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ARTES PLÁSTICAS
Após processo de autenticação, quadro "Jovem Sentada ao Virginal" tem valor inicial de R$ 15 milhões
Pintura "privada" de Vermeer vai a leilão
TEREZA NOVAES
DO GUIA DA FOLHA
Depois do filme "Moça com
Brinco de Pérola", em cartaz em
São Paulo, a obra do pintor holandês Johannes Vermeer (1632-1675) volta à baila com o leilão da
tela "Jovem Sentada ao Virginal",
que acontece hoje na casa Sotheby's, em Londres.
É o primeiro trabalho do artista
a ser leiloado desde 1921. E seria
quase impossível a venda não ser
um evento raro, já que existem
apenas 36 pinturas de Vermeer de
autoria reconhecida. A autenticidade de "Jovem Sentada ao Virginal" (um instrumento de teclado
e cordas) só foi confirmada no começo deste ano. Pertencente aos
herdeiros do colecionador belga
de origem nobre Frédéric Rolin,
morto em 2002, o quadro (que
mede 25,2 cm por 20 cm) é o único do pintor em acervo privado.
O processo de reconhecimento
da autoria foi incentivado pelo diretor sênior do departamento de
desenhos e pinturas de mestres
antigos da Sotheby's, Gregory Rubinstein, a quem Rolin procurou
em 1993 em busca de ajuda para
descobrir a origem da pintura.
"Na época, a principal preocupação do barão Rolin era em relação à pesquisa para definir a autoria da pintura. Agora que a autenticidade foi totalmente aceita, a
venda é quase uma forma de ele
dizer ao mundo que sua fé na veracidade da obra não foi em vão",
disse Rubinstein à Folha.
Quando Rolin adquiriu o quadro, em 1960, de um colecionador
irlandês, sua autenticidade já era
contestada. Desconfiava-se que
"Jovem Sentada..." fosse uma das
falsificações produzidas pelo holandês Han van Meegeren logo
depois da Segunda Guerra.
Van Meegeren atuou durante
seis anos e vendeu sete telas falsas
até ser apanhado e julgado, em
1947. O caso motivou a desatribuição de outras pinturas conferidas ao mestre holandês, caso de
"Jovem Sentada...". O primeiro
passo do processo de reatribuição
foi a análise da composição dos
elementos retratados. Rubinstein
ficou "intrigado" pela pintura.
"Existia algo mágico nela e em algumas partes, em especial o tecido branco da saia, parecia ser exatamente como em outros quadros
de Vermeer."
Em seguida, vieram testes científicos dos materiais usados na fabricação dos pigmentos. Um estudo realizado por Libby Sheldon,
chefe do departamento de análise
de pinturas da Universidade de
Londres, apontou para uma coerência entre a técnica de Vermeer
e a utilizada no feitio da pintura.
Sheldon encontrou uma substância cara, chamada ultramarine, em várias partes da pintura. O
uso constante desse elemento é
marca de Vermeer, mas não era
praxe entre os artistas da época.
Por fim, a observação das tramas da tela por meio de exames
de raio-X acusaram uma grande
semelhança entre ela e o tecido
usado no quadro "Fazedora de
Laços", do acervo do Louvre, em
Paris. "Trabalhei dez anos incentivando a discussão acadêmica
sobre o quadro e reunindo um
conjunto de evidências levantadas por especialistas, que vieram a
confirmar a obra como um autêntico Vermeer", diz Rubinstein.
Com o processo encerrado, o
quadro chega ao leilão com preço
inicial de 3 milhões de libras (cerca de R$ 15 milhões). O mistério
em torno do quadro faz jus à obscura biografia de Vermeer. Apesar de ser o principal nome da escola de Delft (na Holanda), pouco
se sabe da vida do artista.
Os seus parcos dados biográficos advêm sobretudo dos registros da Igreja Católica: a data de
batismo, o casamento com a rica
Catarina, aos 20 anos, o nascimento dos filhos. Foi a partir daí e
da obra de Vermeer que a inglesa
Tracy Chevalier escreveu o livro
"Moça com Brinco de Pérola".
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