Cultura; "O Gil é meu fã, mas depois que virou ministro subiu no pedestal", diz
TOM CARDOSO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Germano Mathias espera
comprar seu barbeador elétrico
em breve. Isso se ele for um dos
finalistas do programa "Rei
Majestade", do SBT, que toda
quarta à noite reúne nomes esquecidos pelo grande público.
Germano, mestre do sincopado, uma das vertentes mais sofisticadas do samba, conhecido
nas rodas pelo epíteto de "O
Catedrático do Samba", torce
para que o júri popular veja
mais graça nele do que nos "nobres" concorrentes: Beto Barbosa, Pepê e Neném, Roberto
Leal e outras feras da nossa
música. Coisas de Brasil. "Se ficar em terceiro lugar, embolso
40 paus (mil reais). Eu fico rico
até o fim da vida", torce o cantor de 72 anos e minguados dois
shows por mês na agenda.
Germano, morador do Jardim Líder, bairro violento da
periferia de São Paulo, já gravou um disco inteiro ("Antologia do Samba Choro", 1978) em
parceria com o hoje ministro da
Cultura, Gilberto Gil. Dividiram os créditos no disco, mas
não chegaram a se encontrar.
Na época, a Warner, gravadora
de ambos, tentou promover o
encontro da dupla em estúdio,
mas o sambista, alegaram os
produtores, havia sumido.
Pavão misterioso
"Sumi, nada. Eu estava aqui
pertinho, fazendo show na boate Cangaceiro, em
Campinas", lembra
Germano. "O Gil é
meu fã, sempre foi,
mas depois que virou ministro subiu
no pedestal. Eu
mandei vários discos meus para Brasília, tentei conseguir patrocínio para
shows, mas o Gil
não está nem aí.
Aliás, nem aqui. Vive viajando", protesta.
Germano espera
não precisar tão cedo da ajuda do ex-parceiro. Está cheio
de planos para
2006. Em julho, vai ao Rio para
receber uma homenagem especial do Prêmio Tim de Música.
Ainda no segundo semestre deve ser lançada a sua biografia,
escrita pelo advogado e pesquisador Caio Silveira Ramos. "Estou em plena forma", garante o
Catedrático, que gosta de repetir uma frase criada por outro
sambista duro na queda, Moreira da Silva (1902-2000): "Tenho corpo limpo, sem varizes, e
continuo afogando o ganso com
cara de pavão misterioso".
Cara de pavão
misterioso Silvio
Santos fez quando
Germano ameaçou
cantar "Minha Nega
na Janela", um dos
maiores sucessos da
carreira, no programa "Rei Majestade".
A letra do samba, sucesso de 1956, não é
das mais elegantes:
"Minha nega na janela / Diz que tá tirando linha / Eta nega, tu é feia / Mais
parece macaquinha". "Eu nunca fui
racista. É mais uma
brincadeira. Mas
não sou louco de
cantá-la hoje em dia. Os negros
estão cheio de frescuras", diz o
ex-engraxate, que forjou o seu
estilo cantando ao lado de sambistas negros na praça da Sé,
centro de São Paulo. "Eu era o
único branco. Mas tinha ritmo,
sabia batucar. Hoje em dia tem
muito cantor que finge, mas
não consegue dividir. Acho que
agora sou o último dos moicanos", orgulha-se.
Não é papo. Contratado nos
anos 60 pela gravadora Odeon,
a mesma em que brilhava João
Gilberto (um apreciador confesso da divisão do sincopado),
Germano, o branquelo da zona
Leste, enfeitiçou boa parte dos
compositores cariocas. Todos
queriam ser gravados por ele.
Para Germano, Zé Kéti fez
"Malvadeza Durão". Nelson
Cavaquinho dizia sempre que a
melhor gravação para "História
de Um Valente" era daquele rapaz de São Paulo, que dividia o
canto melhor que muito sambista do morro.
Morador do subúrbio, Germano tirou de letra a recente
onda de violência que apavorou
São Paulo nas últimas semanas.
"Jamais tive problema com a
polícia. Sou malandro, mas pacato. Só faço tipo."
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