São Paulo, segunda, 7 de junho de 1999

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Acima, Armandinho e o Trio Elétrico de Dodô e Osmar "BAHIA DE TODOS OS SAMBAS"
Uma viagem preciosa em nove noites

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
Editor de Domingo

Durante o verão italiano de 1983, a prefeitura de Roma, então nas mãos de um governo de esquerda, promoveu um daqueles enormes festivais de cultura brasileira. Ao longo de nove noites consecutivas, os maiores nomes da música baiana (com a luxuosa presença do pernambucano Naná Vasconcelos) ocuparam o grande palco montado no "circo Massimo", revezando com dançarinas, capoeiristas e ritmistas.
O evento foi filmado por dois nomes conhecidos do cinema brasileiro, Leon Hirszman e Paulo Cézar Saraceni, com fotografia assinada por Dib Lufti -mas ficou todo esse tempo longe do público. As mortes de Hirszman e do grande agitador cultural italiano Gianni Amico, responsável pelo festival, aliadas a uma série de problemas judiciais e de verbas, acabaram retardando o lançamento do documentário "Bahia de Todos os Sambas", agora disponível em vídeo graças à RioFilme.
O resultado não chega a ser dos mais inspirados. Tem passagens tediosas, uma dose de macumba para turista, algumas deficiências de som e de qualidade. Mas é um ótimo registro histórico da performance de um grupo excepcional- Dorival Caymmi, João Gilberto, Batatinha, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé, Gal Costa, Nana Caymmi, Moraes Moreira, Paulinho Boca e o trio de Armandinho, Dodô e Osmar.
Para os amantes da música brasileira, para os mais jovens ou para quem gostaria de revisitar esses artistas, o filme é uma preciosidade.
É Gal, linda, cantando "Índia" com agudos incríveis, é Caetano vocalizando sua histórica versão de "Eu Sei Que Vou te Amar", é Gilberto Gil elétrico e serelepe. É também Caymmi (o "papa da Roma negra na Roma branca", como diz Caetano num simpático bate-papo) cantando com a filha Nana. E é, claro, João Gilberto, mais uma vez um capítulo à parte, insuperável, abrindo com "Estate" -naquele sotaque que amacia as angulosidades do idioma italiano- e passando por outras delícias, entre elas "Ela Era Seu Mundo".
O filme também é, para os fãs, uma oportunidade de ver artistas em situações nem sempre acessíveis, em conversas fora do palco, na preparação do show, no "backstage". Há algumas boas sequências paralelas, a melhor delas, talvez, um passeio de duas baianas por Roma. Vestidas a caráter, as duas belas negras vão caminhando e se divertindo com a idéia de montar uma banca de acarajé na capital italiana. "É a Bahia na Itália", diz uma delas. E a outra olhando em volta: "Mas parece mesmo".
Ao menos naquelas nove noites a Roma eterna ficou quase igual à Roma negra da Bahia.


Avaliação:




Filme: Bahia de Todos Sambas Produção: Brasil, 1983, 102 min Direção: Leon Hirszman e Paulo Cézar Saraceni



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