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Acima, Armandinho e o Trio Elétrico de Dodô e Osmar
"BAHIA DE TODOS OS SAMBAS"
Uma viagem preciosa em nove noites
MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
Editor de Domingo
Durante o verão italiano de 1983,
a prefeitura de Roma, então nas
mãos de um governo de esquerda,
promoveu um daqueles enormes
festivais de cultura brasileira. Ao
longo de nove noites consecutivas,
os maiores nomes da música baiana (com a luxuosa presença do
pernambucano Naná Vasconcelos) ocuparam o grande palco
montado no "circo Massimo", revezando com dançarinas, capoeiristas e ritmistas.
O evento foi filmado por dois nomes conhecidos do cinema brasileiro, Leon Hirszman e Paulo Cézar Saraceni, com fotografia assinada por Dib Lufti -mas ficou todo esse tempo longe do público. As
mortes de Hirszman e do grande
agitador cultural italiano Gianni
Amico, responsável pelo festival,
aliadas a uma série de problemas
judiciais e de verbas, acabaram retardando o lançamento do documentário "Bahia de Todos os Sambas", agora disponível em vídeo
graças à RioFilme.
O resultado não chega a ser dos
mais inspirados. Tem passagens
tediosas, uma dose de macumba
para turista, algumas deficiências
de som e de qualidade. Mas é um
ótimo registro histórico da performance de um grupo excepcional-
Dorival Caymmi, João Gilberto,
Batatinha, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé, Gal Costa, Nana
Caymmi, Moraes Moreira, Paulinho Boca e o trio de Armandinho,
Dodô e Osmar.
Para os amantes da música brasileira, para os mais jovens ou para
quem gostaria de revisitar esses artistas, o filme é uma preciosidade.
É Gal, linda, cantando "Índia"
com agudos incríveis, é Caetano
vocalizando sua histórica versão
de "Eu Sei Que Vou te Amar", é
Gilberto Gil elétrico e serelepe. É
também Caymmi (o "papa da Roma negra na Roma branca", como
diz Caetano num simpático bate-papo) cantando com a filha Nana.
E é, claro, João Gilberto, mais uma
vez um capítulo à parte, insuperável, abrindo com "Estate" -naquele sotaque que amacia as angulosidades do idioma italiano- e
passando por outras delícias, entre
elas "Ela Era Seu Mundo".
O filme também é, para os fãs,
uma oportunidade de ver artistas
em situações nem sempre acessíveis, em conversas fora do palco,
na preparação do show, no "backstage". Há algumas boas sequências
paralelas, a melhor delas, talvez,
um passeio de duas baianas por
Roma. Vestidas a caráter, as duas
belas negras vão caminhando e se
divertindo com a idéia de montar
uma banca de acarajé na capital
italiana. "É a Bahia na Itália", diz
uma delas. E a outra olhando em
volta: "Mas parece mesmo".
Ao menos naquelas nove noites a
Roma eterna ficou quase igual à
Roma negra da Bahia.
Avaliação:
Filme: Bahia de Todos Sambas
Produção: Brasil, 1983, 102 min
Direção: Leon Hirszman e Paulo Cézar
Saraceni
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