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DANÇA
A cargo da coreógrafa Eugenia Feodorova, apresentações ressaltam a importância do corpo de baile para a trama
"O Lago dos Cisnes" esbanja tradição e sotaque russo
INÊS BOGÉA
CRÍTICA DA FOLHA
Em cena uma nova produção do
balé mais conhecido de todos os
tempos: "O Lago dos Cisnes". A
remontagem ficou a cargo de Eugenia Feodorova, 79, russa que
chegou ao Brasil em agosto de
1954. Cinco anos depois, fez a primeira versão completa do balé no
Municipal do Rio de Janeiro. Daí
para a frente, o "Lago" marca toda
a história do Ballet Municipal.
Feodorova nasceu em Kiev, capital da Ucrânia. Formada no Kirov, iniciou sua carreira de bailarina como solista do teatro estatal
de sua cidade.
Teve sua carreira interrompida
pela Segunda Guerra; depois, voltou à cena na Europa ocidental.
Foi primeira bailarina da Ópera
de Liège (Bélgica) e do Ballet do
Scala de Milão. Lecionou em Madri e Paris, onde conheceu Dala
Achcar, que a convidou para trabalhar no Rio.
Não ficou restrita ao Theatro
Municipal. Nos anos 60, criou a
Fundação Brasileira de Ballet e se
apresentou em turnês com remontagens e novas criações. Tem
sua própria academia, por onde
passaram grandes nomes da dança brasileira.
Nessa remontagem de "O Lago
dos Cisnes", Feodorova busca
"manter-se fiel" ao legado de Marius Petipa (1818-1910) e Lev Ivanov (1843-1901), criadores da coreografia original, estreada em
1895. O "Lago" é um dos três balés
com música especialmente composta por Tchaikovski (1840-93).
Os outros dois, "A Bela Adormecida" (1890) e "O Quebra Nozes"
(1892) também se mantêm até hoje no repertório das grandes companhias.
"A cada três minutos se ouve
Tchaikovski no rádio, mundo
afora. É uma música acessível,
que agrada a todos", diz Feodorova, para explicar a permanência
do "Lago" no repertório.
A coreografia, de seu lado, "tem
forte identificação com o ser humano, independente de época
-os cisnes são apenas uma forma plástica de abordar o sentimento".
Papéis
Para as solistas, um grande desafio é dançar dois papéis, bem diferentes: Odette e Odile. "Odette é
um personagem lírico, com música "cantabile", mais sentimental, e
com os movimentos de braço representando o das asas. Para isso,
é preciso ter plasticidade e musicalidade natas. Já o cisne negro
pede outro tipo de bailarina, de
estilo heróico, com força e brilho
técnico. São os dois lados de um
ser humano -um branco e outro
negro. O cisne negro é lindo, mas
covarde, traidor."
Feodorova ressalta a importância do corpo de baile: "No "Lago"
quem resolve a trama é o corpo de
baile, não Odette, Odile, o príncipe ou o feiticeiro. É um balé sinfônico, em que a massa do corpo de
baile participa como um coro grego, comentando o que acontece.
Por isso é tão importante ter um
corpo de baile coeso. Formar um
bom corpo de baile, como o que
temos hoje, é como formar uma
orquestra sinfônica: não basta tocar um instrumento, é preciso um
amálgama com outros, para formar o conjunto".
Para ela, o corpo humano "é como um instrumento daquilo que
precisamos dizer no palco. O corpo deve estar treinado ao máximo. A dança dá felicidade e saúde
ao ser humano. Também causa
cansaço, claro". Da vida para a
dança e da dança para vida: poderia ser o moto de Eugenia Feodorova.
O LAGO DOS CISNES. Onde: Theatro
Municipal do Rio de Janeiro (praça
Floriano, s/nš, Centro, RJ, tel. 0/xx/21/
2262-3935). Quando: amanhã, às 20h, e
dia 10 (quinta), às 20h. Quanto: de R$ 10
a R$ 180.
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