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São Paulo, segunda-feira, 07 de julho de 2003

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DANÇA

A cargo da coreógrafa Eugenia Feodorova, apresentações ressaltam a importância do corpo de baile para a trama

"O Lago dos Cisnes" esbanja tradição e sotaque russo

INÊS BOGÉA
CRÍTICA DA FOLHA

Em cena uma nova produção do balé mais conhecido de todos os tempos: "O Lago dos Cisnes". A remontagem ficou a cargo de Eugenia Feodorova, 79, russa que chegou ao Brasil em agosto de 1954. Cinco anos depois, fez a primeira versão completa do balé no Municipal do Rio de Janeiro. Daí para a frente, o "Lago" marca toda a história do Ballet Municipal.
Feodorova nasceu em Kiev, capital da Ucrânia. Formada no Kirov, iniciou sua carreira de bailarina como solista do teatro estatal de sua cidade.
Teve sua carreira interrompida pela Segunda Guerra; depois, voltou à cena na Europa ocidental. Foi primeira bailarina da Ópera de Liège (Bélgica) e do Ballet do Scala de Milão. Lecionou em Madri e Paris, onde conheceu Dala Achcar, que a convidou para trabalhar no Rio.
Não ficou restrita ao Theatro Municipal. Nos anos 60, criou a Fundação Brasileira de Ballet e se apresentou em turnês com remontagens e novas criações. Tem sua própria academia, por onde passaram grandes nomes da dança brasileira.
Nessa remontagem de "O Lago dos Cisnes", Feodorova busca "manter-se fiel" ao legado de Marius Petipa (1818-1910) e Lev Ivanov (1843-1901), criadores da coreografia original, estreada em 1895. O "Lago" é um dos três balés com música especialmente composta por Tchaikovski (1840-93). Os outros dois, "A Bela Adormecida" (1890) e "O Quebra Nozes" (1892) também se mantêm até hoje no repertório das grandes companhias.
"A cada três minutos se ouve Tchaikovski no rádio, mundo afora. É uma música acessível, que agrada a todos", diz Feodorova, para explicar a permanência do "Lago" no repertório.
A coreografia, de seu lado, "tem forte identificação com o ser humano, independente de época -os cisnes são apenas uma forma plástica de abordar o sentimento".

Papéis
Para as solistas, um grande desafio é dançar dois papéis, bem diferentes: Odette e Odile. "Odette é um personagem lírico, com música "cantabile", mais sentimental, e com os movimentos de braço representando o das asas. Para isso, é preciso ter plasticidade e musicalidade natas. Já o cisne negro pede outro tipo de bailarina, de estilo heróico, com força e brilho técnico. São os dois lados de um ser humano -um branco e outro negro. O cisne negro é lindo, mas covarde, traidor."
Feodorova ressalta a importância do corpo de baile: "No "Lago" quem resolve a trama é o corpo de baile, não Odette, Odile, o príncipe ou o feiticeiro. É um balé sinfônico, em que a massa do corpo de baile participa como um coro grego, comentando o que acontece. Por isso é tão importante ter um corpo de baile coeso. Formar um bom corpo de baile, como o que temos hoje, é como formar uma orquestra sinfônica: não basta tocar um instrumento, é preciso um amálgama com outros, para formar o conjunto".
Para ela, o corpo humano "é como um instrumento daquilo que precisamos dizer no palco. O corpo deve estar treinado ao máximo. A dança dá felicidade e saúde ao ser humano. Também causa cansaço, claro". Da vida para a dança e da dança para vida: poderia ser o moto de Eugenia Feodorova.


O LAGO DOS CISNES. Onde: Theatro Municipal do Rio de Janeiro (praça Floriano, s/nš, Centro, RJ, tel. 0/xx/21/ 2262-3935). Quando: amanhã, às 20h, e dia 10 (quinta), às 20h. Quanto: de R$ 10 a R$ 180.


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